Colunista Vitreo

Pré-mercado: A Super Quarta chegou

16 jun 2021, 8:48 - atualizado em 16 jun 2021, 8:55
Indo de encontro ao perigo: a Super Quarta chegou / Capitão América: Guerra Civil (2016)

Bom dia, pessoal!

O inverno brasileiro, marcado para começar no dia 21 de junho, chegou mais cedo.

As tensões envolvendo Brasília e a política monetária pressionarão os mercados no dia de hoje.

Em uma quarta-feira (16) com naturalmente mais volume e volatilidade devido ao vencimento dos contratos futuros do índice, que deverá movimentar o Ibovespa, investidores locais prestam atenção na decisão de política monetária no Brasil e nos EUA.

Os futuros de ações dos EUA se mantêm estáveis nesta manhã, após uma terça-feira (15) de correção em movimento de cautela para o evento de hoje. A ver…

Quem vai pagar para ver?

Em meio à situação preocupante dos reservatórios de água no Brasil, o governo federal se prepara para enfrentar uma crise hídrica que poderá ter desdobramentos em uma crise energética também.

Em Brasília, parece haver falta de acordo político para a votação da MP da Eletrobras, pautada para esta semana (talvez hoje) no Senado.

Ainda assim, o foco desta quarta-feira é a decisão de política monetária aqui no Brasil, a ser divulgada pelo Copom às 18h30, depois do fechamento do mercado.

Em grande parte o movimento a ser feito já está contratado, em uma elevação de mais 75 pontos-base, levando a Selic para 4,25% — há uma ala no mercado que pondera a possibilidade de um tom ainda mais hawkish (contracionista), levando a Selic a 4,5%, mas é minoria.

O jogo de verdade reside no comunicado que acompanha a decisão, que poderá perder o trecho que trata do “ajuste parcial” dos juros, presente desde o início do processo de normalização da taxa.

A depender do movimento da autoridade monetária, o mercado poderá reagir de diferentes formas.

De maneira geral, um ajuste além do contratado ou um tom mais hawkish do que temos visto poderá tranquilizar os investidores sobre a possibilidade de uma inflação com contornos mais estruturais no futuro.

No entanto, poderia prejudicar a retomada da economia nacional no segundo semestre.

O foco é a inflação

O resultado da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) virá após o fechamento dos mercados europeus, acompanhado ainda de uma entrevista coletiva com o presidente Jerome Powell, às 15 horas no horário de Brasília.

Espera-se que o banco central mantenha sua política de afrouxamento monetário inalterada e continue seu programa de compra de títulos, mesmo em meio ao aumento da inflação.

Apesar da elevação do patamar de preços, o Federal Reserve (Fed) deve sinalizar que não vai mudar a política de taxas de juros tão cedo, pelo menos não até o final de 2022.

O cenário é desafiador: alta de 5% do índice de preços ao consumidor em relação ao ano passado, com preços ao produtor subindo 6,6%. Espera-se que a declaração do Fed repita a frase de que a alta da inflação reflete em grande parte fatores transitórios.

Outro fato que chama a atenção é que o Fed ainda está comprando US$ 80 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos privados a cada mês (US$ 120 bilhões no total), a fim de apoiar a economia.

Espera-se que as autoridades discutam a desaceleração ou redução das compras de ativos, mas apenas de forma preliminar, sem traçar nenhum plano.

Um desenho mais assertivo sobre o tema deverá vir somente na Conferência de Jackson Hole, em agosto.

A normalização do crescimento chinês

Os dados econômicos da China mostraram uma normalização do crescimento em maio, com a produção industrial, vendas no varejo e o investimento em ativos fixos abaixo do esperado, em um processo de desaceleração em relação ao ritmo observado em períodos do ano anterior.

Tal arrefecimento ocorre à medida que o efeito base favorável desaparece. Todas as economias passarão por isso em um segundo momento no pós-pandemia.

A produção industrial cresceu 8,8% em maio em relação ao ano anterior, desacelerando frente ao ritmo de 9,8% de abril, enquanto as vendas no varejo, um indicador chave do consumo da China, aumentaram 12,4% no ano em comparação com o crescimento de 17,7% em abril.

Por fim, os investimentos em ativos fixos aumentaram 15,4% no período entre janeiro e maio, abaixo do ritmo de 19,9% registrado no primeiro quadrimestre. A desaceleração é notável.

De todo modo, a taxa de crescimento mais lenta foi amplamente antecipada pelo mercado, uma vez que a economia chinesa começou a se recuperar da pandemia de coronavírus com mais força antes do Ocidente.

Anote aí!

Nesta Super Quarta, os eventos do dia são as reuniões de política monetária no Brasil e nos EUA, não há muito como fugir.

Para além deles, porém, poderemos contar com alguns desdobramentos também interessantes.

Aqui no Brasil, atenção para a tentativa de votação da MP da Eletrobras, que tem até dia 22 para ser votada, e para a primeira reunião da comissão especial sobre a Reforma Administrativa.

Fluxo cambial semanal e IPC-S da segunda quadrissemana de junho estão na agenda de indicadores econômicos.

Lá fora, o encontro de Biden com Putin estremece a cobertura geopolítica, mas não deve fazer preço sobre os mercados.

Nos EUA, construção de moradias e  estoques de petróleo devem trazer alguma volatilidade adicional.

Muda o que na minha vida?

Depois do G7 no fim de semana, o mundo tem acompanhado de perto os desdobramentos do encontro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e dos demais eventos de Biden.

Em suas tratativas, o presidente americano tem pressionado os líderes mundiais a tomarem medidas concretas para conter a influência crescente da China e colocar um grande foco no caminho para a descarbonização.

Qual o resultado? Um projeto de infraestrutura global chamado “Build Back Better for the World” (ou, em português, “construir de volta melhor para o mundo”), em uma adaptação de seu programa de campanha de 2020 “Build Back Better”.

A ideia seria a de criar um plano alternativo e de “maior qualidade” contrário à Iniciativa “Belt and Road” da China, um projeto gigantesco de infraestrutura que visa construir uma Nova Rota da Seda e envolve mais de 60 países na Ásia, África, Oceania, Oriente Médio e Europa.

O novo plano, apelidado por alguns de “Green Belt and Road” ou “Green Marshall Plan” (adaptações do plano com um cunho sustentável — parques eólicos, ferrovias e outros projetos de baixo carbono), seria financiado por bancos multilaterais de desenvolvimento, como o FMI e o Banco Mundial, bem como o setor privado.

Tanto o G7 como a OTAN parecem dedicados a abrir uma frente ampla contrária ao desenvolvimento chinês, usando como retórica uma visão de um mundo mais limpo e mais verde.

Adicionalmente, aos poucos, os líderes prometeram eliminar gradualmente os carros a gás e a diesel, além de fechar as usinas de carvão que não aplicarem tecnologia de captura de emissões o mais rápido possível. Prometeram proteger 30% da terra e dos oceanos do planeta até 2030.

Em uma nota , a OTAN, que inclui muitas nações do G7, indicou que tornaria suas forças armadas neutras em carbono até 2050.

O caminho para os próximos anos em uma tendência mais verde nos parece claro. Foi justamente por isso que desenvolvemos inúmeros produtos em nossas plataformas que visam capturar esse desenvolvimento.

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Um abraço,

Jojo Wachsmann

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