Mercados

Pré-Market: Títulos em debate

04 out 2018, 8:35 - atualizado em 04 out 2018, 8:40
(A Bula do Mercado)

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O mercado financeiro brasileiro continua de olho nas pesquisas eleitorais, mas é no avanço do rendimento (yield) dos títulos norte-americanos de longo prazo que os investidores estão mais atentos. Sem novidades nos números do Ibope ontem e à espera do Datafolha e do debate na TV Globo hoje, o ambiente externo de menor apetite por risco somado à chance ainda pequena de vitória de Jair Bolsonaro no primeiro turno tendem a esfriar o otimismo local, abrindo espaço para uma realização de lucros.

A robustez da economia dos Estados Unidos reforçou a necessidade de mais aumentos na taxa de juros do país no ano que vem, o que impulsionou o retorno do título de dois anos (T-bill) para o maior nível desde antes do início da crise de 2008. Porém, com o Federal Reserve sinalizando que deve manter o ritmo gradual de aperto monetário, diante do desemprego baixo e da inflação dentro do esperado, os investidores exigiram, então, maior retorno para manter papéis de longo prazo da dívida norte-americana.

Com isso, o yield do bônus de 10 anos (T-note) alcançou o maior nível desde 2011, enquanto o rendimento do título de 30 anos (T-bond) foi à máxima desde 2014. Esse movimento reflete a demanda dos players por mais compensações, diante da crescente incerteza sobre a tomada de decisões do Fed e com a taxa básica de juros dos EUA aproximando-se da taxa neutra – nível em que a política monetária não estimula nem desacelera a economia.

Nesta manhã, a T-note segue negociada acima de 3,20%, o que fortalece o dólar em relação às moedas rivais, ao mesmo tempo que reduz o ímpeto das bolsas. Os índices futuros em Nova York amanheceram no vermelho, penalizando o início do pregão na Europa, após uma sessão de perdas na Ásia. Os bônus europeus  e japoneses acompanham a disparada no rendimento dos papéis norte-americanos, enquanto o yuan chinês (renminbi) caiu a 6,9 por dólar nas negociações offshore. Já o petróleo se afasta das máximas desde 2014.

Esse movimento externo desafia o apetite por risco e tende a interromper o “rali Bolsonaro” nos ativos brasileiros, com o movimento sendo potencializado pelos novos números do Ibope de ontem e pela cautela por mais uma pesquisa Datafolha hoje à noite. No novo Ibope, o candidato preferido pelos investidores por causa do “guru” econômico Paulo Guedes foi de 31% para 32%.

O principal rival, Fernando Haddad, também oscilou em alta, de 21% para 23%. Já Ciro Gomes e Geraldo Alckmin oscilaram em baixa, indo de 11% para 10% e de 8% para 7%, respectivamente, ao passo que Marina Silva ficou estável, com 4%. Votos brancos e nulos foram de 12% para 11%, enquanto os eleitores indecisos somaram 6%, de 5% antes.

Considerando-se apenas os votos válidos – que excluem os votos brancos, nulos e os eleitores indecisos – Bolsonaro tem 38%, estável em relação ao divulgado na segunda-feira, enquanto o candidato do PT subiu de 25% para 28%. O levantamento foi feito nos dois primeiros dias deste mês com pouco mais de 3 mil eleitores e a margem de erro é de dois pontos percentuais.

Ou seja, os números reforçam um favoritismo de Bolsonaro, em meio à percepção de que a sociedade brasileira moveu-se para a direita (e seu extremo), mas ainda estão distantes de confirmar a euforia dos negócios locais no início desta semana com um desfecho favorável já no domingo. Até lá, devem sobrar especulações…

Para vencer já no dia 7, o líder nas pesquisas precisaria conquistar mais da metade dos votos válidos nas urnas. Para tanto, seriam necessários um alto índice de abstenção, desmobilizando os adversários, e um aumento da propagação do voto útil, com uma migração em massa rumo a Bolsonaro solidificando a trajetória de crescimento dele nas pesquisas.

Parece, então, mais uma estratégia pré-eleitoral nesta reta final da campanha. A tendência ainda é de segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. Nesse cenário, permanece um empate técnico, com vantagem numérica para o candidato do PT, com 43% contra 41%. Na simulação anterior do Ibope, ambos estavam com 42%, cada.

Alguns quesitos, porém, podem definir quem terá vantagem no embate final, em 28 de outubro. Um deles é a taxa de rejeição, mas ambos estão com níveis elevados, com 42% para Bolsonaro e 37% para Haddad. Já as manifestações contrárias ao candidato do PSL no último fim de semana antes da eleição içaram a intenção de votos nele – inclusive entre as mulheres.

Há, ainda, o chamado “voto silencioso”, o qual nenhuma pesquisa eleitoral pega. Neste caso, os dois protagonistas da disputa possuem um considerável contingente de votos de eleitores que preferem não externar sua preferência, seja pelas polêmicas em torno de Bolsonaro, seja pelos escândalos de corrupção envolvendo o PT.

Resta saber qual dos dois possui maior força neste quesito. Depois de mais este Ibope, hoje é vez de um novo Datafolha. Ontem e hoje, o instituto está novamente em campo e divulga os novos números à noite, no Jornal Nacional. Horas depois, acontece o último debate entre os presidenciáveis na TV, realizado pela Globo – sem a presença de Bolsonaro.

Hoje também é o último dia da propaganda eleitoral gratuita nos veículos de comunicação. No sábado, Ibope e Datafolha publicam a última sondagem antes do primeiro turno das eleições. Já no domingo haverá pesquisas de boca de urna em diversos estados, com a divulgação dos números logo após o fim do pleito.

Na agenda econômica do dia, o destaque doméstico fica com os números da Anfavea sobre o desempenho do setor automotivo em setembro (11h20). No exterior, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos (9h30) e as encomendas às fábricas em agosto (11h).

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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