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Pré-Mercado: É tudo ou nada para a aceleração da inflação americana

10 fev 2022, 8:56 - atualizado em 10 fev 2022, 8:56
Quem realmente manda nos mercados: inflação americana dá as caras | O Poderoso Chefão Parte II (1974)

Bom dia, pessoal!

Os mercados internacionais têm mais uma manhã positiva, dando continuidade ao movimento otimista verificado na quarta-feira (9). Na Ásia, por exemplo, as ações terminaram o pregão predominantemente em alta, acompanhando a dança de recuperação ocidental.

A Zona do Euro também sustenta viés altista nesta quinta-feira (10), pelo menos por enquanto, ainda que de maneira mais tímida do que ontem. Os futuros americanos, por sua vez, em compasso de espera pelo dado de inflação ao consumidor de janeiro, corrigem levemente.

O Brasil pode seguir a tendência internacional, ainda refém da avaliação de preços dos EUA. Os investidores também aguardam o relatório mensal de petróleo da Opep, que poderá gerar volatilidade no mercado de commodities — há desdobramentos sistêmicos para os ativos brasileiros.

A ver…

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A digestão de juros mais altos

Depois de uma ata do Comitê de Política Monetária (Copom) levemente mais hawkish (contracionista) do que o esperado na terça-feira (8), o mercado local teve que iniciar um ajuste de suas expectativas para um ciclo de aperto mais puxado. Ontem, dois fatores adicionais contribuíram para tal movimento.

O primeiro deles foi a inflação (IPCA) de janeiro, que, mesmo tendo vindo em linha com as expectativas (+0,54% na comparação mensal versus mediana de +0,55%), registrou uma aceleração no acumulado de 12 meses para 10,38% dos 10,06% registrados ao final de dezembro. A continuidade dos dois dígitos assusta um pouco os investidores.

Em segundo lugar, a fala do diretor do BC, Bruno Serra, de que o aperto se estenderia “por um par de reuniões”, de modo a ancorar as expectativas de inflação para 2023, fez com que o mercado entendesse um final de ciclo não em março, mas em junho, potencialmente acima dos 12% ao ano na Selic terminal.

A reação foi de cautela, principalmente em meio às expectativas do relatório de produção da Petrobras (que veio bom, no final das contas) e à percepção negativa com o setor bancário, depois de um resultado frustrante do Bradesco. Para hoje, além da continuidade da temporada de resultados, ainda contamos com o relatório de produção da Vale para o quarto trimestre do ano passado, que pode gerar volatilidade.

A saída para a questão dos combustíveis

Atualmente, temos quatro propostas no Congresso sobre a questão dos combustíveis.

A primeira delas (a mais problemática) é a PEC “Kamikaze”, que tramita no Senado e poderá ter um impacto fiscal da ordem de R$ 100 bilhões. A segunda (está na Câmara) reduz os impostos sobre combustíveis em 2022 e 2023, com impacto de R$ 50 bilhões nas contas públicas.

A terceira (na Câmara também), por sua vez, propõe uma desoneração sobre o diesel, tirando R$ 18 bilhões do Orçamento. Por fim, em quarto lugar, temos a proposta pela conta de compensação com o uso de dividendos da Petrobras e imposto sobre exportações. Por ora, a proposta pela conta de compensação é a mais apreciada entre diferentes partes.

Não é necessário dizer que quanto maior o impacto fiscal, pior para o mercado brasileiro, que já sofreu bastante ao longo do segundo semestre do ano passado com temor fiscal. Ontem, a informação de que as propostas com maior impacto fiscal não teriam sido bem recebidas pelo Congresso gerou expectativas positivas de que os parlamentares possam caminhar para uma saída razoável.

Acompanharemos os desdobramentos dessa novela nas próximas semanas. Contanto que o impacto seja pequeno e não haja interferência sobre a Petrobras, os ativos devem ficar bem comportados, ao menos em um primeiro momento. 

O pulo do gato morto

Teriam sido os últimos dias de alívio no mercado americano apenas um “dead cat bounce” (pulo do gato morto, em tradução literal)? Isto é, apenas uma alta artificial em meio às correções, sem um efeito prático estrutural (em um segundo momento, a lógica negativa volta para os ativos).

Bem, é o que poderemos descobrir hoje, com a inflação de preços ao consumidor dos EUA para janeiro. O número será grande, quase certamente o maior desde 1982, com possivelmente uma alta de 7,3% em 12 meses, segundo a mediana das expectativas.

Se a alta anual do índice de preços ao consumidor ficar acima do consenso, então as expectativas se elevarão rapidamente de que o Federal Reserve precisará aumentar as taxas em 50 pontos-base, em vez de 25 pontos-base, em sua próxima reunião, em março.

Ou seja, um número de inflação quente de alarme de incêndio provavelmente afetaria novamente o mercado, que só há pouco tempo se acalmou com o surgimento de um Fed recentemente hawkish. Não apenas isso, mas uma precificação de altas adicionais, em complementaridade às quatro precificadas hoje, também pode ter seu impacto sobre as Bolsas em nível global.

Anote aí!

Lá fora, na Europa, os investidores ficam com a fala do economista-chefe do BCE, Philip Lane, que poderá dar mais detalhes sobre a condução da política monetária na Zona do Euro. Adicionalmente, a União Europeia publica hoje suas previsões econômicas e pode gerar apreensão sobre os mercados. Nos EUA, além da inflação ao consumidor, que deve subir para 7,3% no acumulado de 12 meses, contamos com pedidos de auxílio-desemprego e falas de presidentes regionais do Fed.

No Brasil, destaque para a continuidade da temporada de resultados (Itaú depois do fechamento de hoje deve agitar os investidores), a divulgação do relatório de produção da Vale e o volume de serviços de dezembro. Adicionalmente, a Confederação Nacional da Indústria divulga o Índice de Confiança do Empresário Industrial. Pesquisa de sucessão presidencial e negociação para a formação de federação fazem parte da pauta política para as eleições.

Muda o que na minha vida?

O gasoduto Nord Stream 2, ao norte da Alemanha, pode ser a chave para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Apenas para recapitular, as tensões na região se elevaram desde o final de janeiro, com os russos posicionando 100 mil soldados na fronteira ucraniana, alimentando temores de uma invasão. Em resposta, os EUA e seus aliados já debatem restrições comerciais (sanções) à Rússia.

No início da semana, porém, em tratativas com o novo chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, o presidente americano, Joe Biden, indicou que o Nord Stream 2, um gasoduto que transporta gás da Rússia para a Alemanha, seria fechado se a Rússia invadisse a Ucrânia (tais exportações representam 30% da economia da Rússia).

O problema complementar?

Se os EUA impuserem sanções econômicas, a Rússia poderá retaliar fechando todas as suas exportações de combustível. Como a Rússia fornece mais de um terço do gás natural consumido pela União Europeia, os preços dos combustíveis em toda a Europa podem aumentar, pressionando ainda mais a inflação. Ou seja, se houver uma guerra comercial, outras indústrias globais provavelmente também serão afetadas.

Ainda assim, o Nord Stream poderá se tornar o centro da maior sanção de todos os tempos (se a Alemanha concordar). O mercado das commodities energéticas em nível global seria afetado, com preços de petróleo potencialmente mais altos e do gás também. O Brasil sentiria os impactos, o que pode fazer com que as renúncias fiscais do governo de nada sirvam para combater a pressão de preços.

Um abraço,

Jojo Wachsmann