Mercados

Pré-Market: Volatilidade não é tendência

19 abr 2018, 7:45 - atualizado em 19 abr 2018, 7:45

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O rali dos metais básicos continua lá fora, mas os mercados internacionais já não mostram tanto fôlego para esticar os ganhos. Após uma sessão positiva na Ásia, as principais bolsas europeias oscilam na linha d’água, ao passo que os índices futuros das bolsas de Nova York sofrem para encontrar uma direção nesta manhã. Desse modo, fica a sensação de que o comportamento de ontem da Bolsa brasileira e do dólar significa mais volatilidade – e não uma tendência.

A agenda econômica segue fraca nesta quinta-feira, o que tende a deixar os mercados financeiros novamente mais soltos, em busca de uma disposição mais firme, embora o vaivém tenha sido a marca recente dos negócios pelo mundo. A conferir, então, se irá predominar mais um dia em que “no news is good news” – o que favoreceu ontem a retomada por ativos de risco.

A amenização das situações geopolíticas e comerciais no exterior combinada com resultados favoráveis nos balanços das empresas nos Estados Unidos tem garantido certa resiliência aos mercados internacionais e, principalmente domésticos, em meio às incertezas no contexto político e jurídico no Brasil. Por isso, a Bolsa segue orbitando em torno dos 80 mil pontos e o dólar, na faixa de R$ 3,40 – ora em alta, ora em baixa – sem nenhum fluxo novo.

Ao que tudo indica, os negócios locais estão dando indícios de que estão procurando comprar qualquer nome que tenha, ao menos, um discurso decente sobre como irá conduzir o país a partir de 2019. Bastou, portanto, certa inclinação dos candidatos Marina Silva e Joaquim Barbosa à direita, sinalizando que as reformas estruturais e o ajuste fiscal são prioridade, para que o mercado não se sentisse tão órfão e passasse a ficar mais otimista com o cenário eleitoral.

O problema é que as incertezas em relação ao pleito em outubro continuam e já vêm afetando o cenário econômico, diante das evidências de que a atividade insiste em andar de lado, comprometendo a recuperação firme do emprego, da renda e, consequentemente, do consumo. Ao mesmo tempo, as dúvidas sobre a pauta econômica do próximo governo e o apoio do Congresso adiam as decisões de investimento dos empresários.

Diante de tantas candidaturas e cenários, a única certeza é de que as eleições presidenciais deste ano tendem a manter a tensão no negócios locais no curto prazo. Afinal, é o eleitor quem decide, nas urnas, o futuro presidente. Nesse cenário, não se pode perder de vista a influência do ex-presidente Lula como cabo eleitoral, mesmo preso, diante do grande número de eleitores que se mostram indecisos ou ainda sem candidato.

Hoje, a Suprema Corte retoma as questões preliminares sobre o pedido de habeas corpus do deputado Paulo Maluf. Em uma delas, ainda será decidido sobre a possibilidade de os ministros derrubarem ato de um dos integrantes, o que poderia beneficiar o líder petista. A decisão tende a ser apertada, mas a tendência é de que o placar contrário vença.

Nesse ambiente, apenas o mercado doméstico de juros tende a seguir como positivo, com os prêmios de risco oferecidos ancorados pela queda da taxa básica (Selic) e um cenário benigno da inflação (em meio às surpresas negativas de crescimento). O mesmo não se pode dizer sobre a curva implícita de juros futuros nos EUA.

Nesta semana, a diferença entre os títulos norte-americanos de curto prazo e de longo prazo atingiu o menor nível em pouco mais de 10 anos, estreitando o prêmio pago pelos papéis e refletindo a percepção de que o Federal Reserve manterá o ritmo gradual no processo de aperto monetário por um bom tempo. Assim, ganha força apenas três altas até o fim do ano.

O problema é que com a atividade aquecida e ainda sem se refletir na inflação, o ciclo de aumento dos juros norte-americanos pelo Fed só poderá ser mais contido desde que o crescimento dos EUA siga constante e sem pressão sob os preços. Desse modo, o que a curva de juros do país está alertando é uma iminente desaceleração econômica – quiçá, uma recessão.

Afinal, com o fim dos estímulos monetários, os juros de prazo mais longo deveriam subir também, em meio à restrição da liquidez financeira, com os investidores colocando seus recursos em ativos seguros. Mas o que os investidores consideram é que os programas de alívio (QE) continuarão intactos. Há, portanto, uma relação de perda e ganho implícita.

Talvez seja por isso que os mercados internacionais tentam recompor o fôlego nesta manhã, antes de seguir em frente. O desempenho errático em Wall Street, em meio à estabilização nos negócios com Treasuries, com a T-note um pouco abaixo de 2,9%, reduz o ímpeto das bolsas europeias, após uma sessão positiva na Ásia. O dólar também está de lado.

Ainda assim, os investidores tentam se apoiar na perspectiva de crescimento econômico global, o que sustenta um rali nos metais básicos, como o níquel e o alumínio, e também no petróleo, diante da redução dos estoques nos EUA. Já o ouro é negociado no maior nível em mais de dois meses, cravando a quinta alta seguida.

Entre os indicadores programados para o dia, no Brasil, saem dados sobre a confiança da indústria em abril, às 8h e às 11h. No exterior, destaque apenas para os dados dos Estados Unidos sobre os pedidos semanais de auxílio-desemprego e a atividade regional na Filadélfia em abril, ambos às 9h30, além dos indicadores antecedentes em março (11h).

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