Pré-mercado: Aquecendo os motores para uma semana que promete
Bom dia, pessoal!
Todos os olhares se voltam para a quarta-feira (16), que contará com as decisões de política monetária do Federal Reserve (Fed), nos Estados Unidos, e do Banco Central do Brasil (BCB ou Bacen).
Curiosamente, são dois eventos que, apesar da mesma natureza, contam com possíveis desfechos distintos. Por lá, o debate sobre a redução da compra de ativos (tapering) deverá marcar o encontro.
Já no Brasil, o centro da questão reside não no ato, mas, sim, no comunicado da autoridade monetária, que pode vir mais contracionista.
A determinação do Reino Unido em estender as restrições atuais relacionadas à pandemia por mais quatro semanas parece não afetar os mercados.
Bolsas europeias abrem em alta nesta segunda-feira (14), bem como os futuros americanos. A ver…
Entre tapas e beijos
Em meio a antecipação no calendário de vacinação de São Paulo, o que é positivo, o mercado se concentra em Brasília, que promete uma semana agitada.
Para ilustrar, a partir de amanhã (15), o governo tentará votar a MP da Eletrobras (ELET3) no Senado, uma vez que a data de expiração da medida é 22 de junho e há resistência na casa legislativa.
Outro fator de destaque se dará na sexta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar uma ação sobre a autonomia do Banco Central – o mercado entende a autonomia como positiva; logo, mudanças aqui podem ter impactos estruturais negativos.
Tudo isso, claro, em meio ao encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que deverá aumentar em 75 pontos base a taxa de juros, colocando-a em 4,25% ao ano.
A maior expectativa não é sobre a decisão em si, mas em relação ao comunicado que a acompanha.
A autoridade poderá remover a menção ao “ajuste parcial” nos juros, uma vez que estamos com IPCA acima de 8% nos últimos 12 meses, IGP-M de mais de 37% e pressão da atividade econômica, que tem sido revisada para cima nas últimas semanas.
O IBC-Br de hoje poderá reforçar esta ideia, influenciando o BC a elevar a taxa de juros para além da neutra (entre 5,5% e 6,5%, a depender do modelo utilizado).
O que esperar do Fed?
Em nível internacional, o grande evento desta semana será a reunião de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC na sigla em inglês).
O banco central está sendo observado de perto para ver como lida com os sinais de inflação e se mantém a visão de que preços mais altos são transitórios.
Até quarta-feira (16), quando a reunião for encerrada e a decisão apresentada, deveremos ter cautela por parte dos investidores. Uma maior volatilidade deverá vir somente após o comunicado, em especial depois do pronunciamento do presidente da instituição, Jerome Powell.
O foco não está na política monetária de curto prazo, com ignorável possibilidade de elevação da taxa de juros, uma vez que os mercados e o Fed não estão preocupados com a inflação.
Alternativamente, a atenção está em falar sobre a redução da compra de títulos (tapering), conforme foi entendido na leitura da ata da última reunião.
Muitos economistas entendem que uma redução do nível de compra de ativos ao longo do segundo semestre seja mais do que saudável, à medida que a demanda por liquidez na economia americana começa a desacelerar.
G7 com desfecho positivo
A principal reunião do G7 – grupo das sete maiores economias industriais do mundo (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) –, realizada na Cornualha, na Inglaterra, correu bem. Muitos assuntos foram discutidos, desde economia verde até tributação.
A reunião, porém, não escondeu as tensões sino-americanas, ainda presentes em nossa realidade.
Muita atenção foi dada ao presidente dos EUA, Joe Biden, que busca reafirmar o domínio dos Estados Unidos no cenário global.
Sobre a agenda sustentável, os resultados foram menos promissores do que o esperado.
Os governos correm o risco de perder uma onda de investimentos se não implementarem políticas significativas para enfrentar a mudança climática após a pandemia.
Os compromissos de redução de emissões para 2030 ou 2035 seguem de pé e deverão nortear as próximas tomadas de decisão, mas maiores negociações só deverão ser vistas em novembro, na reunião sobre clima das Nações Unidas.
Sobre os impostos, os líderes mundiais endossaram formalmente a ideia de um imposto mínimo global (alíquota mínima de pelo menos 15% para empresas multinacionais), a ser levada para o G20 ainda em 2021.
Em relação a China, Biden tentou convencer os aliados a se juntarem a Washington para assumir uma postura mais dura em relação a Pequim em suas ações em Taiwan e Hong Kong – as cenas dos próximos capítulos serão importantes para a estabilidade na região.
Por fim, dois temas específicos chamaram a atenção:
i) há interesse em construir uma alternativa à Nova Rota da Seda, também chamada de Belt and Road Initiative (BRI) – um projeto de infraestrutura gigantesco da China que se estende por mais de 60 países na Ásia, Oceania, África e Europa; e
ii) as economias do G7 também consideram a possibilidade de apoiar a alocação de US$ 100 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para apoiar a vacinação e a recuperação econômica dos países mais necessitados, além de doar doses das vacinas, em linha com o que fez os EUA.
Anote aí!
A agenda para o início da semana é pequena, mas não pouco importante.
Lá fora, o Banco Central da Europa (BCE) contará com falas de seus membros, bem como do líder da autoridade monetária inglesa, o Bank of England (BoE).
Nenhuma das falas deverá dar ao mercado alguma mudança significativa do que já temos visto.
A produção industrial na Zona do Euro, divulgada pela manhã, veio acima do esperado, crescendo 39,3% na comparação com abril do ano passado (efeito base aqui, por isso o crescimento foi excelente).
No Brasil, Boletim Focus, Balança Comercial semanal e o IBC-Br (proxy do PIB) de abril, que deverá avançar 1,20% na comparação com o mês anterior, são os destaques.
Muda o que na minha vida?
Os gargalos das cadeias de suprimentos continuarão a ser um assunto quente durante a segunda metade de 2021.
Nos últimos meses, houve escassez de gás, gasolina, madeira, chips, trabalhadores e alimentos, apenas para citar alguns.
Com a reabertura total dos EUA, a demanda por quase tudo está aumentando, o que coloca ainda mais pressão sobre os fabricantes que reduziram a produção no ano passado.
O choque entre oferta e demanda é inevitável.
Embora a escassez não vá durar para sempre, a pandemia destacou a fragilidade de nossas cadeias de abastecimento globais.
Deveremos observar se as cadeias de suprimentos voltando ao normal farão com que os temores da inflação diminuam.
Os investidores temem que os preços mais altos possam fazer com que o Fed reduza algumas de suas medidas de estímulo.
As autoridades do Fed, contudo, batem o pé sobre a aceleração da inflação ser “transitória” e estar diretamente relacionada às peculiaridades da economia da era pandêmica.
Os dados divulgados durante o verão americano revelarão se a inflação mais alta é mais permanente do que as autoridades pensavam.
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Jojo Wachsmann