Pré-Mercado: É inflação atrás de inflação
Bom dia, pessoal!
Lá fora, os mercados de ações asiáticos acompanharam o humor ocidental de ontem (11) em seu pregão desta quarta-feira, fechando em alta depois que o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, emitiu um comunicado menos hawkish do que o esperado.
Xangai, Tóquio, Hong Kong e Sydney avançaram. Na agenda, os preços ao consumidor e produtor chinês desaceleraram, com taxas de inflação abaixo do esperado.
O movimento possibilita que as últimas políticas mais frouxas do BC chinês sejam mantidas por mais tempo, o que é positivo para ativos de risco.
Depois de digerir ontem os dados de inflação brasileiros, os investidores domésticos olham para fora mais uma vez caçando por preços.
Hoje, os EUA divulgam o índice de preços ao consumidor de dezembro, que pode registrar alta anual de 7%.
Surpresas na inflação poderiam abalar o otimismo criado ontem a partir da fala de Powell, que corrigiu os exageros dos mais pessimistas.
Na expectativa para isso, os mercados europeus amanheceram em alta, acompanhados pelos futuros americanos.
A ver…
RCN, o Sr. Negociação
As negociações com os servidores para evitar paralisações fracassaram miseravelmente.
Após reunião com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) passou a ameaçar uma greve “por tempo indeterminado” pelo fato de não ter havido proposta de reajuste (está mantida a paralisação na próxima terça-feira, dia 18).
Para não entrar em greve a partir de fevereiro, a categoria pede nova reunião com a apresentação de uma proposta de reajuste.
O tema chama a atenção e é um dos pontos de estresse do panorama fiscal para 2022 (não é a única ala pedindo reajuste).
Enquanto isso, entra em vigor hoje (12) o reajuste da gasolina e do óleo diesel para as distribuidoras anunciado pela Petrobras.
A gasolina ficará R$ 0,15 mais cara (alta de 4,8%), enquanto o diesel subirá R$ 0,27 (mais 8%).
A notícia foi positiva para a Petrobras, que subiu no pregão de ontem, mas negativa para quem tem acompanhado a inflação.
Ontem, o IPCA registrou 10,06% em 2021, o pior resultado desde 2015, durante o governo Dilma, quando o índice alcançou 10,67%.
Veio acima do esperado e não mostra sinais de arrefecimento no curto prazo. É provável que o alívio venha somente a partir do segundo semestre, o que aponta para outro estouro de meta.
Digestão de Powell na espera de dados de inflação
Antes do início da temporada de resultados, que começa lá fora no final desta semana, as Bolsas americanas seguem focadas em inflação e política monetária.
Ontem (11), no Capitólio, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, respondeu às perguntas do Comitê Bancário do Senado, que estava apreciando sua renomeação como presidente do banco central para mais um mandato.
Apesar de não querer antecipar o próximo Fomc, Powell se permitiu dar alguns sinais interpretados como mais suaves do que o esperado pelo mercado, principalmente depois da ata da semana passada.
Desde a reunião de dezembro do Comitê Federal de Mercado Aberto, o discurso da autoridade vinha em uma crescente hawkish (contracionista), tendo seu auge em termos de percepção, pelo menos até agora, na quarta-feira passada (5), com a divulgação da ata do último encontro dos membros do Fed.
No comentário de ontem, porém, Powell aliviou na margem o entendimento da inflação, que deverá desacelerar, e disse que a autoridade tem tempo para discutir as reduções de balanço.
Não houve surpresas em sua fala, mas ela acabou sendo encarada como menos hawkish do que as últimas comunicações.
Depois da maior alta em 25 anos da inflação de preços ao consumidor da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), investidores acompanham a inflação americana de hoje, que poderá confirmar ou não o discurso de ontem de Powell.
O mercado prevê um aumento de 7,1% em 2021, após um aumento de 6,8% em dezembro (comparação anual), o ritmo mais rápido desde 1982.
O núcleo do IPC, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve saltar 5,4%, meio ponto percentual a mais do que em novembro (maior desde 1991).
Johnson contra a parede
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, fará uma pausa em sua agenda para responder a perguntas no parlamento.
O tema? Denúncias acerca de sua participação em mais uma festa em pleno lockdown no Reino Unido, em maio de 2020 — os convites teriam sido enviados para 100 pessoas.
Já havia denúncias anteriores ligadas a uma festa que teria acontecido no Natal de 2020. As notícias provocaram uma enxurrada de críticas ao premiê, que burlou suas próprias regras.
Com a imagem arranhada, o tema é a cereja do bolo de uma série de escândalos que cercam seu governo, tendo não mais de dois terços do eleitorado desejando sua renúncia (é difícil que o movimento aconteça, mas não impossível).
Alternativamente, o partido conservador poderá desafiá-lo pela liderança também.
Contudo, é improvável que qualquer mudança de primeiro-ministro signifique uma mudança de direção política, então os mercados provavelmente não se importarão muito.
O favorito dentro do partido conservador para assumir seu lugar é Rishi Sunak.
Anote aí!
Por aqui, está prevista a divulgação da pesquisa do banco Genial/Quaest sobre a sucessão presidencial.
Além disso, depois do fracasso de ontem, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem agenda importante com eventos junto ao Banco de Compensações Internacionais (BIS) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Entre os dados, destaque para o IPC da primeira quadrissemana de janeiro e o fluxo cambial semanal.
Lá fora, além da inflação, o mercado acompanha também a divulgação do livro bege do Fed pela primeira de oito vezes este ano.
O relatório resume as condições econômicas atuais dos 12 distritos do Federal Reserve.
Muda o que na minha vida?
O atual aumento de casos de coronavírus causados pela ômicron está “provavelmente” atingindo o pico neste momento em alguns pontos da Costa Leste dos EUA, como Nova York, Washington e Flórida, mas outras regiões ainda têm algumas semanas pela frente.
O país registra ainda mais de 700 mil casos na média móvel de sete dias, um aumento de 279% nas últimas duas semanas. Ao menos por enquanto, porém, o número de casos, apesar de preocupante, não é acompanhado por óbitos.
Ainda assim, embora menos casos de Covid exijam hospitalização, os casos aumentaram substancialmente.
Muitos hospitais ao longo da Costa Leste atingirão ou superarão seus totais da primeira onda de infecções por causa da velocidade da propagação (uma taxa de hospitalização menor ainda pode ser relevante em números absolutos se o número de infectados cresce exponencialmente).
Estima-se que a evolução atual atingirá o pico em momentos diferentes em lugares diferentes nas próximas semanas, em linha com o que aconteceu na África do Sul e no Reino Unido. Já em fevereiro, espera-se números muito menores.
Naturalmente, as pessoas provavelmente precisarão de uma quarta dose de vacina após as duas doses iniciais e um reforço.
Um abraço,
Jojo Wachsmann