Mercados

Pré-Market: Tensão alivia, mas emergentes seguem sob pressão

14 ago 2018, 8:10 - atualizado em 14 ago 2018, 8:10

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A situação na Turquia parece ter se acalmado, mas está longe de uma solução. Ainda assim, o mercado financeiro exibe uma recuperação nesta manhã, em um movimento justificado mais pela intensa depreciação dos ativos de risco e a existência de uma força compradora entre os investidores do que por alguma novidade capaz de aliviar a pressão nos países emergentes.

O principal temor nos negócios globais é o risco de contágio, seja por causa das complicações envolvendo o todo-poderoso Donald Trump, seja por causa do fim da era de liquidez global, com o Federal Reserve encabeçando o processo de normalizar as taxas de juros nos países desenvolvidos. Nesse cenário, o Brasil pode até não ser a Turquia nem a Argentina. Mas é tudo país emergente.

A China também entra nessa lista, em meio à guerra comercial com os Estados Unidos, e os indicadores econômicos no país em julho em nada contribuem para um alívio na onda de aversão ao risco, em meio à perda de tração na atividade. A produção industrial chinesa subiu 6,0%, em base anual, repetindo o avanço em junho e ficando abaixo da previsão de +6,4%.

Já as vendas no varejo chinês avançaram 8,8% no mês passado em relação ao mesmo período do ano anterior, desacelerando da alta de 9,0% em junho, na mesma base de comparação. O resultado também foi menor que o esperado (+9,0%). Já os investimentos em ativos fixos em áreas urbanas subiu 5,5% no acumulado do ano, no menor nível desde o fim de 1999.

Em reação, as bolsas de Hong Kong (-0,7%) e Xangai (-0,2%) caíram. Mas foi só. Os demais mercados asiáticos fecharam com ganhos, impulsionados pelo salto de mais de 2% em Tóquio, o que embalou a abertura do pregão na Europa, onde os bancos são os destaques de alta. Os índices futuros das bolsas de Nova York também estão no azul.

Nas moedas, o euro avança em relação ao dólar, que perde terreno até para a lira turca. Contudo, a rupia indiana alcançou nova mínima recorde frente à moeda norte-americana, passando a valer 70 rupias por dólar. Entre as commodities, o petróleo se recupera das perdas e é cotado no maior nível em uma semana.

Ainda assim, o impasse diplomático entre Turquia e EUA se arrasta. O embaixador turco em Washington foi avisado que a Casa Branca não irá negociar enquanto o pastor evangélico, detido em 2016, for solto. No front econômico, a situação do país euro-asiático segue extremamente frágil e o mercado clama por medidas agressivas e ortodoxas para reverter a fragilidade. Qualquer outro movimento será visto apenas como paliativo.

Por ora, o receio do mercado global, de uma contaminação sistêmica da aversão ao risco, não se confirma. A intensa desvalorização dos ativos emergentes abre espaço para os investidores recomporem os preços de ativos considerados mais arriscados, como ações, reduzindo a busca por alternativas mais seguras, como o dólar e os bônus norte-americanos.

Mas o fato é que boa parte dos investidores ainda desfruta das férias de verão no hemisfério norte, fazendo com que os negócios pelo mundo reajam às batalhas comerciais e à crise nos emergentes em meio a um volume financeiro ainda magro, o que provoca alterações bruscas. O feriado nos EUA pelo Dia do Trabalho (Labor Day), no início de setembro, continua sendo a data-chave para o retorno de grandes investidores, dando robustez ao giro e sem provocar maiores distorções nos movimentos.

No Brasil, o mercado doméstico tenta se descolar do ataque especulativo na lira turca e no peso argentino, sob o argumento de que a situação econômica por aqui é bem diferente do observado nesses países. Afinal, o Banco Central possui diferentes ferramentas para impedir um choque no real e possui um colchão de US$ 380 bilhões em reservas internacionais. O Tesouro Nacional também possui liquidez para atuar no mercado de dívida pública.

De fato, o Brasil apresenta pequena vulnerabilidade externa, com um déficit em conta corrente baixo, e a inflação interna segue controlada e abaixo da meta de 4,5%. Apesar disso, a incerteza eleitoral contribui para acentuar a pressão sobre os ativos locais, em meio à corrida presidencial totalmente indefinida e em aberto.

Por isso, o cenário político segue acompanhando de perto, com o foco no fim do prazo de registro das candidaturas na Justiça Eleitoral, amanhã. O mercado financeiro está aborrecido com a espetacularização em torno do pedido de registro do ex-presidente Lula como candidato e a expectativa é de que haja uma maioria sólida no TSE para enquadrar o petista na Lei da Ficha Limpa ainda em agosto.

Já a agenda econômica segue fraca nesta terça-feira, trazendo apenas os números do setor de serviços no Brasil em junho (9h) e os preços de importação e exportação nos Estados Unidos em julho (9h30). Na zona do euro, destaque para o índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha e para números sobre a atividade na região da moeda única, logo cedo.

Além disso, a temporada de balanços de empresas brasileiras chega ao fim hoje, com destaque para os demonstrativos contábeis do setor de energia elétrica no segundo trimestre deste ano, após o fechamento do pregão local. Também serão divulgados os resultados financeiros dos frigoríficos JBS e Marfrig.

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