Pré-Market: Mercado adota cautela como estratégia
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.
A cautela dita o tom dos mercados financeiros nesta sexta-feira, dia de divulgação dos dados de emprego nos Estados Unidos (payroll) e antevéspera da definição do próximo presidente na França. Enquanto os investidores se ajustam à maior probabilidade de aumento da taxa de juros norte-americana em junho e de vitória de Emmanuel Macron nas urnas, o cenário doméstico traz dúvidas quanto aos próximos passos das reformas.
A vitória do governo na comissão especial, encaminhando o relatório da Previdência ao plenário da Câmara, já era esperada pelos negócios locais. Mas a aprovação não é garantia de que o apoio será transportado aos demais deputados. Ao contrário, começa agora mais um corpo-a-corpo para conquistar os 308 votos necessários e, pelo placar da imprensa, o governo conta apenas com 82 votos a favor e 225 contra.
Essa nova disputa deve ser mais difícil e pode ficar condicionada a desidratações adicionais na proposta de mudança nas regras da aposentadoria, de modo a garantir o apoio de três quintos do total de deputados. Ontem, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) reiterou que as alterações já realizadas mantêm 75% do texto original e que não se espera mudanças substanciais até a aprovação final do projeto no Congresso.
Mas o governo sabe que não tem os votos necessários e que será preciso negociar mais com os parlamentares, visando construir uma base sólida. Até por isso, o Palácio do Planalto optou por esperar a votação da reforma trabalhista no Senado para só então tentar aprovar a previdenciária na Câmara.
Esse atraso na tramitação do projeto é ruim, pois o tempo joga contra o governo e à medida que o semestre virar e as eleições de 2018 forem ficando mais próximas, a tendência é de os congressistas votarem contra as reformas, temendo o peso dessas medidas nas urnas. Assim, cresce a desconfiança com a agenda reformista do governo.
Com o ambiente político turbulento e a agenda doméstica trazendo apenas os números do setor automotivo em abril (11h20), as atenções locais se voltam ao exterior. O destaque por lá é o payroll, que sai às 9h30. A previsão é de abertura de 190 mil vagas no mês passado, com a taxa de desemprego oscilando a 4,6% e o ganho médio por hora subindo 0,3%, a US$ 34,40.
Após o Federal Reserve considerar transitória a fraqueza da economia dos EUA no primeiro trimestre e elogiar o estreitamento do mercado de trabalho no país, os dados do payroll podem definir as apostas quanto a uma nova alta dos juros norte-americanos no mês que vem. A precificação na curva implícita já supera 90% de chance e os discursos de vários dirigentes do Fed hoje, ao longo do dia, pode calibrar essa possibilidade.
Ainda no exterior, é grande a expectativa pela vitória do candidato centrista Macron contra a ultraconservadora Marine Le Pen na disputa pela Presidência da França. À espera desses eventos nos dois lados do Atlântico Norte, os mercados internacionais recuam, com o movimento sendo capitaneado novamente pela quedas das commodities.
Um dia após o tombo dos metais básicos pesar nos negócios pelo mundo, hoje é a vez do petróleo conduzir as perdas. O barril do WTI é negociado no menor nível desde novembro, abaixo da marca de US$ 45, refletindo a piora da confiança em relação aos cortes de produção pelo cartel de países exportadores (Opep), que teve início no fim do ano passado.
O minério de ferro caiu pelo terceiro dia seguido na bolsa chinesa de Dalian, em meio aos receios de que a repressão de Pequim à especulação em operações financeiras pode prejudicar a demanda por metais. As bolsas de Hong Kong e Xangai caíram 0,8%, cada. Na Austrália, a Bolsa de Sydney recuou pela quarta vez consecutiva.
Ainda nas negociações asiáticas, o petróleo caiu 3% em questão de minutos, penalizando o desempenho das demais bolsas da região. Nesta manhã, porém, a commodity busca uma recuperação, ao redor de US$ 45,80, mas segue pressionando o sinal nos índices futuros das bolsas de Nova York e das principais bolsas europeias.
Ao que tudo indica, a queda generalizada entre as principais commodities industriais pode estar mais relacionada à dinâmica de oferta e demanda de recursos em mercados individuais do que a preocupações sobre um pico provável no crescimento econômico chinês ou do ritmo suave da economia dos EUA no último trimestre. De qualquer forma, em momentos de intenso vaivém, os investidores buscam proteção nos ativos.
O iene e o ouro avançam, ao passo que o dólar ganha terreno das moedas emergentes. Já o rendimento (yield) dos títulos norte-americanos (Treasuries) está de lado, à espera do payroll, diante dos sinais cada vez mais firmes de uma situação de pleno emprego nos EUA.