Pré-Market: O grande encontro
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
O convite feito pelo líder norte-coreano Kim Jong-un para um encontro histórico com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em maio, animou os negócios na Ásia, levando os investidores a esquecerem, por algum momento, a guerra comercial. A notícia sinaliza uma trégua nos riscos geopolíticos e ameaças nucleares, abrindo espaço para uma melhora dos mercados financeiros. Mas a agenda econômica do dia promete mais agito.
O sinal positivo prevaleceu nas bolsas asiáticas, mas o fôlego de alta perdeu força durante a sessão, diante dos receios de uma resposta contundente da China à tarifação do aço e do alumínio confirmada por Trump ontem. Pequim avisou que irá adotar medidas duras para proteger os interesses chineses e disse que as ações irão se basear nas potenciais perdas a serem causadas pelas restrições ao livre comércio vindas dos EUA.
Portanto, as ameaças de retaliação sobre a investida norte-americana e a possibilidade de extensão das sobretaxas a outros setores seguem como pano de fundo. Ainda assim, o inesperado anúncio feito por um conselheiro da Coreia do Sul, que levou uma carta à Casa Branca com o convite ao presidente Trump, indica um grande progresso entre os líderes da Coreia do Norte e dos EUA, o que alimentou o apetite por ativos de risco.
Com isso, o iene perdeu terreno para o dólar e o ouro se desvalorizou, ao passou que, nas bolsas, Hong Kong e Seul lideraram os ganhos na região, com +1,1%, enquanto Xangai e Tóquio subiram ao redor de 0,5%. Os investidores relegaram os dados de inflação na China, que subiu ao maior nível desde novembro de 2013, pressionada pelo aumento dos alimentos antes das festividades de ano-novo. O índice de preços ao consumidor (CPI) avançou 2,9% em fevereiro, em base anual, mais que a previsão de alta de 2,5%, enquanto os preços ao produtor chinês (PPI) desaceleraram a 3,7%, na mesma comparação.
No Ocidente, porém, o sinal negativo ainda pressiona a abertura da sessão na Europa, com o alerta vermelho vindo dos índices futuros das bolsas de Nova York e o peso nas ações de siderúrgicas, como a ArcelorMittal. As principais commodities metálicas também não se empolgaram com o grande encontro, com o cobre e o minério de ferros registrando perdas aceleradas. Já o petróleo ensaia ganhos, mas segue nos níveis mais baixos em três semanas, diante do aumento da oferta nos EUA.
Mas a agenda econômica desta sexta-feira pede passagem à guerra comercial e ao grande encontro entre Kim e Trump. Afinal, hoje é dia de números sobre inflação no Brasil e emprego nos Estados Unidos, que podem calibrar as apostas em relação aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve. Lá fora, é grande a expectativa pelo relatório oficial do mercado de trabalho nos EUA (payroll) em fevereiro.
A previsão é de geração de 200 mil novas vagas, repetindo o ritmo observado em janeiro, o que reduziria a taxa de desemprego no país para 4% e reforçaria o cenário de pleno emprego na maior economia do mundo. Já o ganho médio por hora deve crescer 0,2%, mostrando certa desaceleração no crescimento dos salários.
Juntos, esses números podem indicar a chance de o Banco Central dos EUA promover a primeira alta na taxa de juros norte-americana neste ano, no fim deste mês. Na verdade, as apostas de que o custo do empréstimo no país subirá em março já estão praticamente consolidadas e as dúvidas ficam em relação aos próximos encontros. Por ora, o Fed tem defendido um gradualismo no processo – o que não impede quatro apertos nos juros em 2018.
Os dados efetivos do payroll serão conhecidos às 10h30. Depois, às 12h, é a vez dos estoques no atacado dos EUA em janeiro. Antes, no Brasil, sai o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em fevereiro, às 9h. Assim como o emprego nos EUA, a inflação no varejo doméstico também deve manter o ritmo registrado em janeiro e subir 0,30%, com a taxa acumulada em 12 meses ficando em +2,86%.
O resultado efetivo pode reforçar a percepção sobre a possibilidade de o BC brasileiro promover cortes na taxa básica de juros não só em março, mas também na reunião de maio. As leituras surpreendentemente baixas da inflação combinadas com o desempenho fraco da atividade econômica na virada do ano aumentam as chances de a Selic renovar o piso histórico para 6,5% neste mês e, depois, para 6,25%.
Ainda no calendário doméstico, às 8h, saem a primeira prévia de março do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) e os dados regionais dos preços ao consumidor (IPC-S) no início deste mês. Também às 9h, saem esperados os dados regionais da produção industrial e sobre os custos da construção civil. Na safra de balanço, destaque para o resultado trimestral da Eletropaulo, após o fechamento do pregão local.