Mercados

Pré-Market: Guerra e voto

07 ago 2018, 8:52 - atualizado em 07 ago 2018, 8:52

Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.

O clima eleitoral de outubro já domina o ambiente doméstico no mercado financeiro e a agenda econômica fraca do dia – com a ata da reunião do Copom não trazendo novidades – mantém o pleito no radar local. Lá fora, os investidores ignoram a preocupação causada pelo sinal da China de não recuar na guerra comercial, evocando um nacionalismo.

Há um sentimento crescente de patriotismo entre os consumidores chineses, à medida que Donald Trump eleva o tom contra os produtos “Made in China”. Prova disso é que pela primeira vez em sete anos, a Huawei ultrapassou a Apple e ocupa agora o segundo lugar em vendas de smartphones no mundo, atrás apenas da sul-coreana Samsung.

A subida da fabricante chinesa, que ainda é proibida de vender no mercado norte-americano, revela a ameaça de Pequim por meio da inovação dos concorrentes locais. Além disso, o governo chinês está disposto em avançar nas reformas estruturais, promovendo o patriotismo entre seus mais de 1 bilhão de habitantes e sua classe média crescente.

Mas o mercado financeiro está mesmo preocupado é com a situação econômico-financeira da China, vendo um espaço limitado para o governo responder com estímulos monetário, fiscal e de crédito. Para os investidores é esse cenário que tem inibido a eficácia das medidas para conter a desvalorização do renminbi, que segue próximo à marca psicológica de 7 yuans por dólar.

Hoje, porém, a Bolsa de Xangai fechou em alta de 2,7%, com os investidores vendo que as ações de empresas chinesas estão ficando baratas, após acumular queda de quase 20% no ano. Os ganhos embalaram o pregão asiático, com Hong Kong avançando 1,5% e Tóquio subindo 1,7%. As bolsas europeias também abriram no azul, favorecidas também pelo sinal positivo dos índices futuros em Nova York. Ainda assim, o apetite por risco segue fraco, com o volume de negócios abaixo da média dos últimos 30 dias.

Nos demais mercados, o dólar e os bônus norte-americanos estão estáveis. Entre os ativos emergentes, destaque para a lira turca, que se recupera da mínima recorde atingida ontem, em meio às questões diplomáticas do país com a Casa Branca. A Turquia promete dar uma resposta aos Estados Unidos, após as sanções impostas por causa da detenção de um pastor evangélico norte-americano.

Enquanto isso, novas preocupações geopolíticas com a Coreia do Norte estão prestes a eclodir, depois de relatos de que a península de Kim Jong-Un mantém seu programa nuclear ativo, dois meses depois do encontro histórico com Trump. Além disso, novas sanções unilaterais dos EUA contra o Irã entraram em vigor, apesar do clamor global.

O petróleo é negociado em alta, com o WTI flertando a marca de US$ 70 por barril, diante da renovada tensão com o país persa e após os cortes na produção da Arábia Saudita aumentarem as preocupações com o estoque mundial da commodity. Os metais básicos também avançam.

O calendário no exterior está mais fraco nesta terça-feira, trazendo como destaque apenas o relatório Jolts sobre emprego e números de vagas disponíveis nos EUA em junho (11h). À tarde (16h), saem os dados sobre o crédito ao consumidor em junho. No Brasil, o foco está na ata da reunião de política monetária na semana passada (8h).

Porém, o documento não deve trazer surpresas, uma vez que o Banco Central manteve a taxa básica de juros em 6,50%, conforme amplamente esperado, e praticamente repetiu o conteúdo apresentado no comunicado anterior. O Comitê evitou se comprometer com ações futuras, mas indicou que qualquer piora na cena externa e/ou interna pode alterar o plano de voo em relação à Selic.

Nesse sentido, tanto a cautela com a guerra comercial quanto o quadro eleitoral tendem a deixar os ativos locais mais sensíveis. Afinal, não há nenhuma convicção de que a China irá ficar de joelhos para reverenciar Trump nem em relação ao veredicto do voto nas urnas. Com isso, a volatilidade volta a ser a tônica para o mercado financeiro doméstico.

Afinal, a corrida entre os 13 candidatos segue apertada e permeada de incertezas. Os partidos têm até 15 de agosto para registrar os nomes na Justiça Eleitoral, sendo que após essa data o TSE pode receber pedidos para a impugnação de candidaturas. O prazo para os partidos enquadrarem seus candidatos nas regras eleitorais termina em 17 de setembro, sendo que cabem recursos e o candidato pode concorrer sub judice.

Por ora, o foco se volta ao primeiro debate entre os presidenciáveis, na quinta-feira, que deve contar com algum representante do PT entre os convidados. A estratégia do partido é manter a candidatura do ex-presidente Lula até 20 dias antes do primeiro turno das eleições. Até lá, o líder petista poderia, em tese, participar do horário eleitoral na TV e fazer campanha oficial, nas ruas. Não fosse o fato de ele estar preso há exatos quatro meses, em Curitiba.

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