Mercados

Pré-Market: Transição de poder

05 nov 2018, 8:33 - atualizado em 05 nov 2018, 8:33

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O noticiário político segue em foco no Brasil, com a viagem do presidente eleito, Jair Bolsonaro, amanhã para Brasília, onde se reúne, na quarta-feira, com o atual presidente Michel Temer, dando início à transição de poder. Os investidores seguem à espera de novos anúncios do próximo governo, capazes de reafirmar a intenção com o ajuste fiscal e as reformas estruturais. Nos Estados Unidos, o cenário eleitoral também está no radar.

O payroll foi o evento menos relevante na última sexta-feira, feriado no Brasil, sem novidades na criação de 250 mil postos de trabalho nos EUA em outubro, acima das 208 mil novas vagas previstas, e na manutenção da taxa de desemprego no nível mais baixo desde 1969, em 3,7%. Os sinais de pressão inflacionária também permaneceram, com os salários crescendo no ritmo mais elevado em nove anos, em +3,1%, no confronto anual.

O que chamou mesmo a atenção ao final da semana passada foi a declaração do presidente norte-americano, Donald Trump, em tom de otimismo sobre a relação comercial com a China. Ele disse que ambos os países estão muito próximos em fazer um acordo, mas o assessor econômico, Larry Kudlow, negou que um esboço de um acordo sino-americano tenha sido solicitado pelo presidente. Um encontro de líderes deve ocorrer no fim do mês.

Já nesta segunda-feira, durante a primeira feira de importação na China, em Xangai, o presidente chinês Xí Jìpíng, reagiu contra as práticas comerciais protecionistas defendidas. Em um discurso velado a Trump, Xí afirmou que “a política de empobrecer o vizinho” tende a levar à estagnação global, com as ações da “lei da selva” e do “vencedor leva tudo” resultando em um “beco sem saída”. Ele também disse que a China continuará promovendo a globalização e prometeu impulsionar a demanda doméstica, cortando ainda mais as tarifas de importação e abrindo o mercado consumidor chinês.

Com isso, não se sabe o quanto do discurso de Trump é apenas “politicagem” para evitar uma derrota do partido nas eleições legislativas (midterm elections), que acontecem amanhã e podem definir os últimos dois anos do mandato de Trump bem como uma tentativa de reeleição dele, em 2020. O presidente tem sido um cabo eleitoral ativo e até aproveitou os “números incríveis” do payroll para estimular o “voto republicano”.

Durante o fim de semana, Trump fez comícios em vários estados. Segundo as pesquisas eleitorais, os Democratas devem assumir o controle da Câmara dos Representantes, enquanto no Senado a mudança de comando é menos provável, já que apenas 35 dos 100 assentos serão submetidos à votação. O resultado oficial deve ser conhecido até a madrugada de quarta-feira.

Com isso, os índices acionários norte-americanos reduziram as perdas na sexta-feira, mas encerraram a sessão final da semana passada em queda, interrompendo uma sequência de três altas consecutivas. O Dow Jones caiu 0,4%, enquanto o S&P 500 teve queda um pouco maior (0,6%) e o Nasdaq recuou mais de 1%.

Já o barril do petróleo registrou a quarta semana seguida de queda, aproximando-se da faixa de US$ 60, em meio ao início das sanções dos EUA ao Irã, a partir de hoje, enquanto o dólar ganhou força, principalmente em relação ao euro, com relatos de que o Banco Central Europeu (BCE) estuda uma nova rodada de empréstimos de longo prazo aos bancos (LTRO).

Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em baixa, contaminados pelo sinal negativo vindo da Ásia, onde Hong Kong liderou as perdas, com pouco mais de -2%. O yuan chinês (renminbi) caiu um pouco mais, cotado acima de 6,90 por dólar, diante do menor otimismo de um potencial acordo entre EUA e China.

As principais bolsas europeias também abriram no vermelho, sendo que a libra esterlina ganha terreno diante dos avanços na negociação do Brexit. O dólar mede forças em relação às rivais, mas perde terreno para as moedas de países emergentes, como a lira turca e o won sul-coreano. O peso mexicano, porém, afunda, diante de incertezas políticas.

O presidente eleito no México, Andrés Manuel López Obrador, cancelou o projeto de construir um novo aeroporto internacional, orçado em US$ 13 bilhões. Como consequência, a Fitch cortou a perspectiva da nota de risco de crédito (rating) do país para negativa. Já o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) sustenta-se acima de 3,20%, após o payroll reforçar as chances de mais altas nos juros dos EUA.

Entre os indicadores econômicos desta semana, o destaque no exterior fica com a reunião de novembro do Federal Reserve, que termina na quinta-feira. O Fed deve manter a taxa de juros nos EUA em 2,25%, mas sinalizar um quarto e último aumento no custo do empréstimo neste ano, em dezembro, em meio à robustez do crescimento econômico e do emprego.

Dados de atividade nos setores industrial e de serviços nos EUA e na zona do euro recheiam o calendário econômico neste início de semana, enquanto a China anuncia dados de inflação no atacado e no varejo, na quinta-feira, além dos números da balança comercial em outubro, possivelmente um dia antes.

No Brasil, destaque para a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), quando o Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros em 6,50% pela quinta vez seguida e reconheceu melhora no cenário de riscos à inflação. O documento será divulgado amanhã cedo (8h).

Um dia depois, na quarta-feira, sai o resultado de outubro do índice oficial de preços ao consumidor (IPCA), que deve seguir em aceleração em relação à leitura de setembro (+0,48%) e subir 0,55%. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses tende a se afastar um pouco mais da meta perseguida pelo BC, de 4,5%.

No mesmo dia, será conhecido também o IGP-DI do mês passado e, um dia depois, é a vez dos números atualizados sobre a safra agrícola deste ano e o primeiro levantamento com os prognósticos da colheita de grãos em 2019. Também são esperados o desempenho da indústria automotiva em outubro, na quarta-feira. Na safra de balanços, destaque para os resultados trimestrais de Petrobras e Banco do Brasil, entre outros.

É válido lembrar que, com o início do horário de verão no Brasil, a Bolsa passa a funcionar das 10h às 18h. Mas tudo isso tende a ficar em segundo plano, com o foco nos nomes que irão compor o novo governo. A formação do governo Bolsonaro vem agradando aos investidores, com a indicação de perfis mais técnicos para áreas-chave e com ministérios mais enxutos.

Na quinta-feira passada, a nomeação de Sergio Moro como ministro animou os negócios locais. O juiz responsável pela Operação Lava Jato e pela condenação do ex-presidente Lula irá comandar um superministério da Justiça. Apesar das críticas, principalmente da imprensa internacional – que viu na nomeação de Moro uma “recompensa” por tirar Lula da corrida presidencial – foi um grande lance de Bolsonaro poucos dias após ser eleito.

A jogada se soma aos super-poderes dados a Paulo Guedes à frente da Economia. Mais alguns futuros ministros e as prioridades da agenda de governo a partir de 2019 são esperados para os próximos dias, o que tende a sustentar um viés positivo para os ativos brasileiros até o fim deste ano, alimentando uma “onda de otimismo” mesmo após a vitória de Bolsonaro nas eleições. Esse movimento vai depender, daí em diante, do sucesso do governo no Congresso.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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