Pré-Mercado: Com licença para gastar, a Bolsa deverá reagir mal
Oportunidades do Dia
Máxima do Bitcoin pode destravar ainda mais valor neste investimento
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Bom dia, pessoal!
Lá fora, nesta quinta-feira (21), as ações asiáticas tiveram um dia misto, predominantemente ruim, depois que a maior incorporadora chinesa, a Evergrande, informou que o plano de vender seu braço de administração de propriedades a um rival menor fracassou.
Consequentemente, as ações caíram em Hong Kong e Tóquio, ainda que tenham conseguido subir em outros mercados marginalizados. Nesta manhã, as Bolsas europeias acompanham este tom negativo, bem como os futuros americanos.
O preço do bitcoin chegou a quase US$ 67 mil ontem, estando agora ainda acima de US$ 66 mil depois de leve correção.
Os ganhos vieram um dia depois que o primeiro fundo negociado em Bolsa vinculado a contratos futuros de bitcoin atraiu enorme interesse de investidores que buscavam entrar no crescente campo das criptomoedas.
O movimento consolidou uma alta de mais de 10% nos últimos três dias.
A ver…
Indefinição dentro do governo
Apesar de fechar em certa acomodação na quarta-feira (20), próximo da estabilidade, o mercado brasileiro não sentiu por inteiro os reflexos dos comentários de Paulo Guedes sobre a possibilidade real de furar o teto de gastos.
Os desdobramentos envolvendo o impasse fiscal em Brasília, se referindo aqui à questão dos precatórios e ao Auxílio Brasil, vêm derrubando a Bolsa, desvalorizando o real e jogando a curva de juros para o infinito e além.
No exterior, conseguimos reagir um pouco melhor, com o EWZ, principal ETF brasileiro, terminando o after-hours em queda de 0,70% depois da licença para gastar de Guedes.
Temos esse catch-up para fazer hoje por aqui, em meio também à potencial queda de Petrobras, que teve suas ADRs caindo 2,25% no after-hours em NY, após relatório de produção e vendas no 3T21 e piora do quadro fiscal no Brasil.
O governo deseja zerar a fila do programa permanente (o Auxílio Brasil em si) até dezembro e chegar a 17 milhões de famílias beneficiadas com o programa (hoje são 14,7 milhões).
Paralelamente, haverá um reajuste de 20% do programa permanente, ao passo que todos aqueles que estão na extrema pobreza não deverão receber menos de R$ 400.
Para acomodar a despesa de mais de R$ 30 bilhões no que se chamou de “extrateto”, entende-se como possível uma revisão do teto ou crédito extraordinário, mas sem visibilidade política fica difícil saber de onde virá o dinheiro.
Claro, consequentemente, houve novo adiamento da votação da PEC dos Precatórios na Comissão Especial, agora esperada para hoje – com chance grande de ser cancelada mais uma vez. Basicamente, se trata de um sinal de que não há acordo no Congresso.
Para piorar, os caminhoneiros que transportam combustíveis (tanqueiros) na região Sudeste começaram uma paralisação das atividades a partir de hoje. A Bolsa deverá reagir mal a tudo isso.
Sequência de ganhos
Nos EUA, os mercados vêm ganhando terreno à medida que os investidores mudam seu foco para a última rodada de resultados corporativos.
As ações estiveram instáveis por algumas semanas, conforme a alta da inflação e os dados econômicos fracos aumentaram as preocupações sobre a recuperação econômica.
Agora, porém, com a assimilação do que tem sido um bom início de temporada de resultados, o Dow Jones Industrial Average terminou a quarta-feira com alta de 0,4%, em 35.609, apenas 16 pontos abaixo de sua máxima histórica estabelecida em 16 de agosto.
O S&P 500 também subiu 0,4%, em seu sexto ganho consecutivo, estando apenas 0,02% abaixo de seu próprio recorde.
Fortes ganhos de empresas com orientação cíclica estiveram entre os catalisadores para os ganhos de ontem, enquanto as ações de crescimento tiveram um movimento pior.
Para hoje, mais resultados são aguardados, com nomes como AT&T, Freeport-McMoRan, Southwest Airlines, American Airlines Group e Intel.
Chamam atenção também, no aspecto negativo, os gargalos que se acumulam no porto de Los Angeles, nos Estados Unidos, que registrou volumes recorde de passagem de mercadorias.
Resta saber se as famílias de baixa renda esgotaram suas poupanças, sugerindo uma futura desaceleração da demanda de bens duráveis que estão sendo importados.
Novamente, os investidores reagem ao risco da Evergrande
A Evergrande, a maior emissora de dívida de alto rendimento na Ásia e uma das maiores incorporadoras imobiliárias da China, está lutando para pagar suas dívidas depois que as autoridades endureceram os regulamentos sobre empréstimos imobiliários para conter o boom imobiliário.
As preocupações com a possível reestruturação da dívida perturbaram os mercados globais.
Nesta quinta-feira, as ações do China Evergrande Group caíram quase 12%, enquanto as ações da Evergrande Property Services caíram 6,8%.
Isso se deve a um comunicado à Bolsa de Valores de Hong Kong, no qual a Evergrande disse que estava tendo dificuldades para vender ativos para resolver sua crise de caixa. Em outras palavras, a companhia fracassou no acordo de vender fatia de 50,1% em unidade de serviços imobiliários.
Pelo menos, ao mesmo tempo, a incorporadora conseguiu extensão de título inadimplente – menos mal.
Agora, as autoridades estão monitorando os riscos do mercado imobiliário, na esperança de tranquilizar os mercados quanto ao impacto indireto sobre a economia.
Entendemos que, embora os eventos em evolução possam levar a novos surtos de volatilidade, não há um amplo risco sistêmico que faria com que os investidores subestimassem a China ou as ações de forma mais generalizada.
Ainda assim, é preciso cautela na hora de se avaliar os setores mais afetados, como o imobiliário e o financeiro na China.
Anote aí!
Hoje, os mercados europeus em queda nesta manhã repercutem, na ausência de uma agenda relevante, a aposentadoria de Jens Weidmann, presidente do Deutsche Bundesbank (banco central da Alemanha, porém secundário frente ao BCE).
O novo governo alemão provavelmente escolherá alguém com visões bastante semelhantes às do BCE – o Bundesbank era visto como uma das posições mais austeras da União Europeia.
Nos EUA, vale acompanhar as vendas de casas existentes para setembro de amanhã e o índice de difusão do Fed da Filadélfia de amanhã, uma medida da atividade manufatureira geral.
No Brasil, atenção voltada para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), para as falas do ministro Paulo Guedes no 93º Encontro Nacional da Indústria da Construção e para a tradicional live de quinta-feira de Bolsonaro, que pode dar mais novidades sobre o Auxílio Brasil.
Muda o que na minha vida?
Nos EUA, os democratas parecem dispostos a entrar em um acordo sobre a dívida americana, que tem até dezembro para ser endereçada.
A ideia aqui é que, para que a questão seja resolvida por definitivo, haverá desidratação dos pacotes de investimento em infraestrutura, que deverão ser reduzidos daqueles US$ 3,5 trilhões para algo entre US$ 1,5 trilhão e US$ 1,9 trilhão.
Caso contrário, todas as propostas correm o risco de sofrerem obstrução por parte dos republicanos.
Na Casa Branca, inclusive, o presidente Joe Biden se reuniu recentemente com CEOs de grandes empresas, incluindo JPMorgan, Citigroup e Nasdaq, para pressionar os legisladores, levantando a possibilidade de mudar as regras de obstrução do Senado, de modo a facilitar a aprovação de suas propostas.
No final do dia, tudo reside na tradicional preocupação das maiores economias do mundo, incluindo a nossa: como os governos pagam as dívidas?
Naturalmente, os governos quase nunca as pagam. A necessidade de rolar constantemente a dívida é a razão pela qual é extremamente difícil para os governos inflacionarem suas moedas para sair da dívida.
Por falar nessa preocupação, não só os EUA e o Brasil enfrentam dilemas fiscais, mas a União Europeia (UE) também.
Hoje, a UE deve divulgar as proporções da dívida sobre PIB dos membros para 2020 – os valores deverão ser volumosos, repercutindo a pandemia, que mudou a relação da atuação dos governos na economia.
É possível que estejamos diante de um novo paradigma no qual mudaremos nosso entendimento de dívida dos países, em que é provável que a dívida dos governos represente uma parcela maior da economia.
Um abraço,
Jojo Wachsmann