Mercados

Pré-market: Os números (não) mentem

12 set 2018, 7:52 - atualizado em 12 set 2018, 7:52

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Os números do Ibope relativizaram o cenário eleitoral apontado na véspera pelo Datafolha, o que deve servir de alívio para o mercado financeiro brasileiro nesta quarta-feira. Ainda assim, a cautela deve continuar permeando os ativos locais, com a oficialização da candidatura de Fernando Haddad pelo PT podendo resultar em um fortalecimento da esquerda, enquanto o impacto já modesto do ataque a Jair Bolsonaro nas intenções de voto pode se dissipar.

O candidato do PSL foi o único a subir fora da margem de erro aceita pelo Ibope, passando de 22% na semana passada para 26% ontem. Os demais candidatos oscilaram dentro do limite de tolerância da pesquisa, sendo que Ciro Gomes oscilou para baixo, de 12% para 11%, enquanto Haddad oscilou para cima, de 6% para 8%. Geraldo Alckmin manteve os 9%, enquanto Marina Silva caiu de 12% para 9%.

Nas simulações de segundo turno, Bolsonaro mostra-se mais competitivo no Ibope do que o apurado pelo Datafolha e perderia apenas para Ciro, por uma margem estreita (40% a 37%). Com o tucano e a ex-senadora, o deputado empata tecnicamente, ao passo que leva a melhor no confronto contra o PT. Mas ainda não é o momento de falar sobre tais cenários, já que a segunda rodada se configura em uma “nova eleição”, com o embate direto entre os rivais expondo as propostas de governo, além do tempo igual de TV.

Ao analisar, então, a “peneira” entre os candidatos no primeiro turno, percebe-se algumas tendências que foram evidenciadas no Datafolha e que também foram observadas no Ibope. A mais nítida é que Marina começa a “derreter”, ao passo que o tucano continua andando de lado após 10 dias de horário eleitoral. Já o crescimento dos concorrentes à esquerda é o que mais chama a atenção, em meio à transferência dos votos do ex-presidente Lula.

Por sua vez, a grande dúvida ficou mesmo em relação ao crescimento de Bolsonaro. No Datafolha, ele oscilou para cima, mas dentro da margem de erro, enquanto no Ibope ele foi o único a crescer. A pesquisa divulgada ontem foi feita entre os dias 8 e 10 de setembro, pegando, portanto, o período mais próximo da comoção do episódio ocorrido durante ato de campanha em Minas Gerais e sendo um retrato mais fiel àquele momento.

Já a coleta do Datafolha ocorreu apenas na segunda-feira, três dias após o ataque a faca contra Bolsonaro. Na sexta-feira, o mesmo instituto divulga uma nova pesquisa, sendo que a coleta terá início no dia anterior. O levantamento pode servir para tirar a prova dos nove – confirmando uma melhora do líder nas pesquisas ou mesmo uma reversão do primeiro impacto pós-comoção.

Nos próximos dias, o Ibope também divulga dados regionais sobre a intenção de voto do eleitorado na capital federal, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Seja como for, os números do Ibope e do Datafolha mostram que a corrida presidencial no Brasil segue totalmente em aberto, com mais de um candidato mostrando-se competitivo na disputa pelo segundo lugar.

Ou seja, muita coisa ainda pode mudar na corrida presidencial até o primeiro turno das eleições, no início de outubro. Independentemente de quem vença, a importância das eleições para o Congresso, ao mesmo tempo, parece negligenciada. Ainda assim, o Legislativo tende a continuar fortemente fragmentado, com representantes de mais de 30 partidos.

Tal indefinição política realça o desafio que o presidente eleito irá enfrentar para estabilizar as contas públicas e aumentar o crescimento econômico. Mas a ausência de reformas estruturais não deve ser um desastre ao país. Não há uma crise fiscal iminente, uma vez que grande parte da dívida interna é denominada em reais e mantida por bancos nacionais.

É, portanto, uma situação bem diferente da Argentina, que é devedora externa e que está mais vulnerável à fuga de recursos estrangeiros. No caso brasileiro, os bancos podem continuar financiando o déficit orçamentário por algum tempo, mas a expansão da atividade tende a seguir irregular – e esse risco não parece estar embutido no preço do real nem dos títulos.

Enquanto no Brasil, as movimentações no cenário eleitoral mantêm os negócios locais mais sensíveis, no exterior, são as manobras militares na Rússia que chamam a atenção. São os maiores exercícios desde a Guerra Fria, envolvendo tropas, tanques e aviões, com o apoio da força armada da China. O treinamento vai durar uma semana e ocorre em meio ao recrudescimento da tensão dos dois gigantes asiáticos com o Ocidente.

Também preocupa a movimentação do furacão Florence, que marcha rumo à Costa Leste dos Estados Unidos e pode ser uma das tempestades mais intensas a atingir a região em décadas, com ventos de até 220 km/h. O petróleo reage em alta a esse fenômeno e encosta na faixa de US$ 70 por barril, na maior cotação em mais de uma semana.

Aliás, a agenda econômica do dia traz o estoque semanal da commodity e seus derivados nos EUA (11h30). Mas o calendário está bem mais fraco hoje, no Brasil e no exterior. Por aqui, destaque apenas para os dados parciais sobre a entrada e saída de dólares do país na primeira semana de setembro (12h30).

Lá fora, merecem atenção também o índice de preços ao produtor norte-americano em agosto (9h30). À tarde, o Federal Reserve publica o Livro Bege (15h), com uma avaliação da situação econômica nas diferentes regiões do país. Logo cedo, saem os dados da produção industrial na zona do euro em julho.

Nesta manhã, as principais bolsas europeias são negociadas em alta, após uma sessão mista na Ásia, onde Xangai, Hong Kong e Tóquio encerraram a sessão com perdas moderadas. O índice MSCI da região caminha para a décima queda seguida, na maior sequência negativa desde 2002.

Já os índices futuros das bolsas de Nova York estão no positivo, ao passo que o dólar e os bônus norte-americanos estão estáveis. Como pano de fundo, os investidores tentam mensurar o impacto do furacão na interrupção da atividade econômica nos EUA. As atenções também estão voltadas às contínuas ameaças em torno da guerra comercial sino-americana, ao passo que as negociações do Brexit se prolongam.

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