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Pré-Mercado: Há espaço para mais recuperação dos ativos brasileiros?

28 abr 2022, 8:17 - atualizado em 28 abr 2022, 8:17
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Recompra de ações da Vale? Nada mau, nada mau… | Fleabag (2016 – 2019)

Bom dia, pessoal!

Bons presságios vêm do exterior na manhã desta quinta-feira (28). Lá fora, os mercados asiáticos fecharam o dia em alta, acompanhando o bom humor dos futuros americanos, que estão eufóricos após bons números da Meta Platforms (dona do Facebook) e mais promessas de estímulos fiscais na China — as autoridades intensificaram as promessas de apoio econômico em meio aos lockdowns de combate à pandemia da Covid-19 (agora, temos a promessa de estabilizar o mercado de trabalho).

Na Europa, também verificamos bom humor dos ativos, apesar das ameaças de escalada da guerra na Ucrânia, depois de os russos terem bloqueado o envio de gás para a Bulgária e a Polônia. Aqui, no Brasil, a repercussão ainda se dá sobre os desafios inflacionários e fiscais. Pelo menos temos as boas notícias da Vale para digerirmos, as quais deverão ter um impacto bem positivo sobre o índice — o Ibovespa sofreu muito nos últimos dias e ontem marcou o início de uma possível recuperação.

A ver…

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E o anúncio de recompra caiu bem

No exterior, os ADRs da Vale subiram ontem (27) no after hour americano e continuam apresentando alta nesta manhã no pre-market de Nova York (alta de mais de 6%). Apesar de a companhia ter apresentado um lucro de US$ 4,4 bilhões no 1T22, queda de 18% na comparação anual (resultado abaixo do previsto), o que gerou otimismo foram duas coisas: i) o management falou sobre multiplicar por 5 vezes a produção total da companhia até 2024; e ii) anunciaram recompra de até 500 milhões de ações em 18 meses, o equivalente a 10% da empresa. 

As notícias da Vale devem impulsionar o mercado brasileiro para uma alta nesta quinta-feira, enquanto investidores aguardam o IGP-M de abril, que pode dar mais pistas sobre os próximos passos do BC (se vier muito acima do esperado, os juros poderão passar de 12,75% antes de encerrar o ciclo de aperto), e dados fiscais — o Tesouro Nacional divulga o resultado das contas do governo central de março e a Receita Federal divulga amanhã (29) o resultado da arrecadação de tributos federais em março de 2022. Ao fundo, ainda contamos com os dados do Caged (emprego e desemprego) de março.

Depois de muito sofrer, Meta finalmente tem um alívio

As ações da Meta (dona do Facebook) sobem mais de 15% nesta manhã (pre-market) depois de reportar lucros acima do esperado, apesar das receitas mais fracas do que o projetado. O número de usuários ativos diários no Facebook voltou a crescer no período, após uma queda impressionante no trimestre anterior, que fez com que as ações da Meta caíssem 26%.

Desde ontem, o S&P 500 conseguiu recuperar um nível técnico importante, em torno de 4.170 pontos, que tem sido um nível de resistência este ano. Com o resultado, o índice pode ter espaço para enveredar para uma recuperação, ainda que marginal. Contudo, ainda será importante acompanharmos a continuidade da temporada de resultados, bem como os dados de PIB, também previstos para hoje.

Outros nomes esperados para hoje incluem Amazon, Apple, Comcast, Eli Lilly, Gilead Sciences, Intel, Mastercard, McDonald’s, Merck e Twitter. Os destaques ficam para as Big Techs Amazon e Apple, mas o Twitter também estará sob os holofotes depois da aceitação do conselho da compra por Elon Musk — especula-se que o movimento tenha antecipado um trimestre ruim. A ver.

E o PIB americano?

Para hoje, os dados do PIB do primeiro trimestre dos EUA são devidos. A estimativa consensual é de uma taxa de crescimento anual com ajuste sazonal de 1,7%, uma forte desaceleração em relação aos 6,9% do quarto trimestre. Contudo, considerando que ainda é uma medida preliminar e não final, há chance de os números não refletirem a realidade, principalmente em um contexto de recuperação pós-pandêmica.

Investidores estarão mais concentrados na história que as linhas miúdas do PIB contam do que no avanço do número consolidado. Dois pontos são importantes: i) a demanda doméstica dos EUA ainda está se normalizando após o ano excepcional de 2021; e ii) com as economias da era da pandemia já gastas pelas famílias de baixa renda, os gastos do consumidor devem estar mais próximos dos níveis pré-pandemia. Tudo isso ajudará o mercado a medir a chance de recessão no futuro.

Anote aí!

Lá fora, nos EUA, além dos resultados corporativos e dos dados de PIB, os americanos ainda contam com pedidos de auxílio-desemprego da semana até 23/04. Na Europa, os investidores digerem a inflação de preços ao consumidor da Espanha e da Alemanha de abril (como o euro vem enfraquecendo, os preços das commodities importadas aumentará ainda mais) e o índice de sentimento econômico de abril da Zona do Euro. 

Por aqui, temos resultados de empresas como Gol, Embraer e Hypera, enquanto digerimos os números da Vale, divulgados ontem à noite. Em Brasília, temos a sessão do Congresso Nacional para analisar vetos presidenciais e acompanhamos os delegados da Polícia Federal, que fazem manifestação contra o governo por reajuste salarial. Na agenda, pesquisa sobre sucessão presidencial também é devida.

Muda o que na minha vida?

Afinal, por que a Alemanha não pode abandonar o gás russo? Desde o início da guerra na Ucrânia, a União Europeia já pagou mais de US$ 37 bilhões pelo fornecimento de energia russa, sendo que grande parte desse valor veio da principal economia do bloco, a Alemanha. O motivo, na verdade, é que o custo econômico é grande demais para parar de comprar imediatamente o produto, apesar da grande pressão internacional.

As autoridades do país informaram que um embargo ao gás russo levaria a Alemanha a uma recessão — em vez de a economia alemã crescer 3% este ano, ela encolheria 2%, representando uma das piores recessões no país desde a crise financeira de 2008. Isso acontece porque essa relação comercial não é de hoje.

Muito pelo contrário, aliás, ela remonta a 1970. Desde então, a Alemanha tornou-se ainda mais dependente do gás russo, pois acabou com outras fontes de energia, como nuclear e carvão, e não criou alternativas suficientes para substituí-las. 

Como as consequências seriam devastadoras, um embargo de gás imediato aparentemente está fora da mesa. Ainda assim, a Europa está tentando ser criativa para reduzir seu consumo de energia russa. Em breve, deveremos ter mais retaliações dos governos europeus à economia russa.

 Um abraço,

Jojo Wachsmann