Pré-Market: Governo tenta Plano B
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado
A Câmara dos Deputados aprovou, por 340 votos a 72, a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, com o Exército ditando as ações na área até o fim deste ano. A medida, que deve ser apreciada pelo Senado hoje, mantém a reforma da Previdência em segundo plano e os investidores estão mais atentos a outras opções – melhores e mais fáceis – para colocar as contas públicas em ordem.
Os mercados domésticos nem vão precisar se ajustar ao fato de que a proposta de novas regras para aposentadoria foi enterrada. Afinal, os negócios locais já eram céticos quanto à aprovação da mudança constitucional (PEC) neste mês – ou mesmo neste ano, já que o discurso, agora, é de que a Previdência fica para depois das eleições, voltando à pauta em novembro – desde que haja apoio do governo eleito à medida.
Sem derrota para nenhum dos lados, o foco se volta ao Plano B anunciado ontem pelo governo, com novas propostas para ajustar a política econômica ao longo deste ano. No total, a lista contempla 15 medidas, que também dependem do aval do Congresso. Entre elas, está a autonomia do Banco Central, a reforma do PIS/Cofins, a atualização da lei de telecomunicações e a extinção do Fundo Soberano.
Trata-se de uma agenda menos polêmica, capaz de receber o apoio da base aliada, uma vez que a pauta segue no viés pró-mercado e, embora não seja popular, não deve impactar na intenção de voto dos eleitores. Aliás, nos bastidores, diz-se que a desistência da Previdência está associada ao desejo pessoal do presidente Michel Temer de melhorar sua popularidade e, quiçá, lançar-se candidato no pleito de outubro.
Os ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Carlos Marun (Secretaria de Governo) seriam os encarregados em viabilizar apoio político a um eventual projeto de reeleição. Se Temer desistir da ideia, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disputam que será o chamado candidato da situação, desbancando o sonho tucano de unir o centro e a direita em torno de Geraldo Alckmin.
Enquanto absorvem as novas propostas do governo para promover ajustes na economia, os mercados domésticos tentam seguir embalados pelo contexto de recuperação econômica global. Aliás, no exterior, os negócios em Nova York e em Hong Kong voltam a funcionar hoje, dando mais ritmo aos mercados internacionais, em meio à agenda econômica esvaziada do dia.
Nesta manhã, porém, Wall Street está no vermelho, sinalizando uma volta negativa do fim de semana prolongado nos Estados Unidos após o feriado de ontem. Na Ásia, os índices Nikkei e Hang Seng lideram as perdas, com quedas ao redor de 1%, cada, o que prejudica a abertura do pregão europeu. Já o dólar ganha terreno das moedas rivais, acompanhando a recuperação no rendimento dos títulos norte-americanos (Treasuries), o que não inibe o avanço do petróleo para além de US$ 62 por barril, em meio aos sinais de oferta mais apertada até o fim do ano.
O juro projeto pelo bônus de 10 anos (T-note) volta a ser negociado acima de 2,90%, nos maiores níveis em quatro anos, antes do início do leilão de títulos do Tesouro dos EUA nesta semana. Diante do calendário econômico fraco nos próximos dias, a operação do Tesouro norte-americano pode indicar de modo mais claro quanto mais as taxas de rentabilidade dos títulos soberanos do país podem subir.
A agenda econômica desta terça-feira está sem destaques, tanto no Brasil quanto no exterior. Aqui, saem apenas indicadores antecedentes da economia (12h), enquanto lá fora, o destaque é o índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha e na zona do euro (7h), além da prévia deste mês da confiança do consumidor na região da moeda única (12h). Nos Estados Unidos, o calendário do dia está esvaziado.