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Pré-Market: Política em foco

01 nov 2018, 7:54 - atualizado em 01 nov 2018, 7:54

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

A véspera de feriado no Brasil deve ser marcada pela cautela, uma vez que os mercados internacionais seguirão a pleno vapor, amanhã – dia de payroll – enquanto ficarão fechados por aqui, ampliando a espera por anúncios do governo eleito. Lá fora, cresce a expectativa pelas eleições legislativas nos Estados Unidos (midterm elections), na próxima terça-feira, que podem definir os últimos dois anos do mandato de Donald Trump.

O resultado mais esperado, baseado em pesquisas eleitorais, é de que os Democratas avancem no Congresso, conquistando assentos dos Republicanos. A dúvida é se o partido de Trump conseguirá manter o controle nas duas Casas, sendo que é crescente a possibilidade de os Democratas assumirem, ao menos, o controle da Câmara dos Representantes. Os Estados do Texas, Missouri, Flórida, Arizona, Minnesota e Kansas são os pontos-chave do pleito.

Tradicionalmente, os presidentes dos EUA veem seu partido perder vagas nas primeira eleições para o Congresso após entrar na Casa Branca e essa tradição pode impactar os planos de reeleição de Trump. Mas não apenas isso. Se a oposição ganhar força, Wall Street também deve ser afetada, principalmente as ações de bancos.

Há quem diga, porém, que o desfecho da eleição – seja ele qual for – tende a eliminar uma incerteza, podendo ajudar as ações a subir. Mas aí os velhos assuntos que predominaram nos mercados globais ao longo deste ano – a saber, o aperto monetário nos EUA e a guerra comercial contra a China – voltam ao foco de atenção dos investidores.

Esses temas, aliás, tendem a ganhar novos episódios nos próximos dias. A China avisou que só retomará as negociações com Washington após as eleições legislativas e é esperado um novo encontro entre Trump e o presidente chinês Xí JìPíng, durante o encontro do G-20, em Buenos Aires, no fim deste mês.

Já amanhã, sai o relatório de emprego nos EUA e a previsão é de criação de 200 mil vagas em outubro, com a taxa de desemprego seguindo em 3,7%. Por sua vez, os ganhos médio por hora devem manter o ritmo de alta, crescendo 0,3% em relação a setembro e +2,8% na comparação anual.

Os números do payroll tendem a calibrar as expectativas em relação ao ritmo de alta na taxa de juros norte-americana. No mês que vem, o Federal Reserve deve promover o quarta e último no custo do empréstimo dos EUA e a discussão passa a ser o total de apertos em 2019 – se serão três ou apenas dois.

Hoje, porém, a agenda econômica norte-americana reserva dados de atividade no setor industrial, por volta das 11h, além de números preliminares sobre o custo da mão de obra e da produtividade nos EUA, às 9h30. No mesmo horário, serão conhecidos os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país.

No Brasil, o mercado financeiro segue na expectativa por mais anúncios significativos por parte do novo governo, principalmente na área econômica. O foco dos investidores está em nomes a serem escolhidos para as principais empresas estatais e para autarquias, como o Banco Central e o BNDES, além das medidas que farão parte da agenda liberal-reformista.

Por enquanto, as declarações feitas por Paulo Guedes, que irá comandar um super-ministério da Economia, têm soado como música. Mas a falta de traquejo político do economista e a necessidade de capital político do governo Bolsonaro para aprovar reformas estruturais – e impopulares – no Congresso ainda mostram certo amadorismo da próxima administração.

Até por isso, o projeto de autonomia do BC deve ter prioridade. Guedes tem interesse na proposta que já tramita no Legislativo, o que poderia garantir a permanência de Ilan Goldfajn à frente da autoridade monetária. Já a aprovação da reforma da Previdência ainda neste ano encontra resistência dos parlamentares e o presidente eleito Jair Bolsonaro teme perder, se tentar votar a medida antes do início do novo governo.

Na agenda econômica doméstica, destaque para o desempenho da indústria em setembro e a previsão é de queda de 1% da atividade na comparação com agosto, na terceira queda consecutiva. Em relação a um ano antes, a previsão também é de retração, de -0,7%. Os números oficiais são às 9h. Antes, tem o dado fechado da coleta semanal do índice de preços ao consumidor, às 8h.

Aliás, o ritmo mais gradual da recuperação econômica foi um dos motivos apontados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para justificar a manutenção da taxa básica de juros em 6,50%, pela quinta vez seguida. Segundo o Banco Central, a atividade ainda carece de estímulos e os próximos passos na condução da Selic estarão relacionados à atividade, às projeções de inflação e aos riscos vindos do cenário externo.

Hoje é a vez do BC inglês (BoE) anunciar a decisão sobre os juros básicos no Reino Unido (9h). A previsão é de manutenção da taxa em 0,75%. No mesmo horário, também será publicado o relatório trimestral de inflação do BoE. Na safra de balanços, destaque para os números trimestrais da Apple e da Exxon Mobil, em Wall Street, e do Bradesco, antes da abertura da sessão na Bovespa.

À espera desses eventos, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram de lado, mas com um ligeiro viés positivo, com os investidores tentando estender o rali de ontem. Mas as principais bolsas europeias amanheceram sem uma direção definida, enquanto na Ásia, apenas Tóquio caiu (-1,1%).

Xangai teve leve alta, enquanto o yuan chinês (renminbi) se recuperou do nível mais baixo em uma década, em meio às sinalizações de que Pequim planeja novas medidas de estímulo. Durante reunião do Politburo da China, presidida por Xí, o governo defendeu a urgência por mais medidas para combater a desaceleração da economia.

Entre as moedas, a libra avança, em meio às renovadas esperanças em torno das negociações do Brexit. O euro também ganha terreno em relação ao dólar, que perde fôlego após alcançar o maior valor frente aos rivais em 16 meses. As moedas de países emergentes também sobem. O juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos volta à faixa de 3,15%. Já o petróleo segue em queda, após o pior mês em mais de dois anos.

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