Comprar ou vender?

Pré-Market: Nova ordem mundial?

10 abr 2018, 8:21 - atualizado em 10 abr 2018, 8:21

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Quem diria que o presidente da China, Xi Jinping, seria o responsável por impulsionar os mercados globais, trazendo de volta o apetite por risco ao apoiar a globalização? As declarações do líder chinês embalam os ativos pelo mundo, após a promessa de abrir o mercado consumidor da segunda maior economia do mundo e da sua população de mais de 1 bilhão de habitantes, de modo a “combater as algemas comerciais” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O tom conciliador de Xi anima os investidores, que reduzem a busca por proteção em ativos seguros – como os títulos norte-americanos, o ouro e o iene – e içam as bolsas, com Wall Street preparando-se para um grande salto, após uma sessão de ganhos na Ásia e de uma abertura positiva na Europa. Nas commodities, o petróleo é negociado no maior nível em uma semana, ao passo que o cobre avança à máxima em três semanas. Já o dólar mede forças ante as moedas rivais.

De qualquer forma, os investidores se alegraram com as promessas de Xi, que se comprometeu com a liberalização econômica do país, intensificando os planos da China de se tornar a maior potência mundial. Pequim quer facilitar o acesso de empresas estrangeiras aos setores financeiro e manufatureiro, acelerando tal processo, e planeja reduzir as tarifas sobre automóveis importados, reduzindo os limites de propriedade às empresas automotivas.

Durante 40 minutos de discurso, Xi não mencionou nenhum atrito comercial com Trump, mas suas declarações retratavam a China como um parceiro global estável e comprometido com a ordem do comércio internacional, o que se contrasta à agenda protecionista dos EUA. Assim, se os investidores estavam preocupados com as disputas comerciais, o líder chinês conseguiu enviar um sinal positivo ao mercado financeiro, acalmando os nervos.

A grande dúvida é se tal comportamento externo irá favorecer os mercados no Brasil, após a intensa fuga dos ativos domésticos ontem. Não houve euforia nos negócios locais na primeira sessão após a prisão do ex-presidente Lula. A continuidade da saída de recursos dos investidores estrangeiros da Bolsa içou o dólar para além da faixa de R$ 3,40, deixando claro que é preciso ter mais prêmio para aplicar no risco do país.

Afinal, o evento envolvendo o líder petista em nada reduz as incertezas eleitorais. Ao contrário, as consequências sobre tal fato nas eleições presidenciais de outubro ainda são imponderáveis e a única certeza é que as candidaturas de centro-direita seguem mal posicionadas na disputa. Ou seja, o mercado doméstico interpretou mal a história de Lula, assumindo que o resultado da eleição era algo dado.

Após o ex-presidente se entregar à Polícia Federal, o sentimento que aflora é o de que a classe política está disposta apenas a se proteger e engatou um “modo de sobrevivência” até outubro, visando a reeleição neste ano para manter o foro privilegiado e escapar da prisão. Tal visão explica, por exemplo, o intuito do presidente Michel Temer em tentar seguir no mandato, mesmo diante dos níveis recorde de baixa de popularidade.

A denúncia aceita por um juiz federal em Brasília contra os amigos de Temer, que viraram réus em um processo de organização criminosa, mostra que o cerco contra o presidente está se fechando. Agora, o advogado José Yunes, ex-assessor da Presidência, e o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista Lima Filho são acusados de integrar um núcleo político do MDB para cometer crimes contra empresas e órgãos públicos.

Temer não quis comentar o caso, mas sabe que, sem um cargo eletivo após outubro, terá de responder por esses e outros crimes, que foram engavetados pela Câmara dos Deputados, ao rejeitar, no ano passado, duas denúncias feitas pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no caso envolvendo a JBS. Aliás, a denúncia do “quadrilhão do MDB” foi originalmente apresentada por Janot ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Na Corte, aliás, é grande a expectativa pela intenção firme do ministro Marco Aurélio Lima de levar amanhã ao plenário do STF um requerimento para rediscutir a prisão de condenados em segunda instância. Se o entendimento mudar, a punição para políticos que forem condenados culpados pode ser revista, o que beneficiaria Lula.

Na semana passada, Marco Aurélio questionou o voto confuso da ministra Rosa Weber, que mostrou-se contra o pedido do ex-presidente, mas favorável às ações declaratória de constitucionalidade (ADCs) sobre prisão após condenação em segunda instância. Agora, cabe à presidente do STF, Cármen Lúcia, decidir quando irá colocar o tema novamente em julgamento.

Na agenda do dia, destaque para a divulgação da inflação oficial ao consumidor brasileiro em março. O IPCA deve perder força em relação a fevereiro, quando foi registrada a leitura mais baixa para aquele mês desde o ano 2000, e apurar no mês passado o menor resultado para meses de março desde o início da série histórica, em 1994.

A expectativa é de desaceleração a 0,1%, com a taxa acumulada em 12 meses afastando-se ainda mais do piso inferior aceito pelo Banco Central (3%), ficando em 2,7% e voltando ao menor nível para o período até outubro de 2017. Os números efetivos serão divulgados às 9h pelo IBGE.

No mesmo horário, sai um levantamento atualizado sobre a safra agrícola neste ano. Antes, às 8h, serão conhecidos dados regionais sobre os preços ao consumidor (IPC-S) e indicadores sobre o mercado de trabalho no país.

No exterior, a inflação também é destaque. Pela manhã (9h30), sai o índice de preços ao produtor norte-americano em março e, no fim do dia, é a vez do comportamento dos preços no atacado e no varejo chinês. Ainda no calendário dos EUA, serão divulgados os estoques no atacado em fevereiro (11h).

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