Colunista Vitreo

Pré-Mercado: Dia de digerir o aumento da Selic e o tom mais ‘hawkish’

09 dez 2021, 8:45 - atualizado em 09 dez 2021, 8:45
Banco Central joga suas tranças para que os juros possam subir ainda mais / Os Irmãos Grimm (2005)

Bom dia, pessoal!

Lá fora, as Bolsas no Pacífico tiveram um dia de pregão misto.

Enquanto a Oceania optou por um clima de maior cautela, talvez já antecipando o aperto monetário nos mercados desenvolvidos, em especial nos EUA, a Ásia perseverou por um humor predominantemente positivo.

Por lá, os números da inflação chinesa mostraram um aumento menor na inflação de preços ao consumidor e um declínio menor na inflação de preços ao produtor do que o esperado – ainda que se discuta o repasse da inflação chinesa para o resto do mundo, o dado foi lido positivamente, principalmente depois das notícias de mais estímulo por parte do BC chinês (menor inflação dá mais margem para atuação).

Na Europa, os mercados não operam com uma direção única, ainda refletindo as novas restrições no Reino Unido, a posse de Olaf Scholz como chanceler da Alemanha e os dados do comércio alemão, que mostraram importações e exportações mais fortes do que o esperado (os dados de importação anteriores foram revisados ​​com mais força), o que sinaliza uma continuidade do processo de normalização das cadeias de suprimentos.

Os futuros americanos optam pelo otimismo nesta manhã, na esteira das expectativas pelos dados de inflação amanhã (10) e pela reunião de política monetária na semana que vem.

Já no Brasil, deveremos ter um dia bastante peculiar.

Depois da promulgação da PEC dos Precatórios em seu formato fatiado, liberando R$ 60 bilhões para 2022, evitando uma continuidade do esgarçamento fiscal, investidores devem digerir ao longo do pregão de hoje o movimento do Banco Central, que pode ter soado mais hawkish (contracionista) do que o mercado esperava.

A ver…

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Rumo aos 10,75%

Enquanto esperamos para ver as outras fatias da PEC dos Precatórios serem votadas na Câmara na semana que vem, a partir da terça-feira (14), de modo a apreciarmos as alterações do Senado, o mercado local deverá digerir a atuação do Comitê de Política Monetária (Copom) de ontem (8), que optou por elevar em 150 pontos-base a taxa básica de juros, a Selic Meta, para 9,25% ao ano, conforme as expectativas.

Essa foi a segunda reunião seguida com aumento dessa magnitude e a sétima vez consecutiva que o comitê subiu a taxa básica de juros, que chega ao seu maior patamar desde julho de 2017.

O que estava em jogo, porém, era o comunicado da autoridade monetária, que veio mais duro (“hawkish”) do que o mercado esperava.

Preocupado com a desancoragem da inflação para 2022 e 2023, tivemos a contratação de mais um ajuste de mesma magnitude para a próxima reunião, o que levará a Selic para 10,75% ao ano, ressaltando que estamos em um ambiente que requer medidas significativamente contracionistas.

A próxima elevação, apesar de já nos deixar em dois dígitos, não deve ser a última. Resta saber onde será o final do ciclo, se entre 11% e 12%, ou ainda além disso.

Investidores devem precificar tal movimento, já na esteira de expectativas de estagflação para 2022.

A leitura do dia pode guardar uma correção para o Ibovespa, que já mostrou certo cansaço depois de cinco altas seguidas.

Estruturalmente, no longo prazo, o combate à inflação deve ser bem lido, com queda dos juros mais longos em detrimento da alta dos vértices mais curtos.

Pensando no Fed

As ações americanas têm se recuperado bem, encerrando o pregão de ontem (8) perto de seus níveis mais altos em uma sequência de três dias de vitórias.

A confiança entre os investidores veio antes de evidências de que a ômicron pode causar casos mais leves de Covid-19, ideia reforçada quando Pfizer e BioNTech afirmaram que três doses de sua vacina foram eficazes contra a variante.

O foco do mercado agora se desviou das preocupações com a variante ômicron e voltou a se concentrar no Federal Reserve, cujos membros se reúnem na próxima terça e quarta-feira.

As perspectivas para a inflação (os preços ao consumidor de novembro serão divulgados nesta sexta-feira) e para o crescimento econômico deverão ser tema do encontro.

Restrições britânicas e o início do governo Scholz

Os mercados europeus reagem às novas restrições impostas aos britânicos pelo primeiro-ministro Boris Johnson do Reino Unido, incentivando as pessoas a trabalharem em casa.

Adicionalmente, as empresas estão pedindo suporte adicional, uma vez que as novas restrições europeias têm se debruçado mais sobre a demanda do que a oferta.

É possível que haja impacto no crescimento europeu do quarto trimestre devido os últimos movimentos de restrição social.

Enquanto isso, na Alemanha, a eleição do social-democrata Olaf Scholz como chanceler foi oficializada na quarta-feira, encerrando 16 anos de governo conservador sob Angela Merkel e abrindo caminho para um governo pró-europeu que prometeu impulsionar o investimento verde.

Ele liderará a primeira coalizão federal composta pelos social-democratas (SPD), os ecologistas verdes e os liberais democratas livres e nomeada com as cores dos partidos.

Anote aí!

Em dia de agenda econômica fraca no Brasil, investidores digerem o Copom, enquanto aguardam o IPCA de amanhã. Na esfera política, depois da aprovação parcial da PEC dos Precatórios, o mercado se concentra na aprovação do resto da proposta, que deve se dar entre os dias 14 e 22 de dezembro.

Além disso, o Senado pode votar projeto que prorroga a desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia e o Projeto de Lei Complementar 123/21, que exclui recursos de emendas parlamentares de bancada do teto de gastos imposto a estados em crise fiscal.

No exterior, destaque para os estoques de atacadistas nos EUA do mês de outubro – apesar de antes da Black Week, em um ano no qual as compras foram antecipadas, vale a pena conferir a formação de estoques da véspera do início da temporada de compras de final de ano.

Muda o que na minha vida?

Agora que a nova variante ômicron começa a ficar no retrovisor do mercado, ainda que continue a fazer parte de nossas vidas (ela se espalha muito rápido e já está em mais de 50 países), passamos a tentar entendê-la como fenômeno econômico.

Naturalmente, o mais importante talvez seja o impacto da mesma sobre a inflação; isto é, se ela acabará tendo um efeito deflacionário ou inflacionário.

É improvável que o impacto econômico seja o mesmo de 2020, até mesmo porque os níveis de medo por parte dos consumidores e as respostas das políticas restritivas provavelmente não serão os mesmos – vemos consumidores ainda ávidos e restrições ainda tímidas, focadas predominantemente em quem não se vacinou (vide mandatos vacinais).

Isso é especialmente verdadeiro no que diz respeito às implicações para a inflação, que avançou brutalmente em 2021 por conta dos lockdowns mais duros de 2020, que pararam o fornecimento de produtos e matérias-primas, enquanto os consumidores pouparam, provocando um adiamento da demanda e propiciando um desequilíbrio entre oferta e demanda em 2021.

Isso sem falar nos choques energéticos.

Claro, se os governos repetissem suas políticas de 2020, a ômicron seria inflacionária, ainda que a inflação seja menos significativa (houve adaptação por parte das empresas e dos consumidores).

Agora, se os governos não repetirem seus lockdowns paralelamente aos apoios fiscais fartos, cenário mais provável, a ômicron poderia ser potencialmente deflacionária – impacto na geração de emprego sem apoio fiscal, que gerou poupança em 2021 –, dando margem para que o aperto monetário ocorra de maneira mais gradual ao longo de 2022 e 2023.

No final, portanto, a nova variante pode se tornar positiva para ativos de risco.

Um abraço,

Jojo Wachsmann