Comprar ou vender?

Pré-Market: Pague o pato

20 jul 2017, 11:22 - atualizado em 05 nov 2017, 13:59

Olivia

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

A quinta-feira começou movimentada, com a decisão do Banco Central do Japão (BoJ) de manter a política monetária, e promete novas emoções ao longo do dia, garantindo, enfim, certa agitação aos mercados financeiros. Lá fora, o destaque é a reunião do BC Europeu (BCE), enquanto por aqui as atenções se voltam para a prévia de julho da inflação oficial ao consumidor (IPCA-15). Mas o foco está mesmo no anúncio de aumento de imposto.

O Ministério da Fazenda irá aproveitar a divulgação do relatório fiscal com os números das receitas e despesas do governo no último bimestre para anunciar uma elevação na alíquota do PIS/Cofins que incide sobre os combustíveis. A decisão de reajustar o tributo foi tomada ontem e o impacto na inflação deve ser menor, em meio à queda dos preços da gasolina e do diesel. Também se ventila uma elevação no Imposto de Importação sobre o combustível.

A preferência da equipe econômica por uma alteração no porcentual cobrado do PIS/Cofins decorre da incidência imediata da medida, em detrimento da Cide, que também recai sobre os combustíveis. A diferença é que a primeira tem de passar pelo crivo do Congresso, mas entra em vigor assim que for aprovada, enquanto a Cide precisa de 90 dias para começar a valer, mas que agradaria aos usineiros por causa do efeito no etanol.

Como faltam menos de seis meses para o fim do ano, o efeito da Cide nas contas do governo seria mínimo. E a grande preocupação do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é com o cumprimento da meta fiscal deste ano, já deficitária em R$ 139 bilhões, mas que parece difícil de ser alcançada, uma vez que o rombo é ainda maior.

Afinal, os números do relatório bimestral devem mostrar um crescimento nos gastos públicos, em meio à troca de favores do presidente Michel Temer com a base aliada para manter-se no cargo, e uma queda expressiva da arrecadação, diante da ausência de sinais de recuperação da atividade. A Fazenda ainda procura obter receitas extras, mas falta verba, e estima arrecadar, pelo menos, R$ 4 bilhões via aumento de impostos.

Para Meirelles, é preferível elevar a carga tributária a ter de revisar a meta fiscal, assumindo que o buraco nos cofres públicos este ano será maior e reconhecendo a falta de capacidade de lidar com a situação. Trata-se de um dilema tal qual aquela velha máxima de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. No fim, quem “paga o pato” é o contribuinte, em um momento bastante dramático do país.

Ou seja, a equipe econômica e o governo venderam a ideia sobre a necessidade imediata de reformas estruturais, com alcance mais longo, e se esquivaram de adotar medidas capazes de estimular a economia real no curto prazo, retomando a trajetória de crescimento. Como resultado, torna-se necessário agir logo para fechar as contas – no vermelho – agredindo ainda mais a atividade e adiando o já lento e desigual processo de retomada.

O grande trunfo do governo é a inflação, que deve continuar trazendo boas novas hoje. A estimativa para o IPCA-15 é de queda de 0,10% em relação a junho. Se confirmada, será o primeiro resultado negativo para o mês desde 2010 e a maior queda desde julho de 2003. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve cair abaixo da faixa de 3%, ficando em 2,9%, na inflação mais baixa para o período em mais de 10 anos.   

Tal cenário benigno dos preços tende a consolidar em 100% as apostas de corte de um ponto porcentual (pp) na taxa básica de juros na semana que vem, abrindo espaço para a Selic vir abaixo de 8% até o fim do ano, em mais uma carta na manga do governo. Os dados oficiais serão conhecidos às 9h. Antes, sai a sondagem preliminar da indústria em julho (8h).

No exterior, o destaque é a decisão do BCE (8h45). A expectativa é de que a autoridade monetária sinalize a intenção de retirar parte dos estímulos já adotados na região da moeda única, encerrando o programa de compra de bônus, mas mantendo a taxa de juros em 0%, diante da inflação ainda fraca nos países europeus.

Desse modo, por mais que o BCE esteja disposto em reduzir a política de custo baixo do empréstimo na zona do euro, ainda se mostra necessário manter uma postura mais suave (“dovish”), por causa da ausência de pressão sobre os preços. Mais detalhes podem ser fornecidos na coletiva do presidente da instituição, Mario Draghi (9h30).

Nesse horário, nos Estados Unidos, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego e o índice regional de atividade na Filadélfia. Depois, é a vez do índice de indicadores antecedentes no mês passado (11h). Também às 11h, será conhecida a leitura preliminar deste mês da confiança do consumidor na zona do euro.  

À espera desses eventos no Ocidente, os investidores reagem à decisão do BC japonês de manter os megaestímulos monetários, com taxa de juros negativa no país, e adiar em um ano, para março de 2020, a expectativa de alcançar a meta de inflação de 2%. Em reação, a Bolsa de Tóquio fechou em alta de 0,6%, ao mesmo tempo em que o iene se valoriza em relação ao dólar, recuperando-se das perdas mais cedo.

O euro, por sua vez, espera em baixa a decisão do BCE, ao passo que as principais bolsas europeias ensaiam ganhos, em meio às especulações quanto às opções que podem ser adotadas por Draghi. Os índices futuros das bolsas de Nova York também estão no azul, um dia após Wall Street renovar os níveis mais altos da história. O petróleo se fortalece, diante da queda dos estoques norte-americanos, que afastou o receio quanto ao excesso de oferta da commodity.

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