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Pré-Market: Mercado inicia novo mês com velhos problemas

01 jun 2018, 8:06 - atualizado em 01 jun 2018, 8:06

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O mês de junho no Brasil começa em uma sexta-feira espremida entre o feriado e o fim de semana e sem grandes mudanças no cenário doméstico, o que mantém o mercado financeiro pressionado. No exterior, a decisão de Donald Trump de revogar o adiamento da sobretaxa no aço, horas antes de as isenções temporárias expirarem, resgatou a guerra comercial e o tema pesou nos negócios ontem.

Aliados próximos dos Estados Unidos planejam retaliar na mesma moeda, aplicando bilhões de dólares em tarifas extras na importação de vários produtos norte-americanos. A reação foi rápida e veio após Trump mudar de ideia e decidir elevar os encargos sobre alumínio e aço importados da União Europeia (UE), México e Canadá, já a partir de hoje.

No mercado financeiro, o índice Dow Jones caiu 1% ontem e o S&P 500 teve queda de 0,7%, mas a sinalização para o dia já é positiva, após uma sessão mista na Ásia. Na Europa, a Bolsa de Milão lidera os ganhos hoje, após os movimentos populistas chegarem a um acordo para a formação de governo, enquanto na Espanha, é crescente o risco de Mariano Rajoy perder o poder. O dólar e os bônus norte-americanos estão estáveis, assim como o petróleo.

Mas é o comércio mundial que preocupa o investidor. A decisão de Trump de suspender a isenção à importação de metais marca uma ação agressiva contra os principais parceiros comerciais dos EUA, que vinham lutando por um alívio permanente na taxação do aço e do alumínio. Juntos, UE, Canadá e México representam 40% dessas importações aos EUA.

A promessa dos aliados de responder com medidas em escala proporcional às ações dos EUA eleva as preocupações quanto à perspectiva de uma guerra comercial, já que o governo Trump também considera aumentar tarifas sobre as importações de automóveis – atingindo também o Japão – e planeja sobretaxar produtos chineses em US$ 50 bilhões.

Por ora, o investidor aposta que as ameaças comerciais não irão se materializar em uma guerra onde todo o mundo perde. Ainda assim, os imbróglios criados pela Casa Branca, seja no front comercial ou na esfera geopolítica, devem elevar a pressão nos mercados domésticos.

Por aqui, a tendência dos negócios continua sendo de baixa, diante da reversão de expectativas para o cenário político-econômico no país. No pano de fundo, estão as incertezas afloradas com o crescimento (PIB) e a inflação (IPCA), após o impacto da greve dos caminhoneiros na atividade e nos preços, somadas à questão fiscal, com as concessões do governo para reduzir o diesel elevando o rombo das contas públicas.

O fato de 2018 ser ano eleitoral amplia a tensão interna. A deterioração do mercado financeiro doméstico se agrava à medida que o investidor percebe a viabilidade ameaçada das reformas estruturais e do ajuste fiscal combinada com a perspectiva de um candidato de centro-esquerda ser mais competitivo no pleito do que um nome pró-mercado.

Em suma, os ativos domésticos ainda têm um longo caminho para se ajustar às verdadeiras tendências em curso da economia brasileira. Os investidores estrangeiros já vislumbram esse novo cenário e estão de saída do país, o que tende a manter a pressão de alta no dólar, com a moeda norte-americana furando novos patamares – o próximo em R$ 3,80.

Para se ter uma ideia, em apenas oito dias, os “gringos” retiraram mais de R$ 6 bilhões em recursos da Bolsa brasileira, culminando no pior desempenho mensal do Ibovespa desde setembro de 2014 e ampliando o saldo negativo de capital externo no ano para R$ 2 bilhões. Já na renda fixa, a pressão para que o Tesouro Nacional dê saída aos estrangeiros, que estão aplicados em taxas longas, estendeu o leilão de recompra de títulos públicos.

De hoje até a próxima terça-feira, o órgão fará novas operações de recompra de papéis, com vencimentos em 2025, 2027 e 2029. Tal postura deve provocar mudanças na estratégia de alongamento da dívida brasileira do Tesouro, no âmbito do Plano Anual de Financiamento (PAF), readequando a emissão de papéis de longo prazo.

Ou seja, considerando-se tanto o movimento na renda variável quanto no mercado de juros futuros, a direção do dólar é para cima. Assim, depois de subir quase 7% em maio, no quarto mês seguido de alta (+17,5% no período), não deve haver trégua na tendência de desvalorização do real.

Ainda mais diante da perspectiva de que o Federal Reserve irá promover o segundo aumento do ano na taxa de juros dos Estados Unidos neste mês. Tal aperto tende a atrair recursos aplicados em ativos mais arriscados, como o do Brasil, em busca da rentabilidade mais segura oferecida pelos títulos norte-americanos.

A reunião do Fed, nos dias 12 e 13 de junho, é o grande destaque deste mês, pois ainda pairam dúvidas sobre o total de altas a serem promovidas no custo do empréstimo dos EUA ao longo deste ano. Para calibrar essas expectativas, o mercado financeiro está atento à expectativa de inflação mais elevada, vinda, principalmente, da pressão dos salários.

Por isso, merece atenção o relatório oficial de emprego nos EUA em maio, que será conhecido hoje. O chamado payroll sai às 9h30 e a previsão é de criação de 195 mil vagas de trabalho no país no mês passado, após 164 mil novas vagas em abril, o que manteria a taxa de desemprego em 3,9%, no menor nível desde dezembro de 2000.

Mas o foco no payroll está no aumento do ganho médio por hora dos trabalhadores. A previsão é de alta de 0,3% em base mensal, a US$ 34,50, e expansão de 2,6% na comparação anual, acelerando o ritmo em relação ao observado nos três meses anteriores, quando a variação mensal oscilou entre 0,1% e 0,2%, e voltando ao verificado na virada do ano.

De um modo geral, os números evidenciam o mercado de trabalho norte-americano cada vez mais aquecido, em condições de pleno emprego, com as empresas oferecendo salários maiores enquanto buscam os profissionais  adequados. Se confirmados, devem crescer as apostas de que o Fed aumentará os juros com mais rapidez neste ano.

Ainda na agenda econômica no exterior, serão conhecidos dados sobre a atividade industrial em maio nos EUA e na zona do euro, além dos gastos com construção nos EUA em abril (11h) e das vendas de veículos no país em maio. Na China, os índices dos gerentes de compra (PMI) na indústria ficou estável em maio, em 51,1.

Os dados calculados pelo Caixin/Markit indicam um aumento das encomendas, mas quedas nas vendas de exportação. Já o dado oficial chinês sobre a atividade industrial, que reflete mais as empresas estatais, ficou acima do esperado, em 51,9 no mês passado, de 51,4 em abril, sinalizando uma demanda externa robusta.

No Brasil, o calendário foi esvaziado pelo feriado e prevê apenas os números da balança comercial em maio (15h).

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