Pré-Mercado: À espera da ata do Fed
Bom dia, pessoal!
Internacionalmente, nesta manhã, os preços das ações globais caem, depois que os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA atingiram as máximas de vários anos na terça-feira (5), com os investidores apostando que o Federal Reserve poderá indicar o encolhimento de seu balanço no documento a ser divulgado hoje para a reunião do próximo mês, além de um grande aumento da taxa de juros.
Além disso, os investidores também aguardam os detalhes do mais recente pacote de sanções coordenadas dos Estados Unidos e seus aliados contra a Rússia pelos assassinatos de civis na Ucrânia.
Na Ásia, com a volta de alguns mercados depois do feriado, investidores se concentram nos dados de atividade do setor de serviços da China, que mostrou desaceleração e veio pior do que o esperado (o mês de março registrou a queda mais rápida em dois anos).
Trata-se já dos efeitos dos lockdowns que se estendem por várias regiões do país. O mau humor do fechamento na Ásia é mimetizado pelos mercados europeus, que também têm uma manhã difícil.
A ver…
Agitos na capital federal
Em Brasília, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado volta a discutir a proposta de emenda à Constituição que trata da reforma tributária. Apesar de não ser considerada como factível pelo mercado, até mesmo porque seus efeitos não seriam tão promissores, um gatilho positivo poderia ser útil para o mercado brasileiro.
Fora isso, ainda na capital federal, a Comissão de Relações Exteriores do Senado ouve o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, sobre os impactos que o Brasil vem sofrendo devido ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e os líderes partidários da Câmara se reúnem para escolher quais e quantas das 25 comissões permanentes cada legenda ou bloco presidirá neste final de legislatura — movimentações que possam se relacionar com as eleições de 2022 ainda não são acompanhadas pelo mercado.
Enquanto a paralisação dos servidores continua reivindicando reajuste salarial, os investidores aguardam o IGP-DI de março, que também deve mostrar aceleração de 2,1% no mês, segundo a mediana das estimativas — o dado servirá de aquecimento para o IPCA de sexta-feira (8). A questão dos preços preocupa bastante a todos, em especial o governo, que também tem que lidar com a crise de sucessão na Petrobras, sem a definição de um nome para substituir o presidente demitido.
Um banco central mais hawkish (contracionista)
Há uma forte expectativa para a ata do último Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que poderá elevar ainda mais as apostas de um Federal Reserve mais agressivo — o documento diz respeito à última reunião da autoridade monetária, em que houve a elevação da taxa de juros em 25 pontos-base para 0,25% a 0,5% ao ano, o primeiro aumento desde dezembro de 2018. A ata está ganhando uma importante conotação depois das falas de vários membros do Fed.
Ontem, por exemplo, a futura vice-presidente do Fed, Lael Brainard, sinalizou a redução do balanço do Fed, talvez a partir de maio, para além da elevação dos juros. Como ela normalmente tem um perfil mais permissivo e dovish, o discurso enfatizando a necessidade de um aperto monetário chamou a atenção. Os investidores já sabem que as taxas de juros estão subindo mais este ano, mas claramente há um certo nervosismo sobre o risco de aumentos ainda mais rápidos do que se precifica atualmente.
Mais sanções em meio à inflação
Lá fora, uma nova rodada de sanções dos EUA e da Europa contra a Rússia é aguardada pelos mercados, jogando o mundo ainda mais para sua espiral inflacionária e pressionando os bancos centrais a elevarem os juros. Ainda assim, algumas autoridades, como o economista-chefe do BCE, Philip Lane, sugerem que a inflação se normalize até o segundo semestre deste ano. Isso só seria verdade se não houvesse um efeito de custos salariais ou aumentos rápidos de preços de commodities.
O desafio para os bancos centrais é equilibrar a inflação de preços e as pressões de desaceleração do crescimento. Enquanto novas sanções continuarem sendo impostas, tal desafio se provará ainda maior. A Europa agora fala, por exemplo, em proibir as importações russas de carvão — o carvão russo é a fonte de energia mais fácil de banir. Ainda pode não ser o tiro de misericórdia, mas é mais um estresse para a cadeia de suprimentos global.
Anote aí!
No Brasil, destaque para o IGP-DI de março, que deve acelerar 2,10% no mês, e para as pesquisas de sucessão presidencial da Paraná Pesquisas/BGC e da XP/Ipespe. Na Zona do Euro, a inflação de preços ao produtor de fevereiro é aguardada, mas ainda são dados de antes da guerra na Ucrânia. Falas de membros do BCE também são esperadas. Por fim, nos EUA, novas sanções sobre a Rússia devem ser divulgadas hoje. Além disso, falas de autoridades monetárias e ata do Fomc estão na agenda.
Muda o que na minha vida?
Os mercados de grãos já estavam enfrentando gargalos na cadeia de suprimentos, taxas de frete disparadas e eventos climáticos. Agora, eles estão se preparando para mais reviravoltas à medida que as entregas da Ucrânia e da Rússia — que juntas respondem por cerca de um quarto do comércio mundial de grãos — se tornam cada vez mais complicadas e aumentam o espectro da escassez de alimentos.
Além disso, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que tal processo pode se transformar em uma crise global de fome, e uma das principais causas pode ser um pouco surpreendente: o aumento dos preços dos fertilizantes. Em colheitas de escala industrial, agricultores em todo o mundo usam fertilizantes para fornecer às culturas os nutrientes necessários e aumentar os rendimentos.
Como a Rússia é o maior exportador de fertilizantes nitrogenados do mundo, mas, devido às sanções ocidentais após a invasão da Ucrânia, os embarques foram interrompidos, os suprimentos secaram e os preços dispararam.
Em nosso mundo globalizado, a desestabilização em uma região pode levar a consequências devastadoras para outra. Com isso, os preços dos alimentos, que já estavam se aproximando de recordes devido a interrupções na cadeia de suprimentos relacionadas a pandemia, clima conturbado e preços de energia em alta, agora têm na guerra na Ucrânia mais um agravante. A crise alimentar pode chegar em breve.
Um abraço,
Jojo Wachsmann