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Pré-Mercado: Apertem os cintos, o dia vai ser complicado para ativos brasileiros

24 maio 2022, 8:16 - atualizado em 24 maio 2022, 8:16
Mais uma troca no comando da Petrobras os políticos devem estar loucos… | Os Deuses Devem Estar Loucos (1980)

Bom dia, pessoal!

Como se não bastasse o dia estar ruim lá fora, os ativos brasileiros ainda terão que enfrentar seus próprios demônios, diante da nova troca de comando da Petrobras (ADRs da estatal caem no pre-market dos EUA). Na Ásia, as ações chinesas caíram acentuadamente nesta terça-feira (24), apesar de os investidores estarem avaliando um possível descongelamento das relações comerciais entre EUA e China depois que o presidente americano indicou cortes de tarifas sobre produtos chineses.

Os mercados europeus acompanham o tom negativo, principalmente depois de i) os dados de manufatura e serviço terem vindo abaixo do esperado e ii) o Reino Unido dizer que está considerando um imposto sobre lucros inesperados sobre geradores de eletricidade. Os futuros americanos também caem nesta manhã. Não há muito para onde fugir nesta terça-feira que promete ser desafiadora para ativos de risco no âmbito internacional e local, com os problemas envolvendo a Petrobras.

A ver…

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Em dia de prévia de inflação, a Petrobras rouba a cena

Se os investidores já estavam ansiosos para a divulgação dos dados da prévia de inflação, o IPCA-15 de maio, imagine agora com os ânimos acalorados por conta da Petrobras.

Ontem (23) à noite, o governo anunciou mais uma mudança no comando da Petrobras, com a saída do recém-empossado (40 dias desde a posse) José Mauro Ferreira Coelho, que será substituído por Caio Mário Paes de Andrade, até então secretário de Desburocratização. Coelho já vinha sendo frito há algum tempo, principalmente depois dos reajustes de preço sob sua gestão.

A notícia arranha mais uma vez a governança da companhia, que passa novamente pela tensão da possibilidade de intervenção. Sobre o tema, o presidente Jair Bolsonaro se reúne com Adolfo Sachsida, ministro de Minas e Energia, devendo discutir mais uma vez a transição.

Enquanto isso, ainda acompanhamos a possibilidade de votação do Projeto de Lei Complementar que desonera as tarifas de energia, telecomunicações e transportes, e também a instalação da comissão especial para iniciar a análise da PEC que altera o sistema tributário brasileiro.

As relações sino-americanas e o mercado imobiliário

Lá fora, nos EUA, a alta de ontem foi estimulada pelos comentários do presidente Joe Biden de que está considerando reduzir as tarifas impostas à China pelo governo Trump, ao mesmo tempo que anunciou um novo acordo econômico com 12 nações do Indo-Pacífico (cerca de 40% do PIB mundial), que visa combater a influência chinesa e aumentar a competitividade americana na região.

O movimento é o primeiro mais enfático da gestão Biden em direção à região desde que tomou posse e pode ser visto de um lado como uma tentativa de descongelar as relações com a China, ao mesmo tempo que tenta frear a defasagem americana para o gigante asiático. Apesar da leitura inicialmente positiva de ontem, os mercados entregam seus ganhos nesta terça-feira, em movimento de correção generalizado.

Em meio às tensões geopolíticas, os investidores americanos também atentam para o mercado imobiliário, que vem sentindo os efeitos dos custos de empréstimos mais altos, com relatos de demanda reduzida. Por isso, vale conferir os dados estatísticos de vendas residenciais em abril. Dados mais fracos podem servir de reforço para o movimento de correção verificado hoje.

O discurso europeu e a bênção para os bancos

Nessa segunda-feira (23), tivemos comentários da presidente do BCE, Christine Lagarde. A chefe da autoridade monetária europeia sinalizou que poderia manter as taxas de juros negativas até o final de dezembro.

Hoje, tal política funciona como um imposto para poupadores e instituições financeiras. Caso de fato os juros negativos cheguem ao seu fim, poderíamos ter uma situação menos problemática para os bancos europeus que ainda teriam que enfrentar o problema do tamanho da dívida na Europa.

Anote aí!

Enquanto é dada sequência ao Fórum Econômico Mundial, investidores se concentram em dados na Europa e nos EUA. No continente europeu, contamos com dados de manufatura e de serviços, os quais tiveram uma digestão negativa até agora. Nos EUA, além dos dados do mercado imobiliário, também temos os índices de Gerentes de Compras de Manufatura e Serviços para maio.

No Brasil, temos o IPCA-15 de maio, com projeções de alta de 0,45% na comparação mensal, e IPC-S Capitais da terceira quadrissemana de maio. No ambiente político, as executivas nacionais do MDB e do Cidadania se reúnem, em separado, para analisar a escolha da senadora Simone Tebet (MDB-MS) como candidata do grupo à Presidência da República, que deve ganhar força após a desistência de Doria. 

Muda o que na minha vida?

Muito se debate sobre a questão do ICMS. Até recentemente, o projeto que tem sido discutido no Congresso gerava efeitos sobre as alíquotas que incidem nos setores de transportes e telecomunicações, além de energia e combustíveis. Mas isso deve mudar. Segundo congressistas, o projeto deve ser alterado para que somente o ICMS sobre energia elétrica e combustíveis seja limitado.

Com isso, o impacto fiscal seria diminuto, se tornando potencialmente menor do que os R$ 45 bilhões que os estados arrecadaram a mais no ano passado. Ainda assim, não deixa de ser polêmico, uma vez que o quadro fiscal é o calcanhar de Aquiles do Brasil. 

Tanto é verdade que os estados já avisaram que o corte no ICMS sobre combustíveis e energia deve levar a aumentos em outras áreas, isso porque apenas o ICMS sobre energia e combustível representou 27,4% da arrecadação dos estados em 2021.

Basicamente, os estados argumentam que não compensar em outras áreas o corte sobre energia e combustíveis seria um descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Sabemos que a medida pode ter um efeito de curto prazo para minimizar os efeitos inflacionários sobre o consumidor. Contudo, o custo estrutural de longo prazo parece muito mais do que o salutar. Estresse fiscal prejudica a percepção dos investidores e inclina a curva de juros, machucando as ações brasileiras mais uma vez.

Um abraço,

Jojo Wachsmann.