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Pré-Market: Petróleo e dólar desafiam mercado

10 maio 2018, 8:02 - atualizado em 10 maio 2018, 8:02

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O dólar faz uma pausa no recente rali em relação às moedas rivais, enquanto o petróleo avança para além da faixa de US$ 70, tanto em Nova York quanto em Londres, com o investidor ainda avaliando uma série de riscos ao mercado financeiro. As renovadas tensões geopolíticas no Oriente Médio, após uma ação militar na Síria e na península arábica envolvendo o Irã, sustentam o barril da commodity nos maiores níveis desde 2014.

Tal comportamento sustenta as bolsas em alta, com o sinal positivo prevalecendo desde a Ásia, passando pela Europa até chegar em Wall Street. Os mercados emergentes também ensaiam um alívio, mas a pressão sobre o ringgit malaio, após a oposição vencer as eleições presidenciais, mostra que parece não haver uma trégua nos negócios nesta semana. Já a provável formação de um governo populista na Itália não atrapalha a recuperação do euro.

A libra esterlina também ganha terreno em relação ao dólar, à espera da decisão de política monetária do Banco Central da Inglaterra (BoE), enquanto o iene é cotado no menor nível em mais de três meses. Ainda assim, a moeda norte-americana mede forças e avança frente ao dólar neozelandês, após o BC local (RBNZ) sinalizar uma queda na taxa de juros. Nos bônus, o juro projetado pelo papel de 10 anos dos Estados Unidos (T-note) oscila abaixo de 3%.

Após a decisão do presidente Donald Trump de abandonar o acordo nuclear com o Irã, o mercado financeiro só tem olhos para o comportamento do petróleo. O aumento nos preços do barril amplia a expectativa de mais oferta da commodity, estimulando os produtores norte-americanos e mantendo os estoques elevados, apesar dos esforços do cartel da Opep em reduzir a oferta global, sustentando os preços artificialmente.

Assim, ainda é dúvida o impacto do rali do petróleo na inflação dos EUA e, consequentemente, na resposta a ser dada pelo Federal Reserve. Isso porque a pressão para o repasse nos preços ao consumidor tende a ser amortecida com o aumento da oferta da commodity no país, mesmo em tempos de maior demanda, com a chegada do verão (no Hemisfério Norte).

Com isso, o petróleo tipo WTI deve seguir orbitando entre US$ 65 e US$ 75 por barril, ao passo que o Brent segue rumo à marca de US$ 80. Mas a tensão geopolítica após a decisão da Casa Branca de retirar os EUA do pacto iraniano deve manter os preços mais pressionados no curto prazo, alimentando temores de que a produção e exportação do país persa seja afetada.

Tal perspectiva pode obrigar o Fed a ser mais duro (“hawkish”) na condução do processo de normalização monetária, subindo a taxa de juros norte-americana em um ritmo mais rápido que o esperado. Essa aceleração tende a atrair recursos aplicados em ativos mais arriscados, como os brasileiros, em direção ao risco zero dos EUA, fortalecendo o dólar e os bônus do país (Treasuries).

No Brasil, é crescente a percepção de que o cenário otimista com a economia em 2018 precisa ser revisto. Afinal, a atividade não decolou e a recuperação econômica ainda patina, diante da demora na retomada do emprego, adiando o aumento da renda e a volta do consumo. Com isso, o buraco nas contas públicas segue aberto – e cada vez maior.

Um problema adicional na questão doméstica é a perda de atratividade no chamado diferencial de juros, com o retorno oferecido pelo prêmio de aplicar no país sendo menos sedutor que o de outros países de risco menor, como nos EUA, onde a trajetória da taxa é ascendente – pagando mais rendimento.

Como o Banco Central brasileiro reiterou que vai continuar cortando a Selic neste mês, renovando o piso histórico, o investidor tende a migrar o capital – especulativo, em grande parte – em busca de maior retorno e segurança. Esse movimento tende a sustentar o dólar acima da faixa de R$ 3,50 no curto prazo, testando níveis cada vez mais altos.

Ontem, a moeda norte-americana flertou o nível de R$ 3,60 e pode ir buscar a faixa de R$ 3,70 até a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem – caso o BC não faça mais nada para suavizar o comportamento do câmbio. Afinal, uma queda adicional de 0,25 ponto no juro básico reduz ainda mais o poder de atração da renda fixa local.

E não há, por ora, no horizonte à frente, a perspectiva de o dólar retroceder à marca de R$ 3,30. Ao menos até agosto, quando a questão eleitoral passa a dominar de vez o mercado financeiro doméstico, podendo estressar ou aliviar os ativos locais, a depender da corrida presidencial e da colocação dos candidatos na disputa.

Um dos principais instrumentos de defesa do BC são as volumosas reservas cambiais, que estão na ordem de US$ 380 bilhões. Tal montante assegura que não deve faltar de dólares no mercado, como ocorre na vizinha Argentina. Mas essa estratégia deve ser a última opção da autoridade monetária, que pode elevar a quantidade extra de contratos de swap cambial ou ainda garantir liquidez ofertando linhas de financiamento com garantia de recompra.

Na agenda do dia, o destaque são os dados de inflação. Na China, o índice de preços ao consumidor (CPI) perdeu força pelo segundo mês seguido, com alta de 1,8% em abril, em base anual, após avançar 2,1% em março, na mesma comparação. Já o índice de preços ao produtor chinês (PPI) encerrou cinco meses consecutivos de desaceleração e cresceu 3,4% no mês passado, em relação ao mesmo mês no ano anterior, ante alta de 3,1% em março.

Mais indicadores de preços recheiam o calendário econômico desta quinta-feira. O destaque fica com a inflação ao consumidor no Brasil (9h) e nos Estados Unidos (9h30). Por aqui, o IPCA deve ganhar força e subir 0,25% em abril, após registrar leve alta em março (+0,09%), quando apurou o menor resultado para o mês na série do IBGE, iniciada em 1994.

Já a taxa no período acumulado dos últimos 12 meses até abril deve voltar à faixa de 2,8%, mas ainda nos menores níveis desde o fim do ano passado. Juntamente com o IPCA, saem os números de abril sobre o custo na construção civil e os dados atualizados da safra agrícola e da produção de grãos neste ano. Antes, às 8h, é a vez da primeira prévia de maio do IGP-M. Na safra de balanços, destaque para os resultados trimestrais de Banco do Brasil, antes da abertura, e de B3 e BRF, após o fechamento.

No exterior, o CPI norte-americano deve apagar a queda de 0,1% registrada em março e subir 0,3% em abril, com o núcleo do indicador, que exclui itens voláteis, mantendo o ritmo de alta, de +0,2%. No mesmo horário, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA. À tarde (15h), é a vez do orçamento do Tesouro do país no mês passado.

Na Europa, merece atenção a decisão de juros do BC inglês (BoE), às 8h, juntamente com a publicação do relatório trimestral com as projeções para as principais variáveis macroeconômicas. Aliás, diante de dados mais comedidos de atividade e inflação, o BoE deve optar pela manutenção da taxa de juros em 0,50%.

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