Pré-mercado: Brasil pega fogo enquanto EUA já vacinou 150 milhões de pessoas
Bom dia, pessoal!
A terça-feira (6) foi marcada pela reabertura de alguns mercados ao redor do mundo, ao passo que os EUA corrigiam a alta de segunda-feira (5), na qual dados econômicos mais otimistas levaram os investidores a ficarem animados com as ações.
Enquanto o Dow Jones (DJI) e o S&P 500 (SPX) continuam a bater novos recordes, ainda que tenham corrigido ontem, o Nasdaq (US100) ainda está cerca de 3% abaixo de seu recorde de fevereiro, já que o recente aumento nos yields dos títulos tornou as ações de crescimento menos atraentes.
Como o processo se mostrou mais estável, em parte por conta das novas restrições em solo europeu, podemos ver o setor de tecnologia tomando fôlego novamente.
O Brasil, que enfrenta caos interno em diferentes frentes (sanitária, política e fiscal, entre outras), acaba sendo facilmente contaminado pelo humor internacional.
A ver…
Quem tem as soluções para a crise
A pandemia segue destruindo vidas em nossa nação. Ontem, ultrapassamos a terrível marca de mais de 4.000 mortes por dia, com chances de alcançar o patamar de 5.000.
O mês de abril seguirá marcando um momento crítico para a pandemia no país, muito por conta da sobrecarga do sistema de saúde – o vírus circulou intensamente e em demasia, causando sobrecarga dos hospitais.
Autoridades internacionais começam a apontar para o país, sugerindo medidas mais duras, ainda que tardias. Seguimos com a vacinação, mas não adianta. Forças internas começam a advogar por um lockdown nacional.
O ano de 2021, que deveria ser o ano da recuperação, está se tornando lentamente mais um 2020. A diferença é que há uma luz no fim do túnel: a vacinação.
Se houver uma correção da trajetória no segundo trimestre, com um ajuste do Orçamento inexequível de 2021, talvez tenhamos uma chance de ainda conquistarmos um ano positivo.
Claro, não vamos crescer os 6% dos EUA ou os 8% da China, mas pelo menos não podemos cair novamente – tem carregamento estatístico, o que deixa mais fácil. A batalha política pelo texto do Orçamento segue viva.
A conclusão deve se dar no limite do possível, no dia 22 de abril (sim, vamos definir o orçamento do ano ao final de abril).
Pisando no acelerador
Hoje é dia de apresentação das minutas (atas) das reuniões do Federal Reserve, o banco central americano, que permitirá que os investidores conheçam os bastidores da política do banco central dos EUA.
A economia está indo melhor do que o esperado, mas não se espera que a política monetária mude tão cedo – o estresse na curva de juros deu uma boa arrefecida recentemente.
A questão está em ler nas entrelinhas para saber o quanto a direção da instituição está comprada nessa de ficar com juros baixos até 2023.
Enquanto isso, até agora parece improvável que a segunda grande iniciativa legislativa do presidente Biden atraia mais apoio bipartidário do que seu primeiro pacote de ajuda de US$ 1,9 trilhão.
Os republicanos estão mirando no plano de infraestrutura de US$ 2 trilhões lançado recentemente. Haverá muito sangue – republicanos gostam de infraestrutura, mas não gostam de aumento de impostos.
Para enfrentá-los, os democratas talvez se valham da reconciliação orçamentária, de modo a permitir que os democratas aprovem o novo pacote no Senado com sua maioria simples (voto de Kamala Harris).
A Casa Branca também está planejando uma segunda proposta nas próximas semanas para abordar a chamada infraestrutura social, incluindo creches, saúde e mensalidades universitárias, que seriam pagas por aumentos de impostos sobre famílias ricas.
Pode botar mais US$ 1 trilhão aí. Pisar no acelerador é apelido.
Revisões por todos os lados
Duas revisões importantes:
i) o FMI revisou sua previsão de crescimento global; e
ii) as autoridades alemãs estão diminuindo as perspectivas de uma flexibilização das restrições no curto prazo, em linha com o resto da Europa.
As revisões chamam atenção porque, ao passo que o FMI sinalizou para mais crescimento, também apontou para a elevação da desigualdade, o que tem se aprofundado muito – se eles vissem o Brasil de perto então, nem se fala.
Como o mundo passa por mudanças estruturais, inclusive no mercado de trabalho, existe o temor de que estejamos diante do nascimento de um caldo de cultura perigoso e volátil, já imerso em uma cultura polarizada e digitalizada (informação flui rápido). As renovações das restrições na Europa aprofundam esse debate.
O lado positivo, pelo menos, é que, passado um ano das mínimas dos mercados de 2020 (final do mês passado), as perspectivas são muito mais positivas, tanto em termos de crescimento como em termos de vacinação.
De um ano para cá, os estoques globais agora estão 16% acima de seu pico pré-pandemia. Ainda que haja volatilidade nos próximos meses devido às preocupações com o aumento dos yields americanos e uma terceira onda de infecções na Europa, seguimos firmes pelo otimismo de crescimento e pelas políticas fiscais e monetárias.
Além disso, embora as vacinações na Zona do Euro tenham ficado para trás em relação aos EUA e ao Reino Unido, o progresso continua. A normalização econômica é questão de tempo.
Anote aí!
Dia de agenda cheia. Aqui no Brasil, o STF julga em Plenário a liberação de missas e cultos – mais importante será a decisão sobre vacinas vendidas para a iniciativa privada, em caso de judicialização da questão.
Enquanto Bolsonaro participa de jantar com empresários, vale observar os dados de inflação do IGP-DI de março, o qual deve acelerar 2,54% no mês, e produção de veículos.
No exterior, monitor fiscal do FMI, índice dos gerentes de compras (PMIs) da Zona do Euro e coletiva do G20 marcam o dia. EUA também apresenta PMI, bem como sua balança comercial.
Eventos com autoridades econômicas ao redor do mundo também são importantes – Paulo Guedes e Roberto Campos Neto falam também.
Muda o que na minha vida?
Seria possível um imposto mínimo global? Parece ser esse o caminho que Biden quer que a secretária do Tesouro, Janet Yellen, leve às negociações internacionais.
Os eventos dos últimos dias, que seguem hoje, do FMI e do Banco Mundial, têm transmitido uma mensagem dos EUA aos governos de todo o mundo, sobre a importância de se trabalhar com outros países para acabar com as pressões da competição tributária, principalmente em um mundo pós-pandemia.
Lembra-se de que falamos que a conta Covid chegaria para todo mundo? Pois bem, ela está chegando.
Segundo o argumento de Yellen, para garantir que a economia global prospere em um campo mais nivelado na tributação das empresas multinacionais, se faz necessária a adoção de um imposto mínimo global para as companhias, a fim de evitar uma corrida pela tributação – em outras palavras, o bom e velho quem oferece menos.
Isso se dá em um contexto no qual os EUA devem aumentar a tributação sobre as empresas, de 21% para 28%. A ideia do imposto mínimo, portanto, seria no sentido de tornar mais difícil para as empresas transferirem os lucros para o exterior.
Um imposto corporativo global mínimo poderia compensar parcialmente quaisquer consequências que possam surgir do aumento do imposto nos EUA e ajudaria a pagar o ambicioso plano de infraestrutura de US$ 2,3 trilhões da Casa Branca.
Agora, o quanto as demais nações concordam com isso é outra história. O Brasil poderá ser afetado se a conversa se der por meio dos órgãos internacionais, como a OMC.
Há quem diga que a defesa inicial se valha da OCDE, que já discute essa possibilidade há algum tempo.
Embora muitos países tenham aprovado um imposto mínimo, outros podem não aceitar um. A discussão deve perdurar nos próximos anos.
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Um abraço,
Jojo Wachsmann