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Pré-Market: Mercados podem cair na real

03 mar 2017, 10:38 - atualizado em 05 nov 2017, 14:07

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

Olivia

Diferentemente do que acontece toda primeira sexta-feira de cada mês, hoje não será divulgado o relatório oficial de emprego nos Estados Unidos (payroll). E esse adiamento dos números sobre a geração de postos de trabalho no país eleva a expectativa em relação aos próximos passos do Federal Reserve. Ainda mais agora que o mercado parece cair na real quanto à possibilidade de uma alta da taxa de juros norte-americana (FFR) neste mês.

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De uma semana para cá, a chance de aperto monetário na reunião marcada para os dias 14 e 15 de março subiu de cerca de 30% e chegou aos 90%. O aumento dessa aposta aconteceu à medida que os indicadores mostravam robustez da economia dos EUA e os diferentes dirigentes do Fed adotavam um discurso uníssono – e mais duro (“hawkish”) – em relação a um novo aumento no custo de empréstimo.

Hoje, caberá à presidente do Fed, Janet Yellen, corroborar (ou não) essas expectativas. Ela fala às 15 horas, durante um fórum de política monetária em Nova York e os investidores esperam uma sinalização assertiva sobre a alta dos juros – do tipo “sim ou não”. Por isso, até lá, os mercados devem redobrar a posição defensiva.

Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem queda firme e acelerada, ao redor de -0,5%. Ontem, Wall Street registrou o maior dia de perdas desde janeiro, com a diminuição do sentimento comprador (“bullish”) por causa do Fed. Os investidores perceberam que não era mais possível simplesmente manter o benefício da dúvida, em meio às chances crescentes de aperto monetário nos EUA.

Com essa expectativa de mais juros por lá, os rendimentos dos títulos norte-americanos de dois anos atingiram ontem o maior nível em mais de 7 anos, enquanto o rendimento dos papéis de vencimentos mais longos bateram máximas em várias semanas ou meses. Hoje, a taxa de juros norte-americana está no intervalo entre 0,50% e 0,75% e pode alcançar um dígito, subindo para de 0,75% a 1%, na decisão a ser anunciada no próximo dia 15.

Apenas os Treasuries e o dólar tentam manter o fôlego de alta nesta manhã, com a moeda norte-americana registrando a maior sequência de ganhos ante os rivais desde maio. O ouro e a prata recuam, em meio aos sinais de aceleração da inflação nos países desenvolvidos, enquanto os metais básicos e o petróleo falham em manter o otimismo quanto a um crescimento econômico mais acelerado pelo mundo.

Também na agenda econômica no exterior, saem índices de atividade (PMI) nos setores industrial e de serviços nos EUA e na zona do euro, pela manhã. No Brasil, destaque apenas para os números de janeiro sobre o emprego formal (Caged), às 16h30.

Por mais que o terreno esteja preparado, é difícil cravar se uma nova alta na FFR será o gatilho para um movimento maior de correção entre os ativos globais. Até porque, por ora, é o otimismo quanto ao crescimento econômico dos EUA e, de quebra, do mundo, que tem alimentado o apetite por risco.

Mais que isso, é a liquidez de recursos e a ausência de posição vendida (“aposta na queda”) por parte de grandes players que têm sustentado a valorização de ações, moedas e commodities. Assim, apenas quando o Fed levantar o debate quanto ao enxugamento do balanço de pagamentos é que pode haver uma migração mais intensa rumo a ativos seguros.

Só aí o mercado corrige. Enquanto isso, os fatores para dar início a esse movimento seguem colocados à mesa, mas sem influenciar os negócios – ainda. Internamente, são os ruídos políticos em Brasília que podem causar estrondo no mercado doméstico.

Após o depoimento do empresário Marcelo Odebrecht à Justiça Eleitoral, o Palácio do Planalto (Jaburu) passou a ver um risco real ao presidente Michel Temer, caso a chapa (ou as contas) não seja dividida. A avaliação do governo é de que a fala, respaldada pela homologação da delação premiada no âmbito da Lava Jato, é suficiente para a cassação do mandato.

Na próxima semana, os depoimentos sobre o assunto continuam – e podem ganhar peso. Também na semana que vem, quando parece que o ano finalmente começa, a Procuradoria-Geral da República deve apresentar a segunda versão da “Lista de Janot”, com pedidos de abertura de inquéritos contra vários políticos.  

Assim, as delações premiadas e os vazamentos seletivos podem começar a elevar a tensão nos negócios locais, potencializando o impacto do Fed nos mercados domésticos. Com o Brasil em um momento desconfortável, as chances de aprovação das reformas estruturais podem ficar ameaçadas – e isso também pode fazer preço nos ativos.

Ainda mais agora, que o Banco Central (Copom) pediu “preferência por um maior grau de liberdade quanto às decisões futuras” sobre a taxa básica de juros. Mesmo não tendo deixado claro se os cortes serão intensificados já em abril, a trajetória da Selic tende a diminuir a atratividade pelo rendimento dos juros no Brasil.

E esse movimento pode levar a uma correção maior no dólar. Afinal, os números do BC mostram que a tal entrada de recursos estrangeiros no país, que sustentaria uma valorização do real, não está acontecendo. Apenas em fevereiro houve a saída de mais de US$ 8 bilhões pela conta financeira, ao mesmo tempo que a exposição dos “gringos” em títulos públicos é cada vez menor. 

Basta apenas a ficha dos investidores cair…

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