Comprar ou vender?

Pré-Market: Pisando em ovos

13 mar 2018, 8:04 - atualizado em 13 mar 2018, 8:04

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O otimismo que conduz os mercados financeiros segue ileso às ameaças protecionistas de Donald Trump e aos estímulos fiscais do presidente norte-americano, com os investidores minimizando os riscos já presentes à economia global – e que podem se agravar nos meses à frente. Igualmente no Brasil, os negócios locais tampouco estão importando com o cenário político em pleno ano de eleições.

Não se trata de ser tendencioso – ou pessimista – mas uma dose de realidade cairia bem, a fim de evitar sustos. Essa medida pode vir hoje dos números do índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) em fevereiro (9h30), que deve trazer informações adicionais sobre os sinais de ausência de pressão inflacionária nos Estados Unidos.

À espera desses números, as bolsas na Ásia tiveram uma sessão mista, com perdas na China, mas ganhos nas demais praças da região, ao passo que, no Pacífico, a Bolsa de Sydney foi pressionada pelas ações de bancos e mineradoras. No Ocidente, o sinal positivo prevalece entre as bolsas europeias e nos índices futuros em Nova York, com os investidores querendo saber se o CPI nos EUA pode afetar o plano de voo do Fed.

Trata-se do último grande indicador econômico a ser conhecido antes da reunião do Federal Reserve, na semana que vem. Será o primeiro encontro a ser comandado pelo novo presidente, Jerome Powell, e as apostas são de que também será anunciada o primeiro aumento na taxa de juros norte-americana neste ano, dando continuidade ao processo iniciado em 2015.

Por ora, a perspectiva de aumento gradual no custo do empréstimo nos EUA é amparada no crescimento mais lento dos salários, o que sustenta as apostas de apenas três altas nos juros do país ao longo deste ano. Mas a pressão sob os preços também pode vir da política fiscal expansionista do governo Trump, inflando os gastos públicos. Isso sem falar na intervenção do presidente norte-americano no mundo corporativo, após alegar questão de segurança nacional para impedir a fusão entre a Broadcom e a Qualcomm.

Os investidores também não veem como alarmante as restrições ao comércio global impostas pelos Estados Unidos, em uma clara estratégia para barganhar melhores condições de troca de bens e produtos à maior economia do mundo, que já cresce em ritmo acelerado. O Brasil, aliás, foi o grande perdedor da nova tarifa de Trump no aço.

O material produzido aqui é adquirido maciçamente pelos EUA, perdendo apenas para o vizinho Canadá, que ficou de fora da sobretaxa. Sobrou para o Brasil, o segundo colocado entre os maiores exportadores de aço aos EUA, com quase 15% do volume importado pelo país. Ao que tudo indica, então, as exportações brasileiras devem perder espaço para os países do Nafta – uma vez que o México também foi poupado.

Os reflexos virão na nossa balança comercial, já que, diferentemente dos europeus, o governo brasileiro não estuda qualquer retaliação. O presidente Michel Temer sequer chamou a Embaixada norte-americana para conversar e discutir um acordo melhor, mas insiste no diálogo. Mesmo assim, a tentativa de avançar nas negociações, no momento, parece pouco provável.

Isso porque à esse risco externo soma-se a questão política no Brasil e também a crise fiscal, que ficou escondida desde a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, engavetando a pauta da reforma da Previdência. Mas o rombo dos cofres públicos deve voltar às manchetes quando voltar a discussão sobre o Orçamento de 2019, que será deixado ao sucessor, com grande chance de quebra da Regra de Ouro.

Os investidores torcem para que seja possível emplacar um candidato reformista, que defenderia mudanças nas regras para aposentadoria durante a campanha eleitoral, conquistando o voto do eleitor. Tal cenário será mensurado hoje, quando a CNI divulga uma pesquisa inédita sobre as perspectivas dos brasileiros para as eleições de 2018, às 10h.

No levantamento feito pelo Ibope, busca-se compreender o perfil de candidato que o eleitor deseja, traçando as características pessoais e profissionais daquele que poderia ter maior chance nas urnas. Até mesmo os partidos políticos que têm mais simpatia dos eleitores foi sondado.

Trata-se de uma excelente estratégia reversa, na qual se procura saber o que é preciso ter para vencer a corrida presidencial de outubro. Com esse levantamento em mãos, basta as forças políticas se unirem em torno de um nome, definindo-o como o candidato da situação e divulgá-lo como aquele que contempla todos os anseios da sociedade. O resultado da pesquisa CNI/Ibope tem recortes por região do país.

Mas foi um duro revés para o presidente Michel Temer a autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) para quebrar dos sigilos telefônicos do ex-assessor e amigo pessoal, Rodrigo Rocha Loures – o “homem da mala” – do coronel João Batista Lima. A decisão faz parte das duas investigações da qual Temer é alvo, envolvendo pagamento de propina da Odebrecht e benefício à empresa Rodrimar no setor portuário.

Já na agenda doméstica traz apenas as vendas no varejo no primeiro mês deste ano (9h). A previsão é de recuperação, após a decepção do comércio em pleno mês de Natal, com um crescimento tímido, de 0,4% em janeiro em relação a dezembro. Já na comparação com o início do ano passado, as vendas devem ter avançado pelo décimo mês seguido, em +3,20%.

No fim do dia, a China entra em cena para anunciar dados de atividade no agregado de janeiro e fevereiro, período que é, tradicionalmente, marcado pelas festividades do Ano Novo Lunar no país, o que distorce o desempenho da indústria e do varejo. Também serão conhecidos os investimentos em ativos fixos nos dois primeiros meses de 2018. Na Europa, os ministros de Finanças de 28 países do bloco reúnem-se.

Editora-chefe
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
Linkedin
Olívia Bulla é editora-chefe do Money Times, jornalista especializada em Economia e Mercado Financeiro, com mais de 15 anos de experiência. Tem passagem pelos principais veículos nacionais de cobertura de notícias em tempo real, como Agência Estado e Valor Econômico. Mestre em Comunicação e doutoranda em Economia Política Mundial, com fluência em inglês, espanhol e conhecimento avançado em mandarim.
Linkedin
Leia mais sobre:
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.