Pré-Market: Teste de força
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
Após passar pela Câmara dos Deputados, o decreto de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro foi aprovado ontem pelo Senado, por 55 votos a 13, mas a aprovação das Forças Armadas para comandar as polícias civil e militar no Estado fluminense até dezembro não significa que o governo terá vida fácil no Congresso. Depois de criticar a pauta econômica, Rodrigo Maia elevou o tom com Michel Temer, em meio a uma queda-de-braço com o Palácio do Planalto visando o resultado nas urnas, em outubro.
O pacote requentado de medidas para reafirmar o compromisso com o ajuste das contas públicas não trouxe novidades ao mercado financeiro, uma vez que 11 das 15 propostas apresentadas já tramitam no Congresso. Nem mesmo a decisão de enterrar a reforma da Previdência abalou os investidores, céticos quanto à aprovação da medida. Com isso, o Plano B do governo serviu apenas para direcionar o foco dos negócios locais nas eleições.
Com as reformas sepultadas, a disputa presidencial será o principal condutor dos mercados domésticos e a previsão é de intenso vaivém à frente. O movimento tende a ganhar força só a partir de abril, quando já estarão definidos os principais candidatos. Até lá, os ativos locais tendem a se acomodar, tentando aferir as chances de um nome com viés reformista e liberal ser eleito em outubro para os próximos quatro – ou, quiçá, oito – anos.
E o cenário eleitoral deve ganhar tração no Brasil, à medida em que se consolida o cenário de aceleração da inflação nos países desenvolvidos e de retirada de estímulos monetários por parte dos principais bancos centrais, em meio ao maior crescimento econômico mundial. Nesse ambiente, a volatilidade deve voltar a reinar, com a recente correção nos mercados globais sendo apenas uma prévia do que pode estar por vir.
Assim, é prematuro dizer que a Bolsa brasileira deve alcançar 100 mil pontos, depois de bater um novo recorde ontem, em meio à valorização do dólar ao maior nível em uma semana. Cientes disso, os investidores estrangeiros retiraram quase R$ 5,5 bilhões em recursos alocados na renda variável em apenas sete dias. O movimento foi interrompido apenas na volta do carnaval, mas está longe de resgatar todo aquele apetite dos “gringos”.
Os investidores globais estão mais preocupados quanto ao ritmo do processo de normalização das taxas de juros nos Estados Unidos e qualquer sinalização de aumento mais intenso no custo do empréstimo no país tende a atrair um fluxo financeiro rumo aos títulos norte-americanos (Treasuries). Nesta manhã, o juro projeto pelo papel de 10 anos está estável, abaixo de 2,9%, ao passo que o dólar segue se fortalecendo frente aos rivais.
O leilão de US$ 258 bilhões em títulos dos EUA nesta semana ajuda a sustentar o rendimento das T-note no maior nível em quatro anos, o que reduz a atratividade de ativos mais arriscados, como as ações. Aliás, nas bolsas, o sinal negativo que prevalece em Wall Street não prejudicou a sessão na Ásia, que foi de ganhos, mas atrapalha a abertura do pregão europeu. Nas commodities, o petróleo flutua abaixo de US$ 62 por barril.
Dados preliminares sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos EUA em fevereiro recheiam a agenda econômica desta quarta-feira no exterior, ao longo da manhã. Mas o destaque do dia fica com a ata da primeira reunião de 2018 do Federal Reserve, que marcou a despedida da então presidente, Janet Yellen.
O documento será divulgado às 16h e a expectativa é de que tenha pistas sobre os próximos passos em relação ao ciclo de alta dos juros norte-americanos, já preparando o terreno para o primeiro aperto deste ano, no mês que vem. Também se espera que a ata lance luz sobre o total de aumentos previstos até dezembro, agora que o Fed está sob nova direção.
Por ora, as apostas ainda contemplam chance maior de três altas nos juros do país, com pouco mais de 35% de possibilidade. As demais opções mais fortes se dividem entre apenas dois (27,5%) e até quatro apertos (21%), sendo que a distribuição dessas probabilidades mostra que a dúvida começa após junho, quando deve acontecer a segunda alta de 2018.
A expectativa, então, é de que ata do Fed possa clarear esse cenário, ainda que sob um tom mais duro (“hawkish”). Ainda nos EUA, saem as vendas de imóveis usados em janeiro (12h). No Brasil, o calendário de indicadores está novamente fraco, trazendo apenas mais uma prévia do PIB do país (8h) e os dados parciais do fluxo cambial (12h30).