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Pré-Mercado: E essa inflação que não para de subir

11 fev 2022, 8:52 - atualizado em 11 fev 2022, 8:52
O tamanho do efeito da política monetária frente à inflação | O Castelo Animado (2004)

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Bom dia, pessoal!

Lá fora, as ações caíram nesta sexta-feira (11) na Ásia após o processo de realização em Wall Street ontem, estimulado pelas notícias de que a inflação dos EUA saltou 7,5% em janeiro na comparação anual, o que aumentou as expectativas de que o Federal Reserve precisará agir com força para esfriar a economia (mais juros).

Na Europa, o sentimento é o mesmo, contaminando a performance internacional de maneira geral — os futuros americanos também caem, mesmo depois das quedas registradas ontem.

O Brasil tem conseguido se descolar desse sentimento, envolvido por uma entrada de recursos estrangeiros e beneficiado pelo movimento de rotação setorial em direção ao que está descontado. Apesar de sermos impactados pelo mau humor gringo, devemos reagir principalmente aos resultados do Itaú (importante do ponto de vista sistêmico) e ao relatório de produção da Vale.

A ver…

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Avaliando as novas informações corporativas

No exterior, nesta manhã, as ADRs do Itaú sobem mais de 7% no pre-market depois que o banco surpreendeu positivamente o mercado. A instituição lucrou R$ 7,16 bilhões no quarto trimestre, um crescimento de 32% frente ao mesmo período do ano passado e acima da mediana das expectativas, que apontavam para algo em torno de R$ 6,8 bilhões. Com uma receita totalizando R$ 42 bilhões no consolidado do ano, o lucro líquido avançou para R$ 26,88 bilhões em 2021 — o retorno sobre o patrimônio (ROE) foi parar em R$ 20,2% no ano, mais de 4 pontos percentuais acima do final do ano passado.

Depois dos resultados do Santander e do Bradesco, que decepcionaram os investidores, os números do Itaú servem de música para nossos ouvidos, devendo ter um impacto sistêmico relevante no pregão de hoje devido ao grande peso do setor no índice. Por outro lado, a Vale ameaça um pouco este desempenho, depois de ter frustrado as projeções do mercado com seu relatório de produção do ano passado (a produção de minério em 2021 ficou no piso do guidance (315 milhões a 320 milhões de toneladas). A companhia reiterou o guidance de produção de 320 milhões a 335 milhões de toneladas em 2022; contudo, mesmo assim pode ter um desempenho aquém hoje.

O Brasil tem conseguido se distanciar dos temores estrangeiros, apesar de um início de semana complicado com uma ata do Copom mais hawkish e falas de autoridades duras, indicando uma Selic de mais de 12% ao final do ciclo. O mercado brasileiro, além de política monetária, inflação e resultados corporativos, também fareja dados econômicos. Hoje contamos com a divulgação pelo Banco Central do resultado do IBC-Br (prévia do PIB) de dezembro. Se vier acima do esperado, assim como os dados de serviços ontem (10), podemos ter mais um gatilho positivo para a Bolsa hoje.

Os medos inflacionários

Ontem, os dados de inflação vieram quentes, elevando as chances de aumentos mais rápidos ou maiores das taxas de juros do Federal Reserve. Consequência disso foi que os rendimentos dos títulos subiram e as ações caíram. O índice de preços ao consumidor de janeiro mostrou preços subindo 7,5% em relação ao ano anterior, a leitura mais alta desde o início da década de 1980 e acima do esperado — o dado-núcleo, que exclui itens mais voláteis, sobe 6% na base anual, uma aceleração frente a dezembro e também superior às expectativas.

A próxima reunião do comitê de política monetária do Fed será nos dias 15 e 16 de março, os mesmos do comitê brasileiro. Ou seja, as autoridades ainda terão mais um mês de dados de inflação e empregos para analisar antes de tomar uma decisão, mas a trajetória parece bastante clara. Tanto é verdade que os juros americanos de dez anos subiram para acima de 2% pela primeira vez desde 2019, afetados pelo aumento da possibilidade de termos uma elevação de 50 pontos-base já em março (85% de chance).

O tema do ano foi até aqui e deverá continuar sendo a inflação e a política monetária dos bancos centrais. Experimentamos até agora uma forte alta dos rendimentos, o que tem se provado um empecilho para os preços das ações (rendimentos mais altos significam que os valuations valem menos quando descontados a valor presente). Tal dinâmica perversa deverá continuar até sabermos com maior assertividade até que ponto chegaremos no ciclo de aperto dos países desenvolvidos, em especial dos EUA.

Falas duras para todos os lados

Com a economia dos EUA já apresentando uma recuperação robusta até aqui e o desemprego em 4%, o Fed agora está focado em conter a inflação, o que tem gerado cada vez mais falas duras por parte de seus membros atuantes. Ontem foi a vez de o presidente regional do Fed de St. Louis, James Bullard, provocar o mercado. Ele disse que gostaria de ver a meta de taxa de juros do Fed atingir 1% ao ano até julho (espera que o Fed distribua esse aumento ao longo das próximas três reuniões), sendo que já em março teríamos 50 pontos-base de elevação.

Mas ele não está sozinho nessa. Até mesmo o Brasil está tendo que lidar com diretores de seu BC com falas duras — nesta semana foi Bruno Serra quem apontou para um ciclo mais longo, até o final do primeiro semestre. Na Europa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, continua sendo a banqueira central mais dovish e cautelosa, valendo-se várias vezes da palavra “gradual”, até mesmo porque ela entende que um aumento das taxas de juros não impactaria muito a inflação. Ainda assim, os mercados europeus têm corrido para precificar um ajuste na política monetária da Zona do Euro.

Anote aí!

No Brasil, digerimos o resultado do Itaú e o relatório de produção da Vale, enquanto avaliamos também mais resultados, como o de Usiminas, antes da abertura do mercado. Falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Economia, Paulo Guedes, podem ter impacto nos mercados, em especial o primeiro, que deve corroborar falas mais agressivas de seus diretores no BC. Na esfera política, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve participar de encontro com economistas que têm atuado na construção do plano econômico para sua campanha eleitoral — entende-se que o pré-candidato só deve apresentar realmente sua equipe econômica entre abril e março deste ano (até lá será mais retórica eleitoral do que qualquer coisa).

Muda o que na minha vida?

A alta inflação já elevou os custos de quase tudo, desde mantimentos e gasolina até carros e aluguel. Isso acontece no Brasil, que ainda registra dois dígitos de inflação nos últimos 12 meses, mas também é verificado na Europa, na Ásia e nos EUA. Os preços estão bastante instáveis, o que provocou uma reação mais assertiva das autoridades monetárias nos últimos meses. No mundo desenvolvido, o Fed recuou da previsão “transitória” que havia mantido durante grande parte do ano passado, sinalizando aumentos de taxas, o fim da compra de títulos na era da pandemia e uma redução no tamanho do seu balanço.

A temporada de resultados, por sua vez, no Brasil e nos EUA, não consegue parar de falar sobre inflação. Nos balanços das empresas do S&P 500, por exemplo, palavras como “cadeias de suprimentos”, “logística” e “inflação” apareceram em 71% das chamadas de resultados do quarto trimestre, acima dos 39,2% do ano anterior. Trata-se de uma reversão completa do que se entendia no início da pandemia, com o grande temor de recessão no ar. Agora, com um superaquecimento da atividade econômica, é a inflação que promete não ceder.

Uma das variáveis mais voláteis e pressionadas ao redor do mundo talvez seja o preço das commodities energéticas, em especial os combustíveis, que voaram nos últimos meses. Enquanto no Brasil já se pode encontrar lugares cobrando R$ 7 por litro de gasolina, os EUA também lidam com uma realidade diferente daquela com a qual estavam acostumados nos últimos 15 anos, com o preço do galão podendo chegar a US$ 4 no cenário pessimista até o meio do ano. Isso ampliaria as pressões inflacionárias que atingem as famílias americanas, que enfrentam os maiores picos de preços em quase 40 anos.

Um abraço,

Jojo Wachsmann