Colunista Vitreo

Pré-Mercado: Em terra de Copom, quem dita a ata é rei

08 fev 2022, 9:56 - atualizado em 08 fev 2022, 9:56
Todos atentos à história que a ata do Copom tem a contar / O Massacre da Serra Elétrica (1974)

Bom dia, pessoal!

No exterior, os mercados asiáticos apresentam desempenho misto, sem uma direção única, ainda em processo de normalização da Bolsa chinesa depois de tantos dias fechada por conta do feriado de Ano Novo Lunar.

A Europa, por sua vez, deixa mais evidente o otimismo com o desempenho desta manhã. Por lá, os mercados sustentam alta, apesar do ruído geopolítico ainda elevado na fronteira da Ucrânia.

O mesmo pode ser observado nos futuros americanos, que conseguem apresentar performance positiva, apesar da volatilidade recente dos índices — a temporada de resultados segue acontecendo.

O Brasil pode acompanhar o ritmo global, mas terá que lidar com suas próprias questões hoje em meio à entrega da ata do Copom, a qual poderá dar mais detalhes sobre os próximos passos do BC.

A ver…

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Até onde vai o aperto monetário brasileiro?

Hoje, o Banco Central divulgará a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em que os membros decidiram aumentar a taxa Selic de 9,25% para 10,75% ao ano, em continuidade ao processo de aperto monetário para controlar a inflação.

O documento poderá dar mais detalhes para o mercado formar sua expectativa para os próximos passos da autoridade — atualmente, espera-se mais um ajuste de 100 pontos-base no próximo encontro do BC.

A grande dúvida é se o ciclo de aperto vai até a reunião de março (dias 15 e 16) ou se continuará mais um pouco.

Fora o ambiente predominantemente pautado por política macroeconômica, os investidores também acompanham o balanço do Bradesco, depois do fechamento de mercado, que pode ensejar cautela com o setor durante o pregão depois do resultado abaixo do esperado de Santander na semana passada.

Em Brasília, acompanhamos a sessão no Congresso Nacional para analisar vetos presidenciais, enquanto o presidente Bolsonaro participa de Ato de Liberação das Águas do Rio São Francisco para o Estado do Ceará.

Paralelamente, o Tribunal Superior Eleitoral deve homologar a criação do União Brasil, resultado da fusão de DEM e PSL, criando o maior partido político do Brasil.

Volatilidade à espreita

Nos EUA, os investidores se dividem entre aqueles que acham que o pior da volatilidade já passou e outros que acreditam que ainda há mais correção por vir.

O primeiro grupo entende que o atual sentimento baixista arrefecerá em breve, uma vez que algumas das turbulências esperadas nos mercados para 2022 já foram precificadas de uma só vez no início do ano.

De fato, há um sentimento pessimista no ar.

A incapacidade do mercado de precificar o aperto monetário do Fed e antecipar corretamente os dados de inflação e do mercado de trabalho, além das reações ruins das ações aos resultados do quarto trimestre (47% das empresas do S&P 500 que os divulgaram até agora viram os preços de suas ações caírem 1% ou mais no pregão de um dia imediatamente após os resultados), apesar da entrega saudável dos lucros, ilustram o sentimento baixista no momento.

O que mais tem gerado tensão é a possibilidade de aumentos dos juros.

O pivô de dovish (relaxado) para uma política mais hawkish (contracionista) nos últimos meses, em especial nas últimas semanas, evidencia que estamos deixando um ponto de liquidez extrema, movimento que ainda não consegue ser bem capturado pelos agentes de mercado.

Os dados de inflação da semana são muito importantes por isso.

Entre tensões monetárias e geopolíticas

Em discurso ontem (7), a presidente do BCE, Christine Lagarde, deu mais detalhes sobre o tom utilizado na semana passada, notadamente mais hawkish do que verificado em outros encontros.

Dessa vez, a presidente da autoridade enfatizou a necessidade de mudanças graduais na política monetária, até mesmo porque as taxas de juros podem fazer pouco para impactar o mix atual da inflação europeia, bastante afetada pelos preços de energia, hoje impactados pela questão com a Rússia.

Sobre este último tema, os EUA e a Alemanha parecem discordar sobre se o gasoduto Nord Stream 2 seria afetado no caso de um conflito na Ucrânia — o presidente Biden parece desejar barrar completamente o projeto para pressionar os russos, mas os desdobramentos podem ser péssimos para o mercado de energia europeu.

]Ontem, o presidente francês se reuniu com o presidente russo para tratar das possíveis desescaladas de tensões, mas não parece ser o caso.

Anote aí!

Na Europa, os dados de cartão de crédito do Reino Unido são digeridos pelo mercado, depois de terem indicado gastos mais lentos em janeiro (parte disso está relacionada à pandemia).

Ainda na Zona do Euro, a produção industrial espanhola e as vendas no varejo italiano também são acompanhadas, mas possuem caráter mais secundário.

Nos EUA, a pesquisa de opinião de pequenas empresas está prevista para ser entregue hoje, podendo dar mais sinais sobre o sentimento do pequeno empresário americano. A Balança Comercial e os estoques de petróleo também fazem parte do cronograma por lá.

No Brasil, o grande assunto do dia é a ata do Copom. Teremos também resultados corporativos para acompanharmos, como do Bradesco, e dados secundários de inflação, como o IPC-S da 1ª quadrissemana de fevereiro.

Muda o que na minha vida?

Enquanto o mercado financeiro discute o aperto monetário, avançam as discussões nos bastidores sobre moedas digitais. Recentemente, o Federal Reserve finalmente lançou um artigo há muito esperado discutindo os prós e contras de uma potencial moeda digital do banco central dos EUA.

Embora o documento de 40 páginas não se posicione sobre nenhuma política específica, ele abrirá a discussão entre o banco central e as partes interessadas, além de solicitar comentários públicos.

Algumas vantagens da utilização dos CBDCs incluem opções de pagamento mais rápidas e seguras, embora riscos como a proteção da privacidade e estabilidade financeira tenham que ser abordados.

A diferença dessas moedas para o dinheiro eletrônico usual reside no fato de que, quando você deposita dinheiro em uma conta bancária, a entidade comercial assume a responsabilidade pelo valor.

O dinheiro é então mantido em formato eletrônico e pode ser usado em várias plataformas, mas o dinheiro ainda está sendo retido e rastreado por um provedor de banco comercial.

No caso das moedas digitais, o governo é a contraparte e assume a responsabilidade pelo dinheiro, enquanto a estrutura pode ser muito diferente de uma instituição comercial; ou seja, uma moeda digital do banco central é uma moeda digital emitida por um banco central, e não por um banco comercial.

Gradualmente, veremos mais iniciativas ao redor do mundo sobre o tema, acelerando a transformação financeira global e dinamizando as relações comerciais.

Um abraço,

Jojo Wachsmann