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Pré-Mercado: Céu de brigadeiro em meio às incertezas internacionais

25 mar 2022, 9:22 - atualizado em 25 mar 2022, 9:22
Ativos brasileiros: o pote de ouro no fim do arco-íris | Projeto Flórida (2017)

Bom dia, pessoal!

Lá fora, os mercados asiáticos tiveram uma sexta-feira mista após o dia de recuperação de ontem (24) nos EUA — os índices de Wall Street reagiram bem à entrega dos pedidos de auxílio-desemprego, que atingiram seu nível mais baixo desde setembro de 1969. Enquanto isso, os investidores observavam os esforços para negociar o fim da guerra da Rússia contra a Ucrânia, movimento ainda improvável.

Na Europa, as principais Bolsas não operam de maneira uniforme, da mesma forma que os ativos na Ásia. O tom predominante, porém, é de proximidade à estabilidade, assim como se verifica nos futuros americanos. O Brasil pode continuar se descolando do sentimento incerto internacional, caminhando para mais um bom resultado no consolidado da semana, apesar da volatilidade exacerbada nas commodities.

A ver…

Não pode comemorar muito para não dar azar

O Ibovespa contou com seu sétimo pregão seguido de ganhos, impulsionado pela alta das commodities e pela entrada de fluxo externo. Ontem, tivemos o melhor fechamento para a Bolsa local em mais de seis meses, acima dos 119 mil pontos. O dólar também continua sua queda contra o real, agora cotado em R$ 4,8320 — o movimento dos ativos acompanhando a queda da curva em diferentes vértices.

Os juros estão recuando diante da semana cheia de novidades, desde a ata do Copom, na terça-feira (22), até o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ontem. Encerraremos hoje (25) ainda com a entrega pelo IBGE da inflação prévia oficial, o IPCA-15 de março. Se vier abaixo do esperado, poderá corroborar a ideia de que os juros vão só até 12,75% ao ano — um movimento adicional em junho menos provável.

Pelo menos foi a mensagem passada pelas falas do presidente do BC, Campos Neto, e pelo RTI. A autoridade monetária brasileira parece realmente querer encerrar o ciclo elevando a Selic só mais uma vez. Trata-se de um tom mais dovish, mesmo diante da alta dos preços (alimentos e combustível, em especial). Francamente, pouca diferença faz estar a 13% ou a 12,75%, mas o mercado adora brincar de adivinhação.

Hoje, Roberto Campos volta a falar, em meio à entrega da prévia da inflação oficial. Importante será acompanhar sua fala para saber se a ideia continuará a ser apresentada com consistência até a reunião de maio. Além dele, Paulo Guedes também participa de evento com empresários. Mais informações sobre eventuais estímulos econômicos neste ano poderão ser bem recebidas pelo mercado.

Volatilidade é o nome do jogo

O dia de ontem foi carregado de eventos para o presidente dos EUA, Joe Biden, que prometeu medidas para garantir a segurança energética e reduzir a dependência europeia do gás russo. Esse tem sido o grande dilema para as novas sanções ao gigante eurasiano, uma vez que os países desenvolvidos ocidentais já estão sofrendo com pressão de preços e um choque como esse só pioraria a situação.

A incerteza, em especial sobre o aperto monetário, faz com que os investidores não consigam decidir coletivamente sobre o rumo dos ativos. Sobre o tema dos juros, surgem novamente as apostas de dois choques de 50 pontos-base pelo Fed. A volatilidade de tal precificação é destruidora de valor a longo prazo, diante do infernal cabo de guerra entre comprados e vendidos.

Riscos entrelaçados relacionados à política do Federal Reserve, geopolítica, preços de commodities e crescimento econômico não desaparecerão da noite para o dia. Ao mesmo tempo, já se começa a ver valor nos segmentos que mais apanharam em 2022, que acabaram precificando o pior cenário possível, aparentemente. Neste sentido, se houver uma melhora de sentimento, tais segmentos podem ganhar espaço.

Mais e mais sanções

Ao que tudo indica, o governo do Reino Unido está sugerindo tentar impor sanções às reservas de ouro russas. Em meio ao encontro de líderes na Europa, a iniciativa pode ter impactos neste mercado caso reverbere para outros países e ganhe apoio. Sem acesso aos seus dólares e com nenhum país querendo pagar em rublos pela energia russa, o bloqueio de mais fonte de recursos poderia ser visto como uma escalada.

No final do dia, pouca coisa mudou no cenário da guerra na Ucrânia, a não ser a comunidade internacional aumentando as sanções contra a Rússia. Agora, os investidores acompanham os esforços para mediar um acordo entre Ucrânia e Rússia, o que elevou os preços do petróleo e aumentou a incerteza sobre as perspectivas econômicas globais — não há grandes expectativas de sucesso.

Sobre este tema, os EUA e seus aliados discutiram uma possível liberação coordenada de petróleo armazenado para ajudar a acalmar os mercados de energia. Ainda que possa ter um impacto de curto prazo, dificilmente será duradoura a medida. O Ocidente ainda precisará encontrar um substituto sustentável para o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, uma vez que este agora está sendo inviabilizado para negócios.

Anote aí!

Mais um dia de agenda carregada no Brasil e no mundo. Por aqui, continuamos com a temporada de resultados, que vai até a semana que vem. Além disso, acompanhamos o IPC da 3ª quadrissemana de março, o índice de confiança do consumidor em março e o IPCA-15 de março, que está projetado em 0,86% de alta na mediana.

Falas de autoridades, como Roberto Campos Neto e Paulo Guedes, têm destaque no dia, enquanto se espera o leilão de privatização da Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa). Pesquisa presidencial e paralisação de servidores do Tesouro Nacional têm espaço na agenda também.

Lá fora, contamos com a pesquisa de opinião de negócios do IFO (Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade de Munique) alemão de março. Ainda na Europa, temos a reunião do Conselho Europeu, que poderá sancionar ainda mais a economia russa. Nos EUA, temos falas de membros do Fed, bem como o sentimento do consumidor de Michigan nos EUA. Para finalizar, investidores também acompanham o índice de vendas de casas pendentes para fevereiro.

Muda o que na minha vida?

A cada dia, eleva-se o temor de que o mundo esteja caminhando para uma crise alimentar que pode afetar milhões de pessoas. Para ilustrar, os preços recordes do gás natural forçaram as empresas de fertilizantes a reduzirem sua produção de amônia e ureia na Europa para 45% da capacidade. Com menos desses dois ingredientes essenciais, esperamos efeitos indiretos para o abastecimento global de alimentos.

Não se discute mais se haverá ou não uma crise alimentar, mas, sim, o tamanho e a duração dela. A situação é séria. Muito. Um mês depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, os preços dos principais produtos agrícolas produzidos na região dispararam. 

O maior problema é o trigo, um alimento básico que é cotado internacionalmente. Os suprimentos da Rússia e da Ucrânia, que juntos respondem por quase 30% do comércio global de trigo, estão muito impactados.

A situação está soando alarmes para especialistas globais em alimentos. Os ministros da Agricultura dos países do G7, inclusive, se reuniram para discutir as consequências iminentes.

Agora, qualquer aumento adicional nos níveis de preços dos alimentos e volatilidade nos mercados internacionais podem ameaçar a segurança alimentar e nutricional em escala global, especialmente entre os mais vulneráveis que vivem em ambientes de baixa segurança alimentar — a Rússia e a Ucrânia servem de celeiro para países do Oriente Médio e Norte da África que dependem de importações.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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