Pré-Mercado: Estilo de negociação passivo-agressivo
Oportunidades do dia
“The only game in town”
Neste momento que o investidor estrangeiro olha a Bolsa brasileira como “the only game in town”, o agronegócio, que sempre foi a força motriz da nossa economia, é “the only game in Brazil”. Veja como investir no agro brasileiro e ganhar 2 presentes.
Bom dia, pessoal!
Nesta manhã, os mercados de ações asiáticos fecharam se recuperando de ontem (22), depois que Wall Street caiu na ansiedade sobre a autorização do presidente Vladimir Putin para enviar soldados russos ao leste da Ucrânia. Xangai, Hong Kong e Coreia do Sul avançaram, mas o mercado japonês estava fechado por causa de um feriado.
A Europa também é embalada pelo ritmo de recuperação, mas ainda está distante de recobrar as perdas de seus mercados neste início de 2022, com exceção da Bolsa inglesa, que sustenta uma alta de algo como 2% no ano. O movimento positivo está em linha com o que acontece nos EUA, onde os futuros também entregam alta nesta manhã.
O Brasil tem se descolado destacadamente da performance internacional. Ao menos hoje o contexto estrangeiro não é impeditivo para uma alta. Além disso, a agenda local é bastante carregada e deverá trazer sua própria leva de emoções.
A ver…
Alguém falou sobre a previsão de inflação?
O Senado manteve os projetos sobre combustíveis na pauta de hoje (23). Contudo, os líderes ainda buscam acordo e a possibilidade de adiamento não pode ser descartada. O tema é o de maior relevância neste início de ano para o Congresso, que pode definir ou não um grande impacto nas contas públicas em um ano eleitoral. Tais desdobramentos ainda não chegaram a fazer preço enfaticamente, mas há espaço para que o mercado preste atenção no debate de hoje.
Distanciando-se das discussões envolvendo a Ucrânia, o Brasil acompanha sua agenda local com bastante atenção, em meio à expectativa de entrega da prévia da inflação oficial de fevereiro, o IPCA-15, que poderá mostrar continuidade da aceleração da alta dos preços, em especial por conta dos combustíveis. Paralelamente, os investidores aguardam ansiosamente pela continuidade da temporada de resultados, com Gerdau e Petrobras agendadas para hoje, antes de Vale amanhã.
O tal território de correção
Na terça-feira (22), as ações dos EUA voltaram do feriado em queda, depois que a Rússia movimentou tropas para o leste da Ucrânia. A medida da Rússia trará problemas econômicos a Moscou, colocará os mercados de energia da Europa em turbulência e reduzirá o ímpeto da recuperação global.
Consequência disso foi que o S&P 500 esteve prestes a cair para seu território de correção pela primeira vez em dois anos — a última vez foi em 27 de fevereiro de 2020, em meio à pandemia. Uma correção é comumente definida pelos técnicos de mercado como uma queda de pelo menos 10% em relação a um pico recente.
A boa notícia é que a história sugere que o mercado tende a se recuperar depois que o benchmark amplo sofre uma correção. Na média, o índice apresenta uma alta de 0,7% na semana seguinte depois de fechar em território de correção, sendo que apresenta retorno positivo 12 meses depois do ocorrido em 65% das vezes (média de +9,3%).
E quanto às sanções…
Os EUA e seus aliados ocidentais sabiam quão sérias seriam as consequências de uma invasão russa — tanto para Moscou quanto para eles mesmos. Uma desaceleração na Europa, a maior potência comercial do mundo, é uma possibilidade real — e teria efeitos cascata em toda a economia global.
Haverá agora uma incerteza crescente sobre o contexto geopolítico, um grande golpe na confiança dos consumidores e das empresas e sérias dificuldades para as companhias mais envolvidas no comércio ou investimento na Rússia.
Uma das principais preocupações dos investidores é que os EUA e outros países possam impor sanções às exportações russas de petróleo. O presidente Joe Biden falou na tarde de terça-feira e, pelo menos por enquanto, ainda não anunciou nenhuma sanção ao mercado de óleo e gás — talvez porque já antecipe as consequências.
Entre os movimentos realizados pelos ocidentais, destacam-se: i) sanções a duas grandes instituições financeiras russas; ii) bloqueio da capacidade do país de emitir dívida soberana no Ocidente; e iii) proibição de novos investimentos, comércio e financiamento dos EUA em regiões separatistas da Ucrânia. Novas sanções às elites russas deverão entrar em vigor hoje.
Anote aí!
A agenda local está bastante cheia. Além do IPCA-15 de fevereiro, ainda contamos com dados de conta corrente, os números dos investimentos diretos e a arrecadação de janeiro (relatório da dívida pública também está marcado para ser apresentado hoje), que deverá crescer 16%. Ainda esperamos a divulgação do fluxo estrangeiro, pelo BC, que deverá reforçar a ideia de entrada de recursos internacionais. Lá fora, teremos fala de autoridades monetárias europeias, na Inglaterra e na Zona do Euro.
Muda o que na minha vida?
Os preços do petróleo subiram com a preocupação com uma possível interrupção no fornecimento russo. O Brent, contrato de petróleo negociado em Londres e referência global para o mercado (inclusive para a Petrobras), chegou a flertar com a casa dos US$ 100/barril.
Por enquanto, é difícil mensurar os impactos macroeconômicos das sanções aplicadas até aqui — o mercado de óleo e gás ainda não foi afetado diretamente. Contudo, o chanceler alemão Olaf Scholz suspendeu o processo de certificação para o gasoduto Nord Stream 2 depois que a Rússia reconheceu regiões controladas por separatistas no leste da Ucrânia. Já é uma sinalização de que a Europa e os EUA consideram interferir neste segmento energético se for necessário.
Por enquanto, as reações do mercado financeiro estão mais relacionadas ao medo de ações futuras dos governos do que ao preço das ações atuais, que ainda não devem ter um impacto econômico tão grande.
Sobre o petróleo, o aumento do preço do barril eleva as pressões inflacionárias no curto prazo, o que não impede que a inflação caia ainda este ano (é a variação no preço do petróleo, não o nível em si, que importa para a inflação). Para o Brasil, se por um lado tal alta é ruim para os consumidores de combustíveis, o aumento do preço do petróleo é positivo para as nossas exportações.
Um abraço,
Jojo Wachsmann