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Pré-Market: Os primeiros passos do novo governo

30 out 2018, 8:47 - atualizado em 30 out 2018, 8:47

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Não houve um rali da vitória no mercado financeiro brasileiro no dia seguinte à eleição de Jair Bolsonaro como presidente. A continuidade da valorização dos ativos locais vai depender do que o governo eleito vai implementar de fato, o que desloca o foco dos investidores para a divulgação dos nomes da equipe econômica e sobre os planos da agenda de reformas.

Nesse sentido, deve animar os negócios locais nesta terça-feira a declaração de Bolsonaro, de que pretende conversar com o presidente Michel Temer para garantir a tramitação da Reforma da Previdência ainda neste ano. Segundo ele, o tema deve ser discutido com a atual administração a partir da semana que vem, quando ele estará em Brasília.

Para o presidente eleito, seria importante aprovar alguma coisa do que já está em andamento no Congresso. “Senão um todo, uma parte do que está sendo proposto”. A estratégia tende a facilitar a aprovação da medida, já que Bolsonaro precisa conquistar o apoio de mais de 200 deputados para aprovar emendas constitucionais.

Para tanto, é preciso, primeiro, retirar  decreto de intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro, que está prevista para terminar apenas no fim deste ano. Durante os períodos de intervenção, não podem ser feitas alterações na Constituição. Segundo Bolsonaro, também é preciso evitar que novas “pautas-bombas” entrem em votação.

Hoje, a equipe do presidente eleito faz a primeira reunião após a vitória nas eleições, na casa dele, no Rio. E os investidores estarão atentos a novidades sobre o encontro, em meio à expectativa também da composição dos ministérios, empresas estatais e autarquias, como o Banco Central e o BNDES.

Por ora, o mercado dá o benefício da dúvida ao novo governo, acreditando na perspectiva econômica liberal do presidente eleito, sob as bandeiras de avanço das reformas estruturais e de privatizações. Os investidores têm a percepção de que Bolsonaro provavelmente buscará políticas pró-mercado, beneficiando vários setores da atividade.

Até agora, os investidores ignoram a mensagem de campanha de Bolsonaro, que se concentrou principalmente na lei e na ordem na esfera social. A pauta econômica foi delegada ao assessor econômico, Paulo Guedes, o que se traduz em dúvidas sobre o apoio político no Congresso para aprovação das medidas de ajuste fiscal e das reformas estruturais.

Assim, o prazo de validade da lua de mel do mercado financeiro com o governo Bolsonaro deve durar até que a primeira grande votação seja apreciada na Câmara. Até lá, o governo vai precisar sinalizar que vai compor uma ampla frente parlamentar com os demais partidos e que está, de fato, comprometido com uma agenda econômica liberal-reformista.

No curto prazo, porém, a atenção dos investidores deve recair sobre quem serão os nomeados para os ministérios, o que permitirá compreender as diretrizes políticas que devem prevalecer em 2019. Rumores sobre esses nomes tendem a ser o destaque desta semana. Enquanto aguardam novidades, o foco também segue no cenário externo.

Os mercados internacionais amanheceram esperançosos de que Estados Unidos e China irão chegar a um acordo sobre a questão comercial no encontro entre os presidentes Donald Trump e XI Jiping em novembro, durante a reunião do G-20. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta, descartando a chance de nova taxação sobre bens chineses.

Na Ásia, a Bolsa de Xangai subiu pouco mais de 1%, enquanto Hong Kong caiu 0,9% e Tóquio teve alta de 1,5%. Entre as moedas, o iene japonês perde terreno em relação ao dólar, enquanto o yuan se estabiliza, depois de tocar o menor nível em uma década, o euro também se recompõe após notícias sobre troca de poder na Alemanha e dólar australiano avança.

A agenda econômica do dia traz o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) em outubro (8h), que deve desacelerar a 0,9% em relação a setembro, mas ganhar força no acumulando em 12 meses, com taxa de quase 11%. Depois, saem os dados até setembro sobre o desemprego no país (9h), que deve cair abaixo de 12%, renovando a menor taxa do ano.

Na safra doméstica de balanços, destaque para o resultado trimestral do Itaú, depois do fechamento do pregão local. A expectativa é de ganhos robustos, com o lucro do banco atingindo R$ 6,5 bilhões em apenas três meses, em meio à aceleração do crédito ao consumidor.

No exterior, destaque para o índice de confiança do consumidor europeu (7h) norte-americano (11h) em outubro, além de dados de atividade na zona do euro, pela manhã, e na China, à noite. Ainda nos Estados Unidos, saem o índice de preços de imóveis residenciais em agosto (10h).

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