Comprar ou vender?

Pré-Market: Nó político

31 out 2017, 8:53 - atualizado em 05 nov 2017, 13:52

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O mês de outubro chega ao fim e deve contar com ajustes nos mercados domésticos, com a formação da taxa de câmbio de referência do Banco Central (Ptax) e a divulgação da ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) agitando os negócios com dólar e juros futuros. Mas o conteúdo do documento do BC não deve ser capaz de desatar o desconforto dos investidores com o ajuste fiscal, que continua ameaçado.

Com um rombo nos cofres públicas já na casa dos R$ 100 bilhões, o governo ainda precisa pagar a conta entregue pela base aliada, que cobra a reforma ministerial ainda neste ano para contemplar os deputados que votaram a favor do presidente Michel Temer no arquivamento da segunda denúncia contra ele, na semana passada. O alvo seria os quatro ministérios do PSDB.

Mas o Palácio do Planalto tenta ganhar tempo, o que pode atrapalhar a votação das medidas provisórias do ajuste fiscal e inflar a rebelião do chamado Centrão, que mira uma reorganização imediata do primeiro escalão do governo. Nessa crise política sem fim, a reforma da Previdência volta a ficar em perigo – se é que ainda havia mesmo alguma possibilidade concreta de votação da matéria na gestão Temer.  

Aos poucos, fica cada vez mais claro que o presidente terá de se contentar em encerrar o mandato em 2018 tendo conquistado os feitos vindos da inflação e da taxa de juros – não necessariamente por méritos próprios. Mas depois de aprovar um teto para os gastos públicos e de alterar as normas trabalhistas, mudar as regras para aposentadoria parecia um plano de voo factível, o que pode frustrar os mercados locais.

Só que os investidores já estão de olho no rumo da taxa básica de juros em 2018. Apesar da discussão de curto prazo, sobre se a Selic cairá um pouco mais na virada do ano ou se seguirá no novo piso histórico que será cravado ao final de 2017, logo começará o debate sobre quando os juros devem começam a subir – provavelmente após as eleições do ano que vem.

Por ora, os investidores esperam encontrar, na ata do Copom que será divulgada hoje (8h), mais detalhes sobre o ritmo de corte das próximas reuniões, após indicar uma nova desaceleração na queda da Selic em dezembro para 0,50 ponto percentual (pp). Também esperam pistas sobre quais variáveis serão levadas em conta para definir uma extensão do ciclo para 2018.

No comunicado que acompanhou a decisão da semana passada, de reduzir o juro básico pela nona vez seguida, em 0,75 ponto, o Copom sugeriu encerrar os cortes ao final deste ano, ao retirar a menção ao “encerramento gradual” do ciclo. Ainda assim, a queda adicional de 0,50 ponto no último mês deste ano, levaria a Selic à mínima recorde de 7%.

Se a ata der sinais mais claros de que o juro não deve cair abaixo desse nível em 2018, pode haver um movimento forte nos negócios com juros futuros (DIs). Porém, sabe-se também que a continuidade dos cortes em fevereiro depende, em muito, da decisão do presidente norte-americano Donald Trump sobre quem comandará o Federal Reserve no ano que vem.

A escolha pelo diretor Jerome Powell, que sustenta a promessa de gradualismo no processo de alta das taxas de juros nos Estados Unidos, deve manter viva a chance de a Selic cair a 6,75% ou 6,5%, diante do cenário favorável aos países emergentes. Mas se o escolhido for John Taylor, crescem as chances de o Copom ser tão conservador quanto o economista. Além disso, se Powell confirmar o favoritismo, a Bovespa pode rever forças para um rali.

Por ora, os investidores estão retraídos, à espera do fim do suspense envolvendo o Fed. A tensão política também assusta Wall Street, após o ex-chefe da campanha eleitoral de Donald Trump se entregar ao FBI na esteira da denúncia por conspiração e lavagem de dinheiro. Porém, os índices futuros das bolsas de Nova York tentam se esquivar do noticiário envolvendo a Casa Branca e ensaiam ganhos, com o foco na safra de balanços.

O dólar também busca uma recuperação, o que enfraquece as commodities. A queda do índice oficial da atividade industrial na China para 51,6, mais que a previsão de recuo a 52 e ante 52,4 em setembro, também inibe uma melhora firme dos negócios no exterior. O índice referente ao setor de serviços chinês caiu a 54,3 em outubro, de 55,4 no mês anterior.

Ainda na agenda doméstica, saem os dados da pesquisa do IBGE sobre o mercado de trabalho (Pnad), às 9h. O levantamento deve mostrar estabilidade da taxa de desemprego ao redor de 12,6% ao final do terceiro trimestre deste ano, com o aumento da população ocupada decorrendo do maior número de empregados sem carteira assinada ou dos trabalhadores por conta própria.

Não se trata, portanto, de uma recuperação consistente do emprego no país. Tanto que a renda média também deve seguir estável, na faixa de R$ 2 mil. Antes dos números da Pnad saem as sondagens de outubro dos setores de serviços e da indústria, às 8h. No exterior, o destaque fica com o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro no terceiro trimestre deste ano.

A leitura preliminar deve mostrar expansão de 0,5% entre os países que compartilham a moeda única, praticamente mantendo o ritmo de crescimento apontado no trimestre anterior. Já nos Estados Unidos, sai o índice do Conference Board sobre a confiança do consumidor norte-americano neste mês (12h).

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