Pré-Mercado: Caos nos mercados globais
Bom dia, pessoal!
A quinta-feira (5) foi um verdadeiro banho de sangue no Ocidente — os EUA tiveram o seu pior dia do ano, registrando uma queda não vista em muito tempo e apagando os ganhos de quarta-feira (4). Respondendo ao movimento de correção violenta de ontem, os mercados asiáticos caíram nesta sexta-feira (6), com os investidores preocupados com as mudanças de política do Federal Reserve dos EUA e a promessa renovada da China de manter sua controversa política de “zero Covid”.
Ao redor do mundo, os bancos centrais estão lutando com a inflação de preços e o receio de desaceleração do crescimento. Aliás, como argumentado ontem, as preocupações com o crescimento econômico do Banco da Inglaterra podem ter alimentado os movimentos do mercado adicionalmente, tendo em vista a projeção de recessão para 2023 no Reino Unido — a autoridade estimou queda de 0,25% do PIB no ano que vem, prejudicando ainda mais a percepção de risco dos agentes de mercado.
Nesta manhã, as Bolsas europeias e os futuros americanos dão continuidade ao movimento de ontem (5), levando os mercados globais para patamares cada vez mais baixos. No Brasil, temos acompanhado os movimentos internacionais, diferentemente do que aconteceu nos primeiros três meses do ano. Ainda temos hoje a avaliação de grandes resultados por aqui, como o de Petrobras e o de Bradesco. Nos EUA, saem os dados de emprego (os famosos payrolls), que podem apimentar ainda mais as coisas.
A ver…
Resultados corporativos complementam o digestivo dos investidores locais
Ontem (5), o Ibovespa recuou quase 3%, voltando aos 105 mil pontos (lembre-se que estávamos acima de 120 mil pontos entre março e abril). Acabamos surfando o péssimo humor internacional, ainda repercutindo a nossa própria decisão de política monetária, em que contratamos mais um ajuste de menor magnitude para a reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
Complementarmente, temos ainda a repercussão da temporada de resultados, com nomes como Bradesco e Petrobras, que divulgaram seus números na noite de quinta-feira. Enquanto o bancão veio em linha com as expectativas de mercado, a Petrobras apresentou um lucro de mais de R$ 44 bilhões no primeiro trimestre, alta de mais de 3.700% sobre o mesmo período do ano passado — a receita e o Ebitda avançaram, respectivamente 59% e 64%.
O resultado positivo da estatal possibilitou a aprovação do pagamento de dividendos no valor de R$ 3,7154 por ação. Apesar de comandar a máquina da qual é o maior acionista da companhia (o Estado brasileiro), sendo o principal beneficiado pelo pagamento de dividendos, o presidente Bolsonaro se referiu aos números como “estupro” e “crime”.
Apesar de repetir que não irá interferir na Petrobras, o presidente direcionou críticas à diretoria da empresa durante sua live semanal. A reação explosiva do chefe do executivo pode apagar no pregão de hoje uma reação mais positiva do mercado. Inevitavelmente, as consequências seriam sistêmicas, dado o peso da empresa no índice brasileiro.
Reviravolta de mercado
Sendo pressionado de todos os lados, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, elevou a taxa de juros em 50 pontos-base, a maior alta desde 2000, tendo prometido também grandes aumentos adicionais para combater a inflação. Contudo, como ele assegurou a todos que o Fed não tinha planos para um aumento de 75 pontos-base na taxa, o mercado o interpretou o posicionamento como “não tão hawkish (contracionista) quanto necessário”, deixando aquela impressão de que a autoridade monetária americana estaria “atrás da curva”, aquecendo novamente os temores inflacionários.
As ações chegaram a subir na tarde de quarta-feira (4), depois que o comitê do Fed anunciou o aumento de meio ponto na taxa de juros e um cronograma para encolher seu balanço patrimonial. As mesmas ações que subiram na quarta, porém, devolveram os ganhos mais do que proporcionalmente na quinta-feira (5).
A volatilidade assumiu o comando e os investidores precisaram apertar o cinto. O Nasdaq, por exemplo, caiu cerca de 5%, rumo a seu menor valor de fechamento desde o final de 2020, enquanto o Dow Jones teve sua maior queda desde 2020. Ainda que pudéssemos esperar certa recuperação hoje, os futuros americanos voltam a cair.
Quem quer um emprego aí?
Hoje, o relatório de emprego dos EUA deve sinalizar força da economia americana, embora desacelerando a criação de empregos. Em média, os economistas de mercado esperam ver um ganho de 400 mil folhas de pagamento não agrícolas no mês passado, o que seria inferior aos 431 mil empregos criados em março. A taxa de desemprego, por sua vez, deverá permanecer no baixo patamar de 3,6%.
Neste caso, os detalhes importam mais. Números como os esperados indicariam que o mercado de trabalho americano deveria continuar apertado, uma vez que as vagas de emprego continuam superando os candidatos — após a pandemia, trabalhadores mais velhos e mais jovens demoraram a retornar à força de trabalho tradicional.
Aliás, ultimamente, o número de vagas de emprego superou em aproximadamente o dobro os candidatos, resultando no aumento dos salários em várias indústrias e setores. Isso tem sido um grande contribuinte para a inflação.
Anote aí!
Lá fora, investidores acompanham as falas de autoridades monetárias europeias e americanas. Ontem, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, sinalizou a disposição de avançar nas taxas de juros, assim como o Banco da Inglaterra (BoE) já tem feito há algumas reuniões, o que pode ser reforçado hoje. Além disso, temos a continuidade da temporada de resultados e os dados de emprego nos EUA.
No Brasil, acompanhamos a viagem do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para Basileia e Zurique, na Suíça, para participar de reuniões e palestras promovidas pelo Banco de Compensações Internacionais, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Swiss National Bank. Por fim, acompanhamos também a divulgação de pesquisa sobre sucessão presidencial e aguardamos a assembleia dos policiais federais para decidir sobre mobilizações por reajuste salarial.
Muda o que na minha vida?
Os mercados globais foram atingidos este ano por uma série de crises, incluindo o aumento da inflação, o aumento das taxas de juros, a desaceleração econômica chinesa e a guerra na Ucrânia. Para piorar o clima deste início de maio, os investidores na Ásia também estão nervosos após os últimos comentários da liderança da China.
Na quinta-feira, durante uma reunião com o Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista, o principal órgão de decisão do país, o presidente chinês Xi Jinping se dirigiu a todos os níveis do governo que aderem à política de “zero Covid” no país. Segundo a liderança chinesa, todos os funcionários de todos os níveis de governo devem lutar de maneira resoluta com quaisquer palavras e atos que distorçam, duvidem ou neguem a política de controle de Covid da China.
Em outras palavras, o presidente não quer que as pessoas ao redor do mundo e na China pensem que houve qualquer mudança de política contra a Covid-19, o que sugere que a recuperação econômica permanecerá prolongada e desigual. Vale lembrar que a política de “zero Covid” da China afetou fortemente a segunda maior economia do mundo. Em abril, por exemplo, o gigantesco setor de serviços do país contraiu no segundo ritmo mais acentuado já registrado, com os bloqueios da Covid atingindo fortemente os negócios. Seu setor manufatureiro também encolheu no mês passado.
Toda vez que as perspectivas de crescimento para a China são revisadas para baixo, as projeções de evolução da economia global também o são. O Brasil, em especial, costuma ser mais sensível que a média quando se trata da China, muito por conta da nossa relação comercial profunda com o país. As coisas podem piorar antes de melhorar.
Um abraço,
Jojo Wachsmann