Pré-Market: Lista de desejos para 2018
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
Ainda vai levar um tempo para os mercados financeiros voltarem a operar a pleno vapor, pois muitos investidores continuam festejando a chegada de 2018 e aguardando um horizonte mais nítido para definir suas apostas. O forte início de negócios na primeira sessão do ano novo ontem dá uma ideia da lista de desejos dos agentes domésticos para 2018, sendo que a expectativa está no julgamento de Lula no dia 24.
Ao longo de todo este mês de janeiro, os mercados domésticos só vão querer saber do processo no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), que pode confirmar a sentença do juiz Sergio Moro e condenar o ex-presidente, tornando-o inelegível para o pleito de 2018. As esperanças estão depositadas no placar da votação que, se for unânime, tende a sepultar as chances do ex-presidente para se candidatar.
Em segundo plano, está a reforma da Previdência. Mas as novas regras para aposentadoria não precisam nem ser aprovadas neste ano, contanto que haja um candidato competitivo de centro-direita nas eleições de outubro, capaz de dar legitimidade a uma agenda de reformas que seria tocada pelo novo governo em 2019. Para os mercados, com Lula fora da disputa, esse cenário pode ganhar força.
Nos bastidores, os nomes para o jogo nas urnas passam por Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, e Henrique Meirelles, ministro da Fazenda. Mas tanto um quanto outro aparecem mal colocados nas pesquisas de intenção de voto. Já o tucano Geraldo Alckmin tem índice tão baixo quanto do escudeiro João Doria. Os dois, aliás, anunciaram aumento de 5,26% na tarifa básica do transporte público em São Paulo.
O reajuste é o primeiro desde janeiro de 2016 e entra em vigor no domingo. Em outras capitais, novos preços já estão sendo praticados – e provocado reclamações de passageiros. Mas a alta nos preços das passagens de ônibus, trem e metrô no país não deve pressionar a inflação no início deste ano, uma vez que a inesperada bandeira verde na conta de luz em janeiro tende a amortecer o impacto.
O custo deve pesar mesmo é no bolso do consumidor, ainda mais depois que o salário mínimo vigente ficou abaixo do estimado. Depois de prever inicialmente pagamento básico de R$ 979, o governo revisou a projeção para R$ 969 e, depois, para R$ 965. Ao final, o salário mínimo ficou em R$ 954, no menor reajuste em 24 anos, de 1,81% sobre o valor atual de R$ 937. O valor também é inferior a todas as projeções do governo.
Portanto, essa combinação de fatores internos tende a beneficiar o cenário para o Brasil em 2018. À medida que essa conjunção, tanto do lado político quanto do lado econômico, parece se confirmar, a realocação de recursos nos ativos locais ganha força, o que explica, em grande parte, a queda do dólar ontem para perto de R$ 3,25 e a alta de quase 2% da Bovespa, que iniciou o ano em novo nível recorde, perto dos 78 mil pontos.
O ambiente externo positivo também é responsável por grande parte desse movimento local. E esta ajuda vinda do exterior tende a continuar hoje, com os mercados lá fora ainda se beneficiando da postura suave (“dovish”) adotada pelos principais bancos centrais do mundo, que mantém elevada a liquidez de recursos.
Um dia após Wall Street renovar mais uma máxima histórica, os índices futuros das bolsas de Nova York seguem em alta nesta manhã, o que embalou a sessão na Ásia e alimenta um sinal positivo na abertura do pregão na Europa. O euro está de lado, sendo negociado nos maiores níveis em três anos, ao passo que o petróleo se sustenta próximo a US$ 60 o barril.
A agenda econômica está mais fraca hoje, com as atenções já voltadas para os indicadores que serão conhecidos na sexta-feira, sobre a indústria no Brasil e o emprego nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, destaque apenas para os números sobre a entrada e saída de dólares no país em dezembro e no acumulado de 2017 (12h30). No dia seguinte, sai o índice de preços na porta das fábricas (IPP) em novembro.
No exterior, merecem atenção hoje mais um dado sobre a atividade industrial norte-americana (13h), além da ata da última reunião do Federal Reserve no ano passado (17h). O documento perde um pouco de relevância, já que a partir do mês que vem Jerome Powell assume o comando do Banco Central dos EUA e a expectativa é de que ele mantenha o ritmo gradual de aperto da taxa de juros norte-americana.
Afinal, a maior economia do mundo anda ganhando tração, sem gerar pressão inflacionária, o que permite ao Fed uma postura “dovish” no processo de elevação do custo do empréstimo nos EUA. O principal termômetro desse cenário pode ser medido pelo mercado de trabalho, com a criação de vagas não sendo acompanhada por aumento no ganho médio por hora.
Por isso, tem importância os dados da ADP que saem amanhã sobre a criação de emprego no setor privado dos EUA em dezembro e servem de balizador para o que trará o relatório oficial (payroll), na sexta-feira. Os indicadores de atividade nos setores industrial e de serviços do país em dezembro, hoje e amanhã, respectivamente, tendem a corroborar a percepção de ritmo mais acelerado de crescimento nos EUA neste ano.
O mesmo pode-se dizer sobre a zona do euro, que anuncia na quinta-feira números sobre a indústria e os serviços nos países do bloco. Os estímulos adotados pelo BC europeu (BCE) têm impulsionado a atividade, ainda que de modo desigual, e sob dependência da Alemanha e da França. Fora da região da moeda única, o Reino Unido também divulga seus dados de atividade, amanhã.
No fim desta quarta-feira, a China publica o índice sobre a atividade no setor de serviços, que tem crescido ao ritmo de 10% na comparação anual e o resultado de dezembro tende a reforçar a transição gradual que tem acontecido no gigante emergente. Aos poucos, o governo de Pequim tem obtido êxito nos planos de sair da dependência da indústria pesada e focar em inovação e consumo de produtos de maior valor agregado.