Pré-Mercado: A inflação insiste em não ceder
Bom dia, pessoal!
Lá fora, o mercado de ações asiático caiu bem nesta quinta-feira (12) seguindo o movimento de ontem em Wall Street, à medida que as preocupações com a alta da inflação continuam no radar dos investidores. As Bolsas europeias, que até conseguiram sustentar um bom humor na quarta-feira, recuam na manhã de hoje, acompanhadas pelos futuros americanos, que seguem em queda mesmo depois que o S&P 500 atingiu o menor nível desde março de 2021.
Nem mesmo as criptomoedas salvam os investidores. Os tokens digitais vêm registrando várias quedas em sequência, vítimas da diminuição da liquidez e da demanda mais fraca por ativos especulativos — o Bitcoin caiu mais de 40% neste ano. Ainda assim, as perdas de riqueza em criptomoedas afetam muito poucas pessoas para serem economicamente significativas. Enquanto isso, seguindo a queda das commodities, ativos brasileiros listados no exterior caem nesta manhã.
A ver…
Privatização da Petrobras?
Em seus primeiros movimentos no cargo, o novo ministro de Minas e Energia disse que irá pedir estudos para privatizar Petrobras e PPSA (empresa do Pré-Sal), conforme afirmou na noite de ontem. Claro, são estudos iniciais sobre a proposição das alternativas necessárias para a desestatização da Petrobras, mas o gesto é simbolicamente positivo para o mercado.
Além disso, amparado por Bolsonaro, o ministro ainda defendeu como prioridade concluir o processo de privatização da Eletrobras. Olhando para a frente, elencou entre os próximos projetos prioritários o novo marco do setor elétrico, a modernização dos registros públicos, o novo marco de garantias, o novo marco de securitização e o aprimoramento das garantias para o agro. Tudo isso foi visto positivamente.
Na esteira de uma inflação que atingiu mais de 12% em 12 meses, tendo vindo 6 pontos-base acima do esperado na comparação mensal (1,06% de alta em abril), os investidores seguem preocupados com a reação do Banco Central — chamou a atenção a alta da difusão (aproximadamente 8 em 10 produtos da cesta do IPCA subiram de preço), o que mostra resiliência inflacionária.
Sobre o tema, o presidente Rodrigo Pacheco se reúne com secretários estaduais de Fazenda para discutir preços dos combustíveis, sendo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, deverá participar. Enquanto isso, policiais federais fazem manifestação por reajuste salarial e o IBGE divulga o resultado do setor de serviços em março — notícias positivas de atividade econômica podem servir de suporte ao Ibovespa.
Uma normalização mais lenta do que o esperado
Ontem (11), a inflação de preços ao consumidor dos EUA caiu um pouco menos do que o esperado. Embora o crescimento do índice de preços ao consumidor em abril tenha sido um pouco menor do que há um mês, o ganho anual de 8,3% ainda ficou acima da previsão dos economistas de 8,1%. Pelo lado positivo, o dado reduziu a chance de uma estagflação pronunciada nos EUA — precisaríamos que a inflação de um item aumentasse ao mesmo tempo em que a sua demanda caísse, o que não acontece.
De qualquer forma, o arrefecimento menor do que o esperado com um núcleo forte foi o suficiente para arruinar qualquer esperança de que tivéssemos atingido um pico de inflação — poderá voltar a subir em um segundo momento, a depender do impacto dos preços ao produtor sobre os consumidores.
O S&P 500 fechou ontem em queda de 1,65%, perto da mínima do dia, chegando perto de atingir a região de bear market (queda de mais de 20%). O Nasdaq, por sua vez, já acumula uma perda de quase 30% desde sua máxima em novembro do ano passado. Entendemos que os preços podem continuar caindo nos próximos meses.
Por isso, hoje será importante acompanharmos a inflação dos preços ao produtor dos EUA para abril. A estimativa de consenso é de um aumento de 10,6% na comparação anual, em comparação com um salto de 11,2% em março, que é o maior já registrado desde que os dados de 12 meses foram calculados pela primeira vez no final de 2010.
Quanto mais tempo a inflação permanecer em alta, especialmente com a dinâmica atual, em que a inflação está sendo impulsionada pelos preços dos serviços com salários e preços agora perseguindo uns aos outros, menos provável será que o Fed consiga projetar um “pouso suave”.
Bons sinais da Ásia
Além dos dados de inflação e das falas de autoridades monetárias, os mercados se animam com a notícia de que a China obteve resultados positivos contra a covid e deverá iniciar o relaxamento dos lockdowns. Além disso, o primeiro-ministro Li Keqiang pediu às autoridades que usem políticas fiscais e monetárias para estabilizar o emprego e a economia — estímulos no gigante asiáticos são bem vistos.
Os surtos de Covid estão minando o crescimento e prejudicando as cadeias de suprimentos globais. Por isso, eventuais notícias de que o processo está arrefecendo deveria ser bom para o mercado, em especial para o segmento de commodities, com o qual nós brasileiros temos uma relação especial. Sobre o tema, depois que o petróleo voltou a subir, temos hoje o relatório mensal da Agência Internacional de Energia.
Anote aí!
A temporada de resultados continua. Por aqui, temos nomes como Americanas, B3, Banrisul, Cogna, Eneva, Eztec, Guararapes, JHSF, Locaweb e Rede D’or. Lá fora, contamos com Brookfield Asset Management, Constellation Energy e Motorola.
Além dos dados de inflação ao produtor, os americanos também aguardam os pedidos iniciais de auxílio-desemprego para a semana que termina em 7 de maio. Por aqui, no Brasil, contamos com um volume de serviços que deve avançar 0,8% em março.
Muda o que na minha vida?
Há uma percepção no mercado de que os mercados não vão se acalmar, mesmo que a inflação tenha atingido o pico. Ainda não sabemos se de fato é o caso, uma vez que os próximos meses podem mostrar outra aceleração dos preços ao consumidor, em especial por conta de um efeito de repasse de preços da inflação ao produtor para o consumidor — 70% das empresas aumentaram os preços nos últimos três meses.
Por isso, faz sentido que os investidores não comecem a comemorar ainda. Outro motivo para isso é que a inflação começou a subir acentuadamente na última primavera, o que significa que as comparações anuais podem parecer um pouco menos atraentes. No entanto, a dinâmica subjacente que empurra os preços para cima permanece existindo, sem muitos sinais claros de arrefecimento.
Na ausência de grandes melhorias nas cadeias de suprimentos e tensões geopolíticas, a queda para a meta de 2% de inflação nos EUA será muito lenta e pode não ser alcançada até o final de 2023. O mesmo poderá acontecer com o Brasil, que só deverá colocar o patamar de preço dentro de um horizonte razoável entre 2023 e 2024.
Um abraço,
Jojo Wachsmann