Comprar ou vender?

Pré-Market: Mercado olha para fora

27 out 2017, 9:13 - atualizado em 05 nov 2017, 13:52

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

A semana chega ao fim com as atenções voltadas ao ambiente internacional, neste dia de divulgação dos números da economia dos Estados Unidos no terceiro trimestre deste ano. Aliás, é do exterior que tem surgido as novidades capazes de agitar os mercados financeiros, uma vez que os cenários político e econômico no Brasil têm entregado o que é esperado, mantendo as expectativas locais elevadas.

Ontem, as declarações suaves (“dovish”) vindas do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, afundaram o euro e o movimento reverberou em todo o mundo, içando o dólar e levando a moeda norte-americana a superar a marca de R$ 3,25. A retirada de estímulos monetários à região da moeda única não soou agressiva (“hawkish”), esvaziando as apostas de aumento dos juros no bloco.

Essa avaliação somada à possibilidade de uma reforma tributária nos EUA potencializou a força do dólar, que também vem ganhando sustentação com a mesa de apostas sobre a sucessão no comando do Federal Reserve. O nome do economista John Taylor é cada vez mais favorito, com o presidente Donald Trump escolhendo alguém de postura dura para conter os efeitos inflacionários vindo dos cortes de impostos às empresas e às famílias.

Tendo esse pano de fundo, os investidores recebem hoje (10h30), os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano entre julho e setembro. A expectativa é de ligeira desaceleração no ritmo da atividade econômica, com a taxa de crescimento anualizada passando de 3,1% ao final da primeira metade deste ano para 2,8% nos três primeiros meses do segundo semestre.

Depois, sai a leitura revisada de outubro do índice de confiança do consumidor nos EUA (12h). Na Europa, o BCE volta à cena para anunciar as projeções macroeconômicas, que devem continuar mostrando a inflação em níveis baixos e o crescimento em trajetória ascendente. No Brasil, saem as sondagens do comércio (8h) e da construção civil (11h), além dos dados sobre as operações de crédito no Brasil (10h30) e dos balanços trimestrais de Usiminas e Embraer, antes da abertura do pregão local.

Mas o que desperta interesse por aqui é a calibragem das expectativas que vem sendo feita pelo governo, mantendo o discurso de que mais reformas serão feitas. O ministro Meirelles (Fazenda) prometeu intensificar o corpo a corpo com os parlamentares para avançar com a “agenda positiva” até o fim do ano. Ele conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sobre as novas regras da Previdência e mantém a previsão de aprovação.

Agora, porém, Meirelles mudou o tom e já não fala mais em aprovação na segunda metade de novembro – e sim em dois meses. A questão é saber se esse processo terá mesmo apoio.

Depois de tanta convicção (e acerto), em relação ao arquivamento de mais uma denúncia contra o presidente Michel Temer e também à redução no ritmo de cortes na taxa básica de juros, o horizonte à frente no país ficou um pouco mais nebuloso. Não se sabe mais qual é o tamanho da base aliada do governo nem quanto mais a Selic pode cair – e se além de 2017.

Todas essas incertezas, internas e externas, estressaram os mercados domésticos ontem, pressionando o dólar e os juros futuros, e enfraquecendo a Bovespa, que já começa a sentir saudade do investidor estrangeiro. O ingresso maciço de recursos externos na renda variável, observado nos últimos meses, perdeu vigor neste mês, deixando dúvidas em relação à chance de um rali de fim de ano, que levaria a Bolsa aos 80 mil pontos.

Lá fora, os índices futuros das bolsas de Nova York ensaiam alta nesta manhã, mas sem muito entusiasmo. Os ganhos firmes na Ásia, onde a Bolsa de Tóquio superou os 22 mil pontos pela primeira desde 1996, embalam a abertura do pregão na Europa. O euro, por sua vez, segue em queda, ainda sob efeito do BCE, ao passo que a libra esterlina ressente os temores quanto à saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit.

Também em destaque entre as moedas está o dólar australiano, que caiu ao menor nível desde julho, após o governo do país-continente perder a maioria no Parlamento. O xará neozelandês também é pressionado. Nas commodities, o petróleo se sustenta próximo aos maiores níveis em mais de dois anos, em meio ao otimismo de que os cortes na produção pelo cartel de países produtores (Opep) será estendido.

Leia mais sobre: