Colunista Vitreo

Pré-mercado: Abraçado às tensões políticas

11 mar 2021, 8:29 - atualizado em 11 mar 2021, 8:40
Hank ou Charlie? / Eu, Eu Mesmo e Irene (2000) (Imagem: Divulgação)

Bom dia, pessoal!

Os mercados de ações têm apresentado volatilidade considerável. A alternância diária entre teses de crescimento (nova economia) e teses de valor (economia tradicional) proporciona um aroma de incerteza adicional.

Os estímulos ao redor do mundo, o ruído inflacionário, a saturação da política monetária e os valuations esticados provocam dúvidas nos financistas.

No final, a perspectiva de normalização da economia, por melhor que seja, tem tido a capacidade também de afetar o mercado negativamente. A ver…

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Entre discursos e tensões fiscais

Bastou Lula fazer um discurso para Bolsonaro começar a usar máscara em Brasília. O que uma concorrência não faz, não é mesmo?

Apesar de estarmos longe das eleições de 2022 e ainda haver muita água para passar por debaixo da ponte, as entidades políticas brasileiras já começam a se mobilizar ao redor dos prováveis candidatos.

O problema é o impacto que isso causa com o que restou na agenda econômica do governo e se isso resultaria em um Bolsonaro mais populista, com receio de perder espaço para Lula — os mercados precificam isso.

Ficou para hoje (11) a votação do segundo turno da PEC Emergencial na Câmara, que ontem dedicou tempo para votar os destaques. Sob a ótica positiva, foi derrubado o destaque do PT que suprimia o trecho da PEC Emergencial prevendo o congelamento dos salários.

A indecisão sobre esse ponto ao longo do dia deixou o mercado em dúvida sobre a nova composição de Bolsonaro no Congresso. Com câmbio estressado e fiscal incerto, a reunião do Copom da próxima quarta (17) deverá subir juros, resta saber quanto (25, 50 ou 75 bps).

Estímulos aprovados

O movimento mais importante dos primeiros cem dias de governo Biden foi concluído ontem pela Câmara dos Representantes, que deu sinal verde ao plano de estímulo econômico de US$ 1,9 trilhão, abrindo caminho para um dos maiores pacotes de ajuda na história dos EUA.

A proposta coloca de pé pagamentos de US$ 1.400 para a maioria dos americanos, expansão do seguro-desemprego, financiamento para escolas e saúde pública, pagamentos em dinheiro de pelo menos US$ 3.000 por criança por um ano, expansão dos subsídios do Obamacare por dois anos e ajuda para pequenos negócios, governos estaduais e locais.

O consenso entre os economistas é que o estímulo vai impulsionar a economia e turbinar a recuperação, mas há também aqueles que levantaram preocupações de que a escalada dos gastos poderia levar a um aumento da inflação, assim como preocupações sobre o que isso pode significar para a dívida nacional.

Sobre o primeiro ponto, os dados de ontem da inflação dos preços ao consumidor nos EUA foram ligeiramente mais baixos do que o esperado.

Ainda que haja defasagem na cesta de consumo medida, o mercado está tão obcecado com a inflação que qualquer coisa que não seja uma leitura acima das expectativas provavelmente provoca uma reação.

Mais relaxamento monetário

Hoje teremos, adivinhem só, reunião do Banco Central Europeu (BCE)! Em termos de política, ninguém espera que a autoridade mude alguma coisa do que já tem feito, uma vez que a atual presidente, Christine Lagarde, é veemente defensora do gradualismo na condução da futura remoção dos estímulos hoje colocados.

Hoje, os custos de empréstimos do governo são extraordinariamente baixos e as restrições relacionadas à pandemia, em vez do custo do crédito, estão limitando o crescimento econômico.

Fica a expectativa, porém, de eventuais novos horizontes para 2022 e 2023, bem como comentários sobre a alta da expectativa de inflação, estresse nos mercados de títulos, derivado de uma maior inclinação na curva de juros, e também quanto aos movimentos cambiais verificados, sinalizando uma vitalidade do dólar maior do que o esperado — há quem diga que o processo de vacinação esteja devolvendo a coroa para o dólar.

Anote aí!

No Brasil, a novidade do dia é o índice oficial de inflação ao consumidor, o IPCA. Ainda que o indicador não deva mudar o prognóstico de alta da Selic no próximo encontro do BC, uma medida muito acima do esperado pode migrar uma parcela das apostas, hoje mais concentradas entre 25 bps e 50 bps, para algo mais agressivo, entre 50 bps e 75 bps.

Dados mistos no exterior, da China (acima do esperado) e dos EUA (abaixo), não ajudam em nada para termos uma maior sensibilidade do momento.

Por falar em exterior, hoje teremos os tradicionais dados iniciais de pedidos de seguro-desemprego nos EUA, diante da enorme capacidade ociosa no mercado de trabalho americano.

Na Europa, por sua vez, toda a atenção ficará sobre a reunião do BCE, que define sua taxa de juros hoje.

Muda o que na minha vida?

O euro cai algo por volta de 3% em relação ao dólar desde o início do ano, servindo de revés para a teoria de um dólar mais fraco.

Veja, os financistas concordavam que a divisa americana, que disparou um ano atrás quando a Covid-19 fez os mercados entrarem em parafuso, estaria diante de um período de maior fraqueza, frente à retomada das economias e de um maior grau de fluxo comercial.

O problema? Ninguém contava com a volatilidade no mercado de títulos, decorrente da alta das expectativas de inflação. Agora, o dólar está fortalecido em cerca de 2% este ano em relação a uma cesta de outras moedas importantes, o DXY.

Em poucas palavras, uma alta das taxas de juros, por menor que seja, atraiu na margem ativos para o mercado americano, apreciando a moeda.

Além disso, à medida que as campanhas de vacinação ganham força, os investidores estão cada vez mais confiantes de que haverá um boom de atividade nos Estados Unidos até o final de 2021.

Logo, embora a moeda tenda a se enfraquecer durante períodos de condições financeiras frouxas, como o caso atual, bem como quando há expectativas de crescimento global sincronizado, ela geralmente se valoriza quando a economia dos EUA está melhor do que a de seus pares.

Essa lacuna se reflete nas estimativas de crescimento em 2021 que trouxemos ontem para este espaço. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projeta que a economia dos EUA crescerá 6,5% neste ano, enquanto os 19 países que usam o euro teriam uma expansão mais moderada de 3,9%.

De qualquer forma, mesmo que o dólar mantenha uma trajetória mais forte no médio prazo, os ganhos da moeda provavelmente serão temporários.

Claro, um dólar mais forte no mundo é especialmente ruim para países emergentes, como o Brasil. Temos sentido isso aqui; entre as variáveis que afetam a cotação do câmbio, a força do dólar no mundo e o risco-país influenciam muito. É o que tem acontecido agora, com muito ruído no radar.

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Jojo Wachsmann