Mercados

Pré-Market: Semana decisiva

22 out 2018, 8:31 - atualizado em 22 out 2018, 8:43

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A semana começa com a expectativa pela votação em segundo turno das eleições presidenciais, no domingo. Até lá, a cautela deve marcar o pregão no mercado financeiro, com os investidores atentos ao noticiário e às pesquisas eleitorais. As manifestações de apoio aos dois candidatos em várias cidades brasileiras deram a largada para a reta final da disputa, enquanto a Justiça Eleitoral faz cena sobre as fake news no WhatsApp.

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A presidente do TSE, Rosa Weber, esperou até domingo para dizer que não há uma “resposta pronta” em relação à denúncia de disparo em massa de mensagens falsas pelas redes sociais, por meio de contratos de até R$ 12 milhões, bancado por empresários. Mas reiterou que toda “desinformação deliberada” deve ser combatida com “informação responsável e objetiva”.

Segundo ela, há um tempo legal para uma resposta e as ações judiciais não podem ser movidas por “paixões políticas”. Nesse caso, o prazo para cassar uma chapa por denúncia de doação eleitoral ilegal (caixa dois) e abuso de poder econômico vai além do segundo turno – mesmo após a eventual vitória do candidato no pleito e a diplomação para o cargo.

Esse seria o pior cenário, tornando Jair Bolsonaro inelegível por oito anos, e é um risco que os investidores descartam totalmente. Ainda assim, o assunto trouxe algum ruído ao mercado financeiro brasileiro, ofuscando o otimismo com a primeira derrota do PT na disputa pelo Palácio do Planalto deste século, com Fernando Haddad ficando em segundo lugar.

Os desdobramentos da denúncia devem seguir no radar dos negócios locais. Ao mesmo tempo, os atos do fim de semana a favor de Bolsonaro e de Haddad servem de aperitivo das paixões políticas “exacerbadas” e dos “graus inquietantes” dos níveis de discórdia, conforme palavras de Rosa Weber, que marcam este segundo turno das eleições presidenciais.

No sábado, manifestantes gritavam “Ele Não”, com slogans contra o fascismo, a favor da democracia, pelos direitos humanos e em defesa da liberdade de expressão. Ontem, apoiadores com uniformes da seleção brasileira carregavam bandeiras do Brasil, fazendo o sinal de arma com as mãos, ironizando o ZapGate aos gritos de “Fora PT”, contra a esquerda e os comunistas.

Enquanto isso, lá fora, Donald Trump dá sinais firmes de que estamos mesmo em uma viagem de volta ao passado.

A retirada unilateral dos Estados Unidos do tratado nuclear com a Rússia, assinado nos tempos de Guerra Fria, no fim dos anos 80, entre os presidentes Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, disparou um sinal de alerta na comunidade internacional, que já vem abalada pela posição cortês de Washington em relação à Arábia Saudita após a morte de um jornalista.

Trump disse que os EUA vão desenvolver armas nucleares, a menos que Rússia e China concordem em interromper o desenvolvimento de mísseis balísticos de médio alcance. Pequim não faz parte do acordo e o Kremlin avalia que a decisão da Casa Branca coloca a segurança global em risco, levando Moscou a uma retaliação técnico-militar.

Mas o rally nas bolsas da China nesta segunda-feira ofusca essa tensão geopolítica. A Bolsa de Xangai subiu mais de 4%, no maior avanço desde março de 2016, e a de Hong Kong teve alta de cerca de 2,5%, embaladas por um coro de comentários tranquilizadores de líderes e dos principais reguladores sobre a situação do país.

Em uma carta, o presidente chinês, Xi Jinping, prometeu apoio “inabalável” ao setor privado, que tem papel fundamental na inovação e no emprego. O governo chinês também planeja reduzir os impostos sobre a renda pessoal, em mais um sinal de que o consumo doméstico deve ser uma importante força motriz para o desenvolvimento social e econômico do país.

Os mercados no Ocidente pegam carona nos ganhos firmes na China, mantendo o sinal positivo entre as principais bolsas europeias e nos índices futuros em Nova York. O euro também se fortalece, aliviado pela decisão da Moody’s de afastar, por ora, a ameaça de reduzir a nota de crédito da Itália (rating) para a categoria “junk”.

A agência de classificação de risco reduziu o rating do país para Baa3, no último nível entre os países que têm grau de investimento, mas manteve a perspectiva estável. As moedas e ações de países emergentes também avançam. Entre as commodities, o barril do petróleo tipo Brent testa a faixa de US$ 80, enquanto o do tipo WTI flerta com o nível de US$ 70.

No calendário econômico, o destaque doméstico fica com a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), amanhã. Ao longo da semana, saem índices de confiança dos mais diversos agentes econômicos, a começar pela indústria, hoje (8h). Na sexta-feira, destaque para o comportamento dos preços no atacado (IPP) no mês passado.

Em termos de pesquisa eleitoral, merece atenção os levantamentos da CNT/MDA hoje (12h) e do Ibope, amanhã. Já os debates entre os presidenciáveis na TV seguem suspensos, por questão estratégica. Também tem início a temporada de balanços brasileira, com destaque para os resultados trimestrais de Vale, Ambev, Fibria e Via Varejo, a partir de quarta-feira.

No exterior, os eventos de destaque ficaram reservados para o fim da semana. Na quinta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) anuncia a decisão de juros na zona do euro. Um dia depois, saem a primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no terceiro trimestre deste ano e o índice de confiança do consumidor norte-americano.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
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