Pré-Mercado: Brasil na contramão do mundo desenvolvido
Bom dia, pessoal!
Lá fora, os mercados asiáticos sobem após a China cortar mais uma vez suas taxas de juros e o Japão divulgar dados fortes de exportação novamente. O evento mais importante foi o primeiro, em que o banco central chinês cortou as taxas de empréstimos de um e de cinco anos depois que o crescimento da segunda maior economia do mundo caiu para 4% em relação ao ano anterior no último trimestre de 2021. Entretanto, a questão permanece se os bancos responderão aumentando os empréstimos, em meio à incerteza sobre as incorporadoras já altamente endividadas.
Na contramão da Ásia, a Europa ajusta preços nesta manhã, com queda dos principais índices por lá, reagindo ao fechamento negativo de ontem (19) nos EUA e aos dados de inflação divulgados nesta manhã (5% de inflação na Zona do Euro pela comparação anual). Os futuros americanos, por sua vez, conseguem sustentar certo otimismo, pelo menos inicialmente.
A ômicron e o choque na cadeia de suprimentos ainda são preocupações, apesar de o porto de Los Angeles ter anunciado volumes recordes de mercadorias processadas em 2021, em linha com a produção recorde de manufatura e forte crescimento do volume de comércio global.
A ver…
Paz e amor
O Brasil, curiosamente, tem conseguido se descolar da dinâmica perversa que afeta os mercados internacionais no curto prazo. Entre os fatores que influenciam este movimento podemos destacar, em primeiro lugar, o fluxo externo e a força das commodities, que ajudam nossos ativos, já muito descontados, a se destacarem frente aos pares estrangeiros
Vale notar duas coisas: i) a política monetária chinesa é positiva para as commodities, o que nos beneficia; e ii) 50% do nosso índice é de commodities e bancos, setores beneficiados pela rotação setorial (de crescimento para valor).
Além disso, também chamou a atenção a entrevista de Lula transmitida pelas redes sociais, na qual o ex-presidente deu sinalizações positivas ao mercado, admitindo eventual aliança com Alckmin, que poderia ser seu vice.
Adicionalmente, o pré-candidato do PT indicou que o BC é uma instituição de Estado e não de governo, bem como ressaltou a necessidade de alianças para governar o país, em linha com o discurso de ouvir diferentes lados da sociedade, se colocando mais ao centro do espectro político. Falou também da reforma tributária, que precisaria ser feita em etapas, e apontou para a necessidade de tributação de lucros e dividendos.
Como o ex-presidente lidera, pelo menos por enquanto, as pesquisas de intenção de voto, o mercado leu de maneira positiva as novas declarações. Hoje, cabe acompanhar a divulgação da pesquisa PoderData sobre sucessão presidencial.
Por fim, investidores ficam de olho na Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e na consulta pública do processo de privatização do Porto de Santos, previsto para ser leiloado no segundo semestre do ano.
Início de ano complicado
O Nasdaq registrou 65 correções (quedas de mais de 10%) desde 1971 e, à medida que reage à volatilidade da curva de juros americana, avança possivelmente para o 66o movimento do gênero, com queda de 7,5% até agora em 2022. Historicamente, 24 das 65 vezes, ou 37% das vezes, resultaram em mercados de baixa (bear market), ou quedas de pelo menos 20% em relação ao pico das últimas 52 semanas. As demais serviram como oportunidade, especialmente as mais recentes, desde o início dos anos 2000.
Depois de um início um pouco turbulento, a temporada de resultados do quarto trimestre finalmente começou a engatar, com alguns números impressionantes de grandes nomes do mundo corporativo. Infelizmente, eles não foram suficientes para superar as preocupações do mercado com os aumentos das taxas de juros. As ações até começaram o dia em território positivo, mas caíram antes do final do pregão.
A tensão segue sendo o aperto monetário nos EUA. Na próxima quarta e quinta-feira, os formuladores de política monetária do Federal Reserve se reunirão, o que deverá gerar volatilidade na véspera. Notadamente, entende-se que os comentários do Fed durante a primeira metade do ano podem alimentar os temores de contração de liquidez até que a inflação atinja o pico. Para piorar a percepção de inflação, as commodities têm um bom começo de ano, em especial o petróleo, que já reage a seu terceiro choque geopolítico em janeiro.
Mais afrouxamento na China
A China cortou suas taxas de empréstimo de referência pela segunda vez seguida para 3,7%, 10 pontos-base abaixo do nível do mês passado, depois que o banco central reduziu os custos de empréstimos de médio prazo no início desta semana, em uma tentativa de apoiar uma economia em desaceleração e que enfrenta uma nova onda de casos de Covid-19 — sem falar da crise energética, do endividamento do setor imobiliário e das repressões regulatórias.
É a primeira vez em 21 meses que a China corta as duas taxas no mesmo mês e, apesar de isso ser esperado pelos mercados, gerou repercussões positivas. Os bancos precificam os novos empréstimos tendo como referência tais taxas. Aparentemente, o banco central agirá mais cedo e com mais força para estabilizar a economia em 2022, um ano politicamente importante para o líder chinês Xi Jinping, que deve romper com precedente recente e buscar um terceiro mandato no poder.
Anote aí!
Lá fora, contamos com a digestão dos pedidos iniciais de seguro-desemprego nos EUA, que podem nos indicar como tem funcionado o mercado de trabalho frente à variante ômicron. Vale acompanhar também o relatório sobre as vendas de casas existentes em dezembro, bem como a continuidade da temporada de resultados por lá — após o fechamento do mercado, a Netflix será a primeira das FAANGs (Facebook, Apple, Amazon, Netflix, Google) a divulgar resultados trimestrais.
Por aqui, em agenda econômica esvaziada, os mercados acompanham o encontro da ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber com lideranças de servidores públicos federais para discutir a extensão do reajuste de salário de policiais às demais categorias. Paralelamente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, realiza uma palestra na 26ª Conferência Anual Latino-Americana do Santander e poderá apresentar mais sinalizações sobre sua política monetária no início de 2022.
Muda o que na minha vida?
Os gases de efeito estufa fecharam o ano passado em alta. À medida que as restrições da pandemia diminuíram em 2021, as emissões de gases de efeito estufa dos EUA aumentaram 6,2%, de acordo com um relatório do Rhodium Group. Isso representa uma virada brusca em relação a 2020, quando as emissões caíram 10% no ano, a maior queda anual já registrada. Apesar de relativamente esperado, os dados fornecem um forte lembrete de que os EUA estão aquém de suas metas climáticas.
O vilão da temporada foi o carvão (19% da geração de eletricidade dos EUA), um dos principais contribuintes para o aumento das emissões de gases de efeito estufa em 2021. O preço do carvão queimado para eletricidade subiu 17% em seu primeiro aumento anual desde 2014, refletindo a dinâmica recente do mercado de atender a demanda excedente de energia com combustíveis fósseis. O mesmo movimento de alta pode ser visto no gás natural, que teve seu preço quase dobrando em 2021, diante do aumento de demanda — gás mais caro faz com que se procure mais carvão.
Ainda assim, apesar da alta no ano passado, os níveis de emissões estão consideravelmente abaixo dos níveis de 2019, em parte devido às interrupções pandêmicas ainda em andamento. De qualquer jeito, pelo menos por enquanto, os EUA não aparentam estar no caminho certo para atingir as metas climáticas do presidente Joe Biden, o que exigiria uma redução de aproximadamente 5% nas emissões a cada ano até 2030. O pacote Build Back Better Act, que almejava destinar mais de US$ 500 bilhões para os programas climáticos, parece que não vai decolar por conta de restrições dos democratas mais moderados.
Não se engane, apesar das dificuldades, os próximos anos devem ser de amplo investimento no setor de energia renovável. O entendimento é de que gradativamente os países vão se esforçar para correr atrás do prejuízo. Claro, isso gerará uma pressão de preços no curto prazo, mas, ainda assim, a transição energética seguirá acontecendo. Em menor grau até 2030 e mais amplamente até 2050. Vale conferir o Vitreo Energia Limpa, para ter exposição ao crescimento desse mercado nos próximos anos.
Um abraço,
Jojo Wachsmann