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Pré-Market: Mercado aciona modo risk-off

15 maio 2018, 8:22 - atualizado em 15 maio 2018, 8:22

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado

O mercado financeiro não conseguiu manter por muito tempo um rali de alívio (relief rally) entre os ativos e o investidor parece mais disposto em sair do risco, acionando o modorisk-off. As preocupações em torno das questões comerciais, geopolíticas e em relação ao crescimento econômico global deprimem as bolsas, com os índices futuros das bolsas de Nova York no vermelho, ao mesmo tempo em que o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) volta a superar a marca de 3%, ao passo que o dólar avança. Tal movimento tende a pressionar ainda mais os ativos emergentes, diante dos receios crescentes envolvendo Argentina, Turquia, México – e também o Brasil.

O mercado doméstico não gostou nem um pouco dos números mais recentes sobre a corrida presidencial no Brasil. Além do principal candidato de esquerda, Ciro Gomes (PDT), ter crescido na pesquisa CNT/MDA, pesou o fato de o nome preferido do investidor, o tucano Geraldo Alckmin, seguir sem dar sinais de que irá decolar nas intenções de votos.

Para o investidor, o candidato do PSDB é o que mais apresenta um viés reformista, defensor de uma ampla agenda de reformas estruturais, e também fiscalista, intensificando o ajuste das contas públicas. Na liderança, permanece o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo preso. Em um cenário sem o líder petista, o deputado Jair Bolsonaro aparece na frente.

Mas não é somente o cenário eleitoral no país que está turvo. A piora nas previsões para o crescimento econômico e a taxa de câmbio neste ano mostra um tom mais pessimista, o que levou o mercado doméstico a desafiar o Banco Central na sua intenção de cortar a taxa básica de juros em mais 0,25 ponto, amanhã.

O investidor resolveu testar a disposição do BC na intervenção no câmbio, ao mesmo tempo em que questiona os próximos passos da autoridade monetária na condução da Selic. Com isso, o dólar flertou com a marca de R$ 3,64 durante a sessão de ontem, encerrando o dia no maior nível em mais de dois anos, ao passo que a chance de queda do juro básico caiu a 65%.

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) começa hoje e, após a sinalização do presidente do BC, Ilan Goldfajn, de que o repasse da pressão cambial à inflação tende a ser baixo, a perspectiva ainda é de que a Selic irá renovar o piso histórico a 6,25% ao ano. As expectativas de inflação ainda ancoradas e a inflação corrente ainda baixa justificam a queda.

Com isso, a expectativa do mercado financeiro reside na possível indicação do Comitê quanto à interrupção do ciclo de queda da taxa básica a partir do próximo encontro, em junho. A previsão é de que a Selic fique estável até o fim deste ano, sendo que em 2019 começa um processo de reversão de tendência, com o juro básico voltando a subir.

Já no exterior, a postura do presidente Donald Trump mostra certa disposição dos Estados Unidos em renegociar acordos, revendo decisões que podem ser prejudiciais à economia norte-americana. Ainda assim, a disputa comercial entre EUA e China, a violência no Oriente Médio e as preocupações com o crescimento global ajudam a consolidar o sentimento de risk-off no mercado financeiro.

Mas a onda vendedora (selloff) nos negócios hoje começou entre os bônus europeus, após comentários mais duros (“hawkish”) vindo de autoridades do Banco Central da zona do euro (BCE), o que acabou pressionando os negócios na Ásia e também em Wall Street. Um aumento no rendimento (yield) dos títulos combinado com um dólar mais forte e bolsas mais fracas estão se tornando uma mistura familiar e desconfortável aos investidores.

Como pano de fundo, estão os dados mistos sobre a atividade na China, que confirmam uma economia já em desaceleração gradual. A produção industrial chinesa cresceu 7% em abril, em relação a um ano antes, mais que a previsão de alta de 6,4% e ganhando ritmo frente ao aumento de 6% em março. Já as vendas no varejo do país desaceleram a 9,4%, crescendo menos que a estimativa de 10% e que a alta de 10,1% em março, ao passo que os investimentos em ativos fixos avançaram 7% no acumulado de 2018, ante projeção de +7,4%.

A agenda econômica do dia no exterior divide as atenções entre os dados de atividade nos EUA e na zona do euro. Logo cedo, sai o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) na região da moeda única no acumulado dos três primeiros meses de 2018. Também será conhecido o índice de sentimento econômico na Alemanha e em todos os 19 países do bloco comum.

Do outro lado do Atlântico Norte, destaque para os dados das vendas no varejo norte-americano em abril e para o índice regional da indústria em Nova York, ambos às 9h30. Depois, às 11h, é a vez dos estoques das empresas dos EUA em março e também do índice de confiança no setor da construção civil neste mês.

À tarde, às 17h, sai o fluxo de capital estrangeiro nos EUA em março. No fim do dia, o Japão divulga a leitura preliminar do PIB do país entre janeiro e março. Já no calendário doméstico desta terça-feira, destaque apenas para o desempenho do setor de serviços (9h), que deve ter seguido fraco em março, prejudicando o resultado do PIB brasileiro no início deste ano.

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