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Pré-Market: Mercado antecipa julgamento de Lula

04 jan 2018, 7:31 - atualizado em 04 jan 2018, 7:31

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O ano virou no Brasil com um clima mais favorável, após um 2017 desafiador. Só que 2018 começou com os mesmos problemas fiscais e as velhas preocupações políticas, deixando claro que o rali de ano novo dos mercados domésticos carece de um desfecho positivo em prol das eleições de outubro para consolidar o otimismo entre os investidores.

Por enquanto, os players estão apenas aproveitando níveis atrativos de preços nos ativos locais e ajustando as carteiras de investimentos – mas ainda sem arriscar novas apostas ou criar posições mais arriscadas, mesmo após a nota de risco de crédito (rating) do Brasil não ter sofrido novo rebaixamento. Até então, o que tem levado a Bovespa a novas máximas históricas e o dólar abaixo de R$ 3,25 é a expectativa de um cenário eleitoral mais benigno.

Essa perspectiva se baseia na maior confiança de que as chances de Luiz Inácio Lula da Silva disputar o pleito neste ano serão sepultadas no dia 24, quando se dará o julgamento em segunda instância do recurso do ex-presidente no caso do tríplex do Guarujá, para o qual já foi condenado a nove anos e meio de prisão. Com ele fora do jogo, tende a ganhar força um candidato mais comprometido com o ajuste fiscal.

Essa é a visão dos investidores. Por isso, eles estão em compasso de espera pela decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) antes do fim deste mês para, então, elevaram o apetite pelo risco no Brasil e voltarem a atenção novamente à reforma da Previdência. Tanto que esse viés mais otimista no curto prazo se contrasta com o tom pessimista traçado no horizonte para além de dois anos.

Algumas variáveis domésticas já mostram que a relação retorno x incerteza ganha mais espaço na próxima década, quando o país será administrado por um novo governo. O fato de não se saber se é possível eleger um candidato mais liberal, capaz de contornar a trajetória das contas públicas, é o principal reforço dessa percepção de risco, uma vez que nem as pesquisas de intenção de voto têm apontado essa possibilidade.

Enquanto esse cenário segue menos nítido, os investidores apostam na valorização da Bolsa, que entrou na rota dos 80 mil pontos, e na queda do dólar. Esse movimento tem respaldo no comportamento dos mercados internacionais, onde Wall Street mantém o ritmo e crava novos recordes, ao passo que o dólar é enfraquecido pela abordagem gradual do Federal Reserve no processo de aumento dos juros norte-americanos.

Essa sinalização, reforçada ontem na ata da reunião de dezembro do Fed, embala os negócios no exterior nesta manhã. O destaque fica com a Bolsa de Tóquio, que abriu hoje pela primeira vez em 2018 e registrou o maior ganho diário desde 2016, com alta de 3,3%, fechando no maior nível em mais de 20 anos. Também ajudou a sessão na Ásia o avanço da atividade no setor de serviços na China ao patamar mais alto desde agosto de 2014, a 53,9 em dezembro, de 51,9 em novembro.

Esse sentimento se espalhou entre os demais ativos, animando a abertura do pregão na Europa, em meio ao sinal positivo que permanece nos índices futuros das bolsas de Nova York nesta manhã. O dólar, por sua vez, mede forças em relação às divisas europeias, mas perde terreno para as moedas correlacionadas às commodities, como o xará australiano, que é cotado no maior nível desde outubro. Já o petróleo do tipo WTI ultrapassou a marca de US$ 62 por barril, o que pode impulsionar a exploração de xisto.

A agenda econômica desta quinta-feira ganha maior relevância no exterior, uma vez que aqui será conhecida apenas o índice de preços ao produtor (PPI) em novembro, às 9h. Lá fora, as atenções se voltam para o relatório da ADP sobre a criação de postos de trabalho no setor privado norte-americano em dezembro (11h15).

Os números podem calibrar as expectativas para o relatório oficial de emprego nos Estados Unidos (payroll), amanhã. Ainda hoje, merecem atenção os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país (11h30) e o índice de atividade no setor de serviços (12h45). À tarde (14h), é a vez dos dados semanais sobre os estoques de petróleo bruto e derivados.

Logo cedo, serão conhecidas as leituras finais sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e em países do bloco no mês passado. Fora da região da moeda única, o Reino Unido também informa os dados finais de atividade em dezembro.

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