Pré-Market: Questão política
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
A paralisação do governo dos Estados Unidos entra no terceiro dia, após os congressistas norte-americanos falharem em alcançar um acordo capaz de permitir um funcionamento dos serviços públicos neste início de semana. As negociações entre republicanos e democratas devem ficar no foco dos mercados financeiros, com os investidores tentando assimilar o impacto do chamado shutdown no recente rali. Já os negócios locais só querem saber do julgamento do ex-presidente Lula, que pode decidir a eleição deste ano.
Por ora, no exterior, a grande pergunta é se o shutdown do governo dos EUA também vai interromper o fôlego de alta dos ativos de risco. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão no vermelho nesta manhã, o que contamina o pregão na Europa e deixou misto o desempenho na Ásia, após líderes do Senado norte-americano não concordarem em questões sobre a imigração e outros pontos.
O dólar, por sua vez, tenta recuperar parte do terreno perdido, mas o euro é sustentado pelo acordo político firmado pela chanceler alemã Angela Merkel, depois de meses de indefinição. A expectativa é de que os investidores consigam absorver o impacto vindo da notícia de paralisação do governo norte-americano, devido ao efeito limitado na economia.
A tendência é de que os negócios não sejam afetados, mas se houver um retrocesso nas negociações no Congresso dos EUA, ou mesmo um impasse entre os dois principais partidos, pode ser um gatilho para embolsar os ganhos recentes e abrir novas oportunidades de compra dos ativos. A última vez em que houve um shutdown nos EUA, em 2013, os mercados avançaram.
Na agenda econômica no exterior, as atenções se voltam para as leituras preliminares do Produto Interno Bruto (PIB) nos EUA e no Reino Unido, ambos na sexta-feira. Antes, saem números do setor imobiliário norte-americano, mas o calendário lá fora está esvaziado hoje. O destaque fica apenas com a decisão de política monetária do Banco Central do Japão (BoJ), à noite. Na quinta-feira, é a vez do BC europeu (BCE) decidir sobre os juros na zona do euro. Antes, saem dados de atividade e de sentimento na região da moeda única.
No calendário doméstico, destaque para a prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) em janeiro. O indicador será conhecido amanhã e a previsão é de que os preços continuem salgados, diante do fim da contribuição favorável vinda da queda nos preços dos alimentos e em meio aos reajustes nos combustíveis e nas tarifas de transporte público, além da pressão típica do período vinda da Educação.
Mas o grande destaque desta semana no Brasil está fora da agenda de indicadores e eventos econômicos, pois se trata de um acontecimento no front político, que pode deixar mais claro o cenário para a disputa eleitoral. A decisão do chamado TRF4, em Porto Alegre, sobre o caso do tríplex no Guarujá (SP) pode tirar Lula do jogo em outubro, apesar de o petista garantir que, se for condenado, vai continuar brigando na Justiça.
O julgamento do processo em segunda instância contra o ex-presidente começa na quarta-feira, na volta aos trabalhos do Judiciário. A expectativa é de que a condenação de nove anos e meio de prisão dada pelo juiz federal Sergio Moro seja confirmada por unanimidade. Aliás, é grande a expectativa por um placar de 3 a 0, o que praticamente eliminaria as chances de Lula ser candidato à Presidência da República em 2018.
Isso porque, nesse caso, as chances de recursos são menores. Já se o placar for de 2 a 1, com um dos três magistrados decidindo a favor de Lula, o presidente pode entrar com pedido de embargos infringentes, que podem levar alguns meses para serem julgados, arrastando o processo por mais tempo. O placar final, portanto, pode ser a diferença entre a possibilidade de Lula disputar as eleições ou não.
Mas a reação dos mercados domésticos à decisão do TRF4 deve acontecer em uma sexta-feira espremida entre o feriado na cidade de São Paulo e o fim de semana. A estimativa é de que o veredicto final do caso seja conhecido apenas no dia seguinte, quinta-feira, feriado pelo em São Paulo por causa do aniversário da cidade, quando os negócios com rendas fixa e variável estarão fechados.
Ainda na agenda interna, estão previstas as divulgações dos resultados de dezembro e do acumulado em 2017 sobre a arrecadação federal de impostos e também sobre a geração de emprego com carteira assinada no país, porém ainda sem data definida. Na quinta-feira, feriado na cidade de São Paulo, sai a confiança do consumidor brasileiro. Hoje, têm as tradicionais publicações do dia: Pesquisa Focus (8h25) e balança comercial semanal (15h).
Entre os eventos de relevo, não será desta vez que Cristiane Brasil será empossada ministro do Trabalho. A cerimônia estava marcada para as 9h, após o STJ derrubar liminar que suspendia a nomeação da deputada, filha do condenado no mensalão Roberto Jefferson, mas advogados trabalhistas recorrem ao STF e a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, suspendeu a posse, de novo.
Sem conseguir empossar Cristiane Brasil, o presidente Michel Temer embarca à noite para a Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial, em Davos. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem reuniões em Londres, antes de seguir para a Suíça.