Comprar ou vender?

Pré-Market: O buraco é mais embaixo

10 ago 2017, 11:22 - atualizado em 05 nov 2017, 13:58

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O presidente Michel Temer não está facilitando as coisas para a equipe econômica, ao mesmo tempo em que tira proveito da credibilidade do “time dos sonhos” para aprofundar o rombo das contas públicas. Depois de abusar da política do “toma-lá-dá-cá” para se salvar da denúncia contra ele na Câmara e de descartar totalmente a possibilidade de uma nova alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), após uma tática do tipo “vai que cola”, a mudança da meta fiscal deste e do próximo ano deve ser anunciada hoje.

O chamado déficit primário de 2017 deve ser ampliado para um número pior que o oficial, negativo em R$ 139 bilhões. Um aumento de até R$ 20 bilhões, para R$ 159 bilhões, já foi absorvido pelo mercado, mas um salto de R$ 129 bilhões para algo em torno de R$ 170 bilhões no saldo negativo de 2018, conforme se especula, não é esperado, pois um déficit no ano que vem maior que o deste ano indica um descontrole na trajetória da dívida.

Mais que isso, tais números não representam qualquer evolução em relação ao déficit de R$ 170,5 bilhões de 2016, realçando a ausência de esforço por parte do governo em controlar as despesas, diante da frustração com as receitas. É bom lembrar que, quando anunciou os números para 2017, em meados do ano passado, a equipe econômica destacou que se tratava de uma meta realista. Para o mercado financeiro, à época, os números eram inflados, o que facilitaria o cumprimento do objetivo fiscal.

Os números ainda devem ser definidos nesta manhã, em reunião no Palácio do Planalto, às 11h30, que contará com a presença de nove pessoas, além do próprio Temer. O presidente teria sido convencido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá, a resolver a questão fiscal a seu modo, contrariando o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Todos eles estarão reunidos no encontro de hoje.

Mas a pressão vinda dos rumores de que o governo estudava elevar o IRPF para melhorar as receitas e contribuir com a meta fiscal piorou a situação de Temer junto à sociedade, em meio ao recorde de baixa de popularidade do presidente. Foi preciso, então, voltar atrás e aparecer com uma solução rápida.

O problema é que a pressa do governo em definir logo um número, descartando as medidas sugeridas pela equipe econômica, ocorreu a contragosto de Meirelles e é um desprestígio pessoal para o ministro, que queria esperar até setembro para mexer na meta, quando já se teria uma estimativa mais aproximada das receitas deste ano. Contudo, há urgência em definir a meta de 2018, já que a proposta de Orçamento precisa ser enviada ao Congresso até o dia 31.

Feito dessa forma acelerada, fica a sensação de que a coisa está fora de controle e que basta um rugido da classe política e empresarial para que Temer recue. A sensação é de que o presidente tirou o bode da sala muito cedo. Políticos e empresários têm de saber que eles também precisam assumir parte da responsabilidade que levou o país para o atual abismo das contas públicas.

Mas como a agenda de medidas e reformas tem sido conduzida no Congresso por esses atores, as decisões tomadas jamais irão ferir os interesses dos envolvidos. Por isso, é mais fácil mexer nas leis trabalhistas e nas regras para aposentadoria, deixando as reformas tributária e política em segundo plano.

Em meio a todo esse noticiário negativo no Brasil, de pouco adianta a tentativa de acomodação ensaiada nos mercados internacionais nesta manhã. Ainda assim, os investidores seguem avessos ao risco e aproveitam a escalada da tensão entre Estados Unidos e Coreia do Norte para embolsar os ganhos recentes nos ativos. O sinal negativo prossegue em Wall Street e o dólar segue ganhando terreno ante os rivais, o que tende a potencializar as perdas da Bovespa e do real esperadas nos negócios locais.

A agenda econômica desta quinta-feira volta a ficar mais fraca, sem grandes destaques. Ainda assim, no Brasil, merecem atenção a primeira prévia de agosto do IGP-M (8h) e os números atualizados da estimativa para a safra agrícola (9h). No exterior, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA e o índice de preços ao produtor norte-americano (PPI), ambos às 9h30. Às 15h, é a vez do orçamento do país em julho.

A safra brasileira de balanços também entra no radar. Antes da abertura do pregão doméstico serão conhecidos os resultados trimestrais de Banco do Brasil e Braskem, enquanto Petrobras, BRF e algumas empresas do setor de energia elétrica e da construção civil publicam seus demonstrativos contábeis após o fechamento da sessão local.

Para o banco estatal, a expectativa é de um salto de 50% no lucro líquido, uma vez que o BB deve ter sido pouco afetado pela queda na margem financeira por causa da redução da taxa básica de juros (Selic). No caso da gigante do setor de alimentos, a Operação Carne Fraca deve ter afetado o desempenho.

Para a petrolífera, a sequência de resultados positivos observados nos últimos dois trimestres tende a continuar. Porém, alguns eventos podem impactar negativamente os números. O principal é a provisão relacionada ao fundo de pensão Petros, decorrente de ação judicial.

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