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Pré-Market: Mercado de olho na tela da TV

27 ago 2018, 8:09 - atualizado em 27 ago 2018, 8:10

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

A última semana de agosto começa envolta da expectativa quanto à aparição do ex-presidente Lula na tela da TV, falando como candidato do PT durante a propaganda eleitoral. A campanha gratuita em cadeia nacional de rádio e televisão tem início no dia 31 e o rito do processo sobre a impugnação da candidatura do líder nas pesquisas de intenção de voto na Justiça Eleitoral é a principal incerteza no curto prazo.

Apesar da guerra comercial e da tensão geopolítica promovida pela Casa Branca, o investidor está mais atento ao risco local do que ao cenário externo. O temor de que a esquerda continue ganhando espaço na corrida presidencial em outubro é crescente, o que tem mantido o dólar no segundo maior valor do Plano Real – atrás apenas da máxima histórica de R$ 4,16.

Tal valor reflete o receio do mercado financeiro com o futuro político e fiscal do país, enquanto o eleitor mantém a preferência por um governo populista pela quinta eleição consecutiva, sem parecer se preocupar com o corte de gastos e as reformas. E, por ora, não há nenhum indício de que haverá mudança nessa percepção. Ao contrário.

O julgamento no TSE sobre o registro da candidatura de Lula, que foi alvo de 16 impugnações, só deve acontecer, em tese, após o início do horário político nos meios de comunicação de massa. A defesa do ex-presidente tem até a véspera, dia 30, para rebater os pedidos apresentados para barrar a candidatura, com base na Lei da Ficha Limpa.

Passado esse prazo, abre-se a possibilidade de as partes envolvidas apresentarem alegações finais ou mesmo para as considerações do Ministério Público Eleitoral. Não se trata de uma etapa obrigatória, mas a tendência é de que o TSE cumpra o rito a risca, de modo a não permitir questionamentos posteriores.

Com isso, o registro da candidatura de Lula só deve ser julgado pelo plenário do TSE no início do mês que vem, o que pode garantir a presença do ex-presidente na TV em ao menos duas inserções. A campanha no rádio e na TV dos candidatos a presidente começa neste sábado, dia 1º de setembro, alternando-se com os que tentam os governos dos Estados.

É difícil antecipar o que a Justiça Eleitoral decidirá e o que as próximas pesquisas eleitorais vão apresentar. Alguns institutos divulgam seus levantamentos nos próximos dias, entre eles o DataPoder360 e o Paraná. Além disso, os presidenciáveis serão entrevistados ao longo desta semana no Jornal Nacional, começando com Ciro Gomes hoje.

Marina Silva fecha a série, na quinta-feira, que contará com Jair Bolsonaro, amanhã, e Geraldo Alckmin, na quarta-feira. Com isso, deve-se manter um alto nível de nervosismo no mercado financeiro brasileiro, pois os investidores enxergam a corrida presidencial para 2019 como um evento decisivo para o futuro da economia nacional.

Faltando cerca de 40 dias para o primeiro turno das eleições, essa incerteza no cenário político-jurídico deve impactar o sentimento do investidor, elevando a aversão ao risco brasileiro e aumentando a demanda por prêmio. Para completar, a semana promete mais volatilidade, por causa dos indicadores econômicos.

O grande destaque da agenda desta semana ficou reservado para sexta-feira, quando será conhecido o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano. A previsão mais otimista é de estabilidade da economia brasileira, mas não se pode descartar o impacto da greve dos caminhoneiros na atividade, levando à retração.

Antes disso, saem hoje dados sobre as contas externas do Brasil (10h30) e o desempenho das contas do governo. Depois, é a vez dos números sobre as operações de crédito (quarta-feira). Na quinta-feira, também serão conhecidas a taxa de desemprego até julho e o IGP-M de agosto.

No exterior, a segunda estimativa do PIB dos Estados Unidos sai na quarta-feira. Na leitura preliminar, houve crescimento de 4,1% da economia norte-americana entre abril e junho deste ano. Um dia antes, sai o índice de confiança do consumidor no país em agosto. No dia seguinte, saem os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo nos EUA.

Na sexta-feira, é a vez do sentimento do consumidor. Hoje, o calendário lá fora está mais fraco e o volume financeiro também está reduzido, por causa do feriado bancário no Reino Unido. As principais bolsas europeias têm uma sessão mais fraca, diante da ausência do pregão em Londres, mas seguem o sinal positivo vindo de Wall Street.

Os índices futuros em Nova York mostram que os investidores estão dispostos em ampliar o território recorde, após as bolsas norte-americanas cravarem na semana passada o mais longo período de mercado de alta (bull market) na história. Na segunda-feira da próxima semana, os EUA celebram o Dia do Trabalho (Labor Day), dando fim às férias de verão.

Na zona do euro, merecem atenção os dados preliminares sobre a inflação ao consumidor (CPI) em agosto, na sexta-feira, além da taxa de desemprego na região da moeda única, no mesmo dia. Na virada de quinta para sexta-feira, a China anuncia os dados sobre a atividade na indústria e no setor de serviços neste mês.

Aliás, os movimentos mais fortes do dia, por ora, ocorreram nos mercados asiáticos. As bolsas da região fecharam com ganhos expressivos, sendo Hong Kong subiu mais de 2% e Xangai, quase isso. Os recentes esforços do Banco Central chinês (PBoC) de estabilizar o yuan (renminbi) surtiram efeito, animando também o pregão em Tóquio (+0,9%).

Nas demais moedas, o euro recua, a lira turca volta do longo feriado em queda, ao passo que o peso mexicano ganha terreno em meio às esperanças de acordo em torno do Nafta. Já a guerra comercial dos EUA com a China pode entrar em uma fase ainda pior, após a nova rodada de negociação entre as duas economias do mundo não mostrar nenhum progresso.

Sem nenhum acordo de cessar-fogo, o governo Trump prepara uma nova lista e deve impor sobretaxas em mais US$ 200 bilhões de produtos chineses importados para os EUA. Pequim mantém a promessa de retaliação, mas Washington estuda maneiras para forçar a China a mudar de rumo.

Essa preocupação realça o grande rival estratégico que os EUA enfrentam pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria. Os chineses conhecem a sua história milenar e têm consciência do preço que se paga quando se fica de joelhos para potências estrangeiras. As opções dos chineses podem até parecer limitadas, mas eles sabem identificar um ponto de não-retorno.

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