Comprar ou vender?

Pré-Market: Pressão e expectativa política

21 nov 2017, 7:57 - atualizado em 21 nov 2017, 7:57

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

Mal terminou a sequência de feriados em novembro no Brasil e os investidores já se preparam para mais uma pausa nos negócios, desta vez, por causa dos Estados Unidos. O Dia de Ação de Graças, na quinta-feira, tende a reduzir o volume financeiro até o fim da semana, com os mercados já pisando em falso à medida que se aproxima o fim do ano e o cenário político aqui e lá fora mantém o suspense.

As expectativas locais quanto à adoção de medidas por parte do governo Temer que caminham aos interesses da base aliada, como a reforma ministerial exigida pelo Centrão para a obtenção de votos na Câmara pela reforma da Previdência até o início do mês que vem, se contrastam com a turbulência política na Europa. O euro e a libra digerem os impasses envolvendo Angela Merkel e Theresa May.

Nesse embate, o dólar orbita abaixo de R$ 3,30 e a bolsa fica nos 70 mil pontos. Não é de hoje que se fala de uma visível piora na Bovespa, no câmbio e na curva implícita de juros futuros, por causa de uma mistura de fatores internos e externos. No topo da lista, estão, do lado externo, a expectativa em relação ao processo de aumento dos juros norte-americanos; e, do lado doméstico, a incerteza sobre a aprovação das novas regras para a aposentadoria.

Aliás, os parlamentares voltam ao trabalho hoje – depois de emendar a semana do feriado da quarta-feira passada – com uma extensa pauta de votações e um prazo apertado, já que o recesso legislativo começa a menos de um mês. Diante disso, o grande problema do presidente Michel Temer não é nem como fará para agradar aos partidos descontentes, mas sim a pressão do calendário.

Por mais que Temer conceda lugares no primeiro escalão do governo a alguns dos 12 partidos do Centrão, a fim de garantir apoio para votar a reforma da Previdência ainda neste ano, o tempo para tramitar a matéria pelos deputados é curto. Além disso, uma vez que ele desistiu da ideia de uma reforma ministerial ampla, as mudanças podem não ser suficientes para atender aos anseios de toda a base aliada e, assim, garantir os 308 votos necessários.

Mas os investidores se animam com o empenho do presidente em ajustar a base aliada. Após a liberação de R$ 7,5 bilhões em recursos do Orçamento para atender demandas parlamentares, o anúncio de Alexandre Baldy como novo ministro das Cidades mostra mais um passo avante de Temer. O deputado foi indicado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que, aliás, pretende votar o texto da Previdência na primeira semana de dezembro.

Já nos Estados Unidos, o foco está em Washington, à espera de novidades sobre o andamento da reforma tributária no Congresso. Após ser aprovada pela Câmara dos Representantes, a proposta do presidente Donald Trump terá vida mais dura no Senado, onde a margem dos republicanos é estreita e o jogo está longe de ser ganho.

A questão é que o corte de impostos às empresas e às famílias é bom para os EUA, mas não para os países emergentes em geral. Isso porque a proposta de Trump tende a acelerar o crescimento econômico via a política fiscal expansionista, o que elevaria os riscos inflacionários e intensificaria o ritmo de aumento dos juros norte-americanos – o principal fator externo.

Daí que, se for aprovada no Senado dos EUA, o cenário internacional deve ficar menos favorável aos ativos de risco, deixando para trás os tempos de um dólar fraco e de fluxo maciço de recursos aos mercados emergentes. A expectativa é de que a reforma tributária seja aprovada no primeiro trimestre de 2018, mas Trump ainda sonha em aprová-la como presente de Natal.

Sem pregão local ontem, os mercados domésticos têm poucos ajustes a serem feitos, após uma segunda-feira fraca no exterior. Wall Street começou a semana de Ação de Graças com leves variações e volume baixo, com o feriado na quinta-feira sendo uma desculpa para fazer uma pausa nos negócios. Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para mais uma sessão de lado.

Na Ásia, os mercados se recuperaram das perdas recentes, com destaque para Tóquio e Hong Kong, mas na Europa, as moedas e as principais praças da região são impactadas pela falha do partido de Merkel em formar um governo de coalizão e pela intenção do Reino Unido em fazer concessões para garantir a saída da União Europeia. O dólar subiu ontem e renova as forças hoje, ganhando terreno também ante o xará australiano e a lira turca. As commodities operam pressionadas pela valorização da moeda norte-americana.

Na agenda econômica, antes da pausa na quinta-feira nos EUA, saem dados do setor imobiliário (hoje) e da confiança do consumidor (amanhã), além da ata do Federal Reserve, que deve reforçar a sinalização de alta dos juros em dezembro e o BCE deve manter o tom gradualista. Na sexta-feira, o pregão em Wall Street fecha mais cedo, ainda em tempo de reagir aos dados sobre os setores industrial e de serviços em novembro.

Do outro lado do Atlântico Norte, a zona do euro também divulga indicadores de confiança (quarta-feira) e de atividade (quinta-feira), além da ata do Banco Central Europeu (BCE), que deve manter o tom gradualista. Fora da região da moeda única, sai o resultado final do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido (quinta-feira). Já na Ásia, o calendário não traz publicações relevantes.

Internamente, o destaque fica exatamente para quinta-feira, quando sai a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor (IPCA-15). No dia seguinte, é grande a expectativa pela Black Friday, data que vem sendo comemorada pelo comércio brasileiro há alguns anos e que provocado uma antecipação das compras de Natal.

Ao longo da semana, também são esperados os números sobre a arrecadação de impostos e sobre a criação de postos de trabalho formal no país. Ontem, durante o feriado na cidade de São Paulo, o Banco Central informou que o índice de atividade econômica (IBC-Br) subiu 0,4% em setembro, reforçando o cenário de retomada gradual, com crescimento no terceiro trimestre. Na Pesquisa Focus, as expectativas para PIB e inflação em 2018 sofreram leve alteração.

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