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Pré-Market: Mercado tenta se recompor em meio a incertezas

16 maio 2018, 8:18 - atualizado em 16 maio 2018, 8:18

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O mercado financeiro tenta viver momentos de calmaria nesta quarta-feira, com os ativos de riscos buscando se recompor, após a turbulência nos negócios ontem. As bolsas no Ocidente ensaiam altas, enquanto o dólar se estabiliza ante os rivais de países desenvolvidos e mede forças frente às moedas emergentes, ao mesmo tempo em que o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) recua, mas segue acima de 3%. O petróleo cai, embora permaneça acima de US$ 70 o barril. Os metais básicos também estão em baixa.

Apesar da aparente tentativa de estabilização no mercado financeiro, os investidores ainda digerem as renovadas incertezas em relação ao encontro dos líderes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte, após exercícios militares na fronteira, e a escalada da violência em Gaza desde a mudança de embaixada dos EUA para Jerusalém. No front econômico, as ameaças protecionistas ainda prometem danos ao crescimento global, ao passo que o rali do dólar tem afetado o fluxo de recursos, sugando aportes aplicados em ativos mais arriscados.

No Brasil, a dúvida é o que irá acontecer com o dólar após um novo corte na taxa básica de juros, um dia depois de a moeda norte-americana encerrar no maior valor desde abril de 2016. Por volta das 18h, o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia a decisão e, apesar de muitas dúvidas e questionamentos, o Banco Central deve mesmo cortar a Selic em mais 0,25 ponto, a 6,25% ao ano.

Se confirmado, será o décimo terceiro recuo consecutivo no juro básico brasileiro, renovando o piso histórico da Selic pela quarta vez seguida. Contudo, a tendência é de que o corte neste mês seja o derradeiro, pondo fim ao ciclo de afrouxamento monetário, iniciado em outubro de 2016, totalizando uma redução de oitos pontos no juro básico no período.

A desvalorização do real e o ambiente externo mais avesso ao risco de países emergentes tendem a levar o BC a redobrar a cautela, mostrando maior parcimônia em relação aos próximos passos de política monetária e monitorando o comportamento da inflação. Com isso, o foco da decisão do Copom estará no comunicado que acompanhará o anúncio, hoje à noite. A reação dos ativos locais, amanhã, vai depender do tom e da sinalização do Comitê.

A acomodação nos preços dos ativos domésticos observada ontem, com o dólar voltando à faixa de R$ 3,66 depois de encostar em R$ 3,70 durante a sessão, mostra que houve um movimento de ajuste no prêmio de risco, com o mercado se autorregulando. Mas as dúvidas quanto aos fundamento econômico do país ainda persistem e a próxima rodada vai depender do consenso entre os investidores quanto ao cenário à frente – se mais pessimista ou não.

Afinal, não há dúvida que a dinâmica do mercado financeiro mudou. Lá fora, os investidores resolveram colocar em prática a fama que leva o mês no exterior, com o tradicional jargão que diz sell in may and go away (“venda em maio e vá embora”), em alusão à proximidade das férias de verão (no Hemisfério Norte). Por aqui, já é fato que os negócios locais entraram em um mercado de baixa (bear market), mas a ferocidade do “urso” tem diferentes estágios.

Por ora, o dólar cotado acima de R$ 3,60 reflete tanto o baixo o diferencial de juros entre o praticado no Brasil e nos Estados Unidos – sendo que o Federal Reserve está preparado para subir novamente a taxa em junho – e a incerteza eleitoral no Brasil, com os candidatos Jair Bolsonaro, Marina Silva e Ciro Gomes mostrando-se competitivos, enquanto Geraldo Alckmin não decola e pode virar alvo de uma coalizão entre os tucanos.

Há quem diga que as pesquisas eleitorais tem sido exercícios de futilidade, seja por considerarem um candidato preso, seja por traçar cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem saber quem será o candidato do PT. A participação ou não do líder petista tem sido determinante para o elevado número de entrevistados que não faz ideia em quem votar, ampliando o total de votos brancos/nulos e eleitores indecisos nos levantamentos.

Ao mesmo tempo, a diluição entre diversos candidatos com perfil semelhante, principalmente de centro e à direita, e a falta de alianças/coligações entre os partidos também pesa neste contexto. Assim, a possibilidade é de que somente com a aproximação da eleição, em outubro, os eleitores consigam saber quais nomes sobreviverão e, então, decidir em quem votar. Por ora, o desencanto com a política brasileira tem ajudado o deputado Jair Bolsonaro.

Na agenda econômica do dia, saem (8h) o primeiro IGP do mês, o IGP-10, e a segunda prévia de maio do índice de preços ao consumidor (IPC-S). Na sequência (8h30), o BC divulga o índice de atividade econômica em março, que deve confirmar um ritmo fraco. Às 12h30, é a vez dos dados parciais do mês sobre a entrada e saída de dólares (fluxo cambial) no Brasil.

No exterior, o destaque fica com o desempenho da produção industrial nos Estados Unidos em abril. A estimativa é de que a atividade na indústria tenha ganhado tração, crescendo 0,7% em relação a março, quando subiu 0,5%, também em base mensal. Com isso, o nível de utilização da capacidade instalada deve subir a 78,4%, de 78% antes.

Os números efetivos serão conhecidos às 10h15 e podem calibrar as apostas em relação ao total de altas nos juros do país neste ano. Ontem, os dados robustos do varejo norte-americano reforçaram a perspectiva de que os gastos do consumidor estão acelerando, após um primeiro trimestre lento em termos de consumo, o que pode gerar pressão inflacionária à frente, instigando uma postura mais dura (“hawkish”) do Federal Reserve.

O calendário de indicadores dos EUA traz ainda dados sobre a construção de moradias no mês passado (9h30) e sobre os estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados no país na semana passada (11h30). Logo cedo, na zona do euro, será conhecida a leitura revisada de abril do índice de preços ao consumidor (CPI) na região da moeda única. Às 9h, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, discursa, em um evento.

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