BusinessTimes

Pré-Mercado: Esperando um fato novo quando a sexta-feira cai no dia 13

13 maio 2022, 8:20 - atualizado em 13 maio 2022, 8:24
Investidores sedentos por fatos novos esperam de braços cruzados | Sexta-Feira 13 (1980)

Bom dia, pessoal!

Lá fora, os mercados de ações asiáticos e os futuros americanos sobem em meio a um momento de calma nos mercados globais, depois que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, novamente recuou sobre as especulações de aumentos mais agressivos nas taxas de juros (apesar de pressões de várias frentes, Powell parece firme nos passos apresentados na última resolução do comitê).

Ao final do pregão do outro lado do mundo, Japão, China e Hong Kong ajudaram o índice de ações da Ásia a subir mais de 1%. Enquanto isso, os contratos futuros dos EUA e as Bolsas europeias avançam nesta manhã, mesmo depois da sessão volátil do S&P 500 ontem (12) — a volatilidade recente do mercado não reflete necessariamente a realidade econômica atual, mas, sim, a percepção futura dos investidores.

Para nós, depois de dois dias de alta, podemos voltar a acompanhar o tom positivo internacional, apesar da poluição de resultados corporativos a serem digeridos. Ao menos os preços do petróleo subiram novamente para cima de US$ 108 por barril — a guerra continua e autoridades chinesas negam que a cidade de Pequim será fechada. Um dia bom para as commodities pode se traduzir em um dia bom para o Brasil.

A ver…

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Agenda esvaziada e desdobramentos políticos

Sem muitos gatilhos para o dia, especificamente, os investidores brasileiros podem se concentrar na temporada de resultados, com muitos números a serem digeridos ao longo do pregão de hoje. No cenário político, alguns fatos chamam a atenção. O primeiro deles é o encaminhamento dos pedidos de privatização da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo (PPSA) à Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos para iniciar os estudos.

Após a reunião com o Ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, o ministro da Economia, Paulo Guedes, garantiu que irá dar andamento aos pedidos — em um eventual segundo mandato de Bolsonaro, deveremos ter mais privatizações de grande porte, como a dos Correios e, talvez, da própria Petrobras. A notícia, que deverá encontrar grande resistência em Brasília, pode servir para animar o dia do mercado.

Enquanto isso, Bolsonaro afirmou ontem que espera fazer mudanças para reduzir o preço do combustível, mas sem interferir na Petrobras. Criticando novamente o lucro da estatal, o presidente comentou, inclusive, a saída de Bento Albuquerque do Ministério de Minas e Energia, agradecendo ao ex-ministro pelo trabalho exercido na pasta — vale lembrar que foi Albuquerque que conduziu o trabalho de gestão de crise durante o problema hídrico do ano passado.

Os dados de serviço vieram pegando fogo no Brasil

Considerando os dados de inflação divulgados nesta semana, sabemos que a alta dos preços não está mais contida à cadeia de suprimentos, tanto no Brasil quanto nos EUA. Naturalmente, as empresas vêm acumulando seus estoques, o que ajuda a aliviar a inflação dos bens. Contudo, os preços no setor de serviços estão subindo à medida que os consumidores retomam suas viagens e outras atividades de lazer.

Ou seja, essa é a história da inflação para se preocupar agora: a inflação dos serviços básicos voltou a subir aqui e lá fora (nos EUA, por exemplo, os serviços são uma entrada muito maior do que os bens ao calcular o Índice de Preços ao Consumidor). No Brasil, prova disso foram os dados de serviço de ontem. O indicador marcou crescimento de 1,7% na comparação mensal (bem acima das expectativas), acumulando alta de 9,4% só neste ano e de 13,6% em 12 meses.

Reflexões americanas

Ontem (12), tivemos preços ao produtor nos EUA. O índice subiu 11% na comparação anual em abril, ficando um pouco abaixo da taxa de 11,2% registrada em março, mas ainda acima da estimativa do mercado de 10,7%. Sabemos que a inflação até pode ter atingido o pico, o que não muda o fato dela ainda estar bastante elevada.

Os custos crescentes para os produtores são uma preocupação no curto prazo porque reduzem as margens de lucro das empresas, enquanto no médio prazo podem se transformar em inflação ao consumidor se as empresas aumentarem seus preços (mais de 70% das empresas americanas, por exemplo, repassaram o aumento de custos aos seus consumidores).

Mais inflação seria o combustível para aumentos maiores e mais rápidos nas taxas de juros do Federal Reserve, que pesariam sobre os múltiplos de valuation das ações e poderia levar a economia a uma recessão. Este movimento negativo sobre as ações tem sido visto desde o começo do ano.

Vemos que ainda há muito espaço para cair aos níveis extremos vistos durante o último sell-off de março de 2020, mas a forte queda nas ações nas últimas semanas também pode começar a atrair compradores — hoje seria um momento interessante para testarmos tal hipótese: de acordo com a Dow Jones Market Data, o S&P 500 subiu em quatro sextas-feiras 13 consecutivas desde 2019. 

Anote aí!

Em dia de agenda esvaziada, temos digestão de resultados corporativos por aqui, além de divulgação de pesquisa sobre sucessão presidencial e assembleia dos demais servidores federais, que poderá resultar em mais paralisação no dia 17 — servidores do Tesouro Nacional devem decidir hoje sobre a entrega de cargos de chefia.

Nos EUA, contamos com o índice de confiança do consumidor para maio, com o mercado prevendo uma leitura de 63,1 (dois pontos a menos que em abril). Falas de autoridades monetárias são aguardadas, como a do presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, e da presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester.

Muda o que na minha vida?

Cada vez mais o mercado tenta precificar uma recessão. Se este ano o tema principal é a inflação e o aperto monetário, a recessão pode ser o tópico mais debatido de 2023 e 2024. Afinal, qualquer grande choque de preços relativos, como o que temos visto, faz com que os bancos centrais lutem com problemas conflitantes: ou combatemos a inflação de preços ou enfrentamos a desaceleração do crescimento.

A definição técnica de inflação é a de “dois trimestres de PIB negativo”, o que não necessariamente nos dirá alguma coisa em um ano tão atribulado (problemas de comparação depois da recuperação pós-pandêmica e quebra na cadeia de suprimentos). Por isso, uma reflexão de maior profundidade deverá chegar ao conceito de “um período prolongado de crescimento significativamente abaixo da tendência”.

Considerando esta segunda definição, isso parece improvável no curto prazo. As empresas não querem demitir trabalhadores, fazendo com que as famílias sejam, portanto, menos propensas a cortar gastos para aumentar a poupança por precaução. Os mercados subestimam repetidamente a capacidade das pessoas de se adaptarem em uma crise; por isso, não devemos ter uma recessão monstruosa no futuro.

Enquanto no curto prazo os mercados podem reagir aos ruídos que quiserem, no longo prazo a economia dita a direção dos ativos. No final do dia, efeitos de base e normalização da demanda significam que a inflação deve desacelerar. Ou seja, a inflação deve cair e a desaceleração do crescimento não deve ser tão alarmante. 

Um abraço,

Jojo Wachsmann