Pré-mercado: Cheiro de queimado no ar
Bom dia, pessoal!
Depois de um começo de mês positivo até aqui, ativos de risco internacionais iniciam esta segunda-feira (12) com uma correção.
A Europa amanheceu em queda, acompanhada pelos futuros americanos — não é surpresa um ajuste nas Bolsas americanas, afinal, consecutivamente vemos os índices batendo recordes em seus respectivos fechamentos (Dow Jones e S&P).
Para o Brasil, a tensão política não deve deixar tão cedo o radar, impedindo uma separação entre ativos financeiros e a vida em Brasília.
No exterior, a expectativa quanto à recuperação segue afetando os mercados.
O início da temporada de resultados para o primeiro trimestre de 2021 pode seguir dando sustentação à alta ou travar a sequência de recordes. A ver…
Fritando
Não é segredo para ninguém que a CPI da Covid, solicitada pelo STF, tenha deixado um gosto amargo nos políticos da capital federal. Há um clima de fritura no ar, daqueles em que algo já está começando a ser queimado.
Isso porque uma investigação das ações e omissões do Executivo federal em véspera de vetos ao Orçamento e um ano antes da eleição complicam a vida de muita gente.
Um dos temores é que os desdobramentos da CPI sobre a questão fiscal impeçam eventuais movimentações da equipe econômica de Bolsonaro ainda em 2021, as quais estavam sendo lidas como positivas. Há também a possibilidade de prefeitos e governadores serem incluídos, ao menos é o que pede o governo.
Com uma inflação dos últimos 12 meses que estoura o teto da banda superior da meta de inflação, economistas mais ortodoxos temem que caminhemos para uma situação de “dominância fiscal”.
Ou seja: uma trajetória fiscal insustentável, alto endividamento e elevada inflação sustentada, o que impediria uma correção da estabilidade dos preços por meio de elevação da taxa de juros — a dívida ficaria mais cara. Ainda há esperanças.
O Executivo ainda tem chance de conseguir colocar ordem na casa e dar voz a Paulo Guedes, mas o jogo é difícil. Até onde vão puxar a corda política e fiscal?
Na esteira da mesmice
A entrevista concedida por Jerome Powell, presidente do Fed dos EUA, durante o fim de semana não surpreendeu ninguém ao não trazer nada de novo.
Muito dificilmente a autoridade monetária apresentaria qualquer ideia contrária ao que vinha falando quase que diariamente sobre a política do Fed.
Haverá crescimento e as taxas de juros de curto prazo (Fed Funds Rate) permanecerão paradas, pelos menos é isso que se espera para este ano, sem qualquer surpresa para os mercados.
Nem o layout da primeira peça de infraestrutura de Joe Biden foi o suficiente para mudar a postura do Fed.
A ampla proposta lança os esforços da Casa Branca na reparação da infraestrutura física do país e pressiona por investimentos significativos no combate à mudança climática, bem como em pesquisa e desenvolvimento. O total deste primeiro texto? US$ 2,3 bilhões.
Claro, entre o desenho inicial e a aprovação ainda temos um longo caminho.
Em grande parte, a proposta será financiada por meio de aumentos de impostos sobre empresas, incluindo um aumento da alíquota corporativa de seu nível atual de 21% para 28%.
Aumentos no imposto mínimo global, fim dos subsídios federais para empresas de combustíveis fósseis e a exigência de que as corporações multinacionais paguem a alíquota de imposto dos EUA também estão em discussão.
A ainda bagunçada cadeia de suprimentos
As cadeias de suprimentos globais ainda estão uma bagunça e isso é um grande problema para os preços globais. Graças à pandemia, elas foram quebradas, provocando a escassez de produtos em demanda e componentes de manufatura cruciais.
O movimento força os consumidores a pagarem mais, ao mesmo tempo em que pesa sobre a recuperação econômica, um problema que preocupa cada vez mais os governos.
O coronavírus afetou as cadeias globais no ano passado à medida que as restrições fechavam fábricas e interrompiam o fluxo normal de comércio.
Desde então, uma demanda reprimida dos consumidores por bens duráveis sobrecarregou os fornecedores e tornou difícil para os consumidores encontrarem os produtos que gostariam de comprar.
A consequência? A inflação dos preços aos produtores tem aumentado.
Foi assim no Japão, no indicador de março. O mesmo impacto ficou evidente nos preços ao produtor dos EUA na semana passada.
Anote aí!
O dia começou positivo para a agenda econômica, com dados de vendas no varejo da Zona do Euro vindo acima do esperado: alta de 3,0% na margem, contra 1,5% da mediana.
Os investidores ainda tentam descobrir quando as restrições serão afrouxadas e quando o consumidor terá uma recuperação ainda mais forte.
O dia também contará com diversas falas de autoridades monetárias, nos EUA, Reino Unido e União Europeia.
Não há, porém, expectativa de mudança no discurso flexível. No Brasil, IPC-Fipe da primeira quadrissemana de abril, Boletim Focus e Balança Comercial marcam a segunda-feira.
Novidades de Brasília e novas informações de Roberto Campos Neto, que fala em evento hoje, podem trazer volatilidade ao mercado.
Muda o que na minha vida?
Será que caminhamos para o fim do dinheiro como o conhecemos?
O uso decrescente de dinheiro significa que a “participação de mercado” dos bancos centrais na criação de dinheiro e a influência econômica que ela oferece estão em declínio.
O fim de uma era? Talvez. Mas não se preocupe.
Tais mudanças costumam ser geracionais quando acontecem, não implicando em mudanças instantâneas nos padrões econômicos — o que deporia contra o próprio objetivo do Banco Central de prover estabilidade para a moeda.
Diante da problemática, os bancos centrais estão pensando em introduzir suas próprias moedas digitais. Como o dinheiro, esses seriam passivos do banco central — as moedas digitais atuais, geradas pelo setor privado, são passivos de bancos do setor privado com risco de crédito.
É provável que cada moeda digital do banco central tenha características de design exclusivas.
Os bancos centrais terão que rever o funcionamento do sistema financeiro para garantir que ainda haja uma função para os bancos do setor privado, uma vez que a digitalização da moeda acaba por excluir o intermediário da dinâmica econômica.
Fique de olho!
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Jojo Wachsmann