Pré-Market: Foi dada a largada
Olivia Bulla é jornalista e escreve diariamente sobre os mercados financeiros no blog A Bula do Mercado.
O cenário eleitoral entra de vez no radar do mercado financeiro, com o fim do prazo para definição das candidaturas. Os investidores ainda acreditam em uma arrancada do candidato preferido, Geraldo Alckmin, e devem receber com alívio a decisão de Jair Bolsonaro, de escolher o general Hamilton Mourão como vice, e a do PT, de fechar um acordo com o PCdoB, apontando Fernando Haddad na chapa e Manuela D’Ávila como “vice de fato”.
Já o PDT de Ciro Gomes terá uma “chapa puro sangue”, com Kátia Abreu como vice, após negociações frustradas com o PSB. O partido, aliás, decidiu não dar apoio formal a nenhum presidenciável, após a investida do PT. No Centro, o (P)MDB terá candidatura própria à Presidência pela primeira vez desde 1994, com Henrique Meirelles ao lado de Germano Rigotto. Marina Silva, por sua vez, já havia definido Eduardo Jorge como vice.
Apesar da definição dos nomes, as incertezas eleitorais ainda persistem, mantendo a disputa totalmente aberta. Por ora, o mercado está mais animado com a candidatura do ex-governador de São Paulo, com o apoio do “Centrão” e a escolha de Ana Amélia como vice colocando o tucano em posição vantajosa na corrida eleitoral. O levantamento do Ibope apenas em São Paulo já colocou Alckmin à frente de Bolsonaro.
Mas ainda não há nenhuma mudança drástica no cenário de enorme incerteza que cerca a disputa para presidente do país. Da mesma forma, no exterior, nenhuma novidade em relação à guerra comercial entre Estados Unidos e China. Ao contrário, Pequim não dá sinais de que irá recuar na disputa com Washington e essa postura mantém a cautela nos mercados lá fora.
Os índices futuros das bolsas de Nova York oscilam na linha d’água nesta manhã, com um leve viés negativo, após Xangai estender as perdas e cair mais de 1%, enquanto os bancos pesam na Europa. O dólar segue forte, mas o petróleo avança e os títulos norte-americanos estão estáveis, com os investidores digerindo a decisão da segunda maior economia do mundo, que se diz pronta para uma guerra “prolongada” contra os EUA no comércio.
“Os dois números, US$ 200 bilhões e US$ 60 bilhões, não mostram um relacionamento econômico desequilibrado e interdependente, mas sim que Washington perdeu a cabeça no comércio enquanto a China mantém sua racionalidade”, diz o editorial do jornal chinês Global Times, conhecido por suas visões nacionalistas. Já o presidente Donald Trump publicou no Twitter que as tarifas estão “funcionando muito bem”.
“No mínimo, faremos negócios muito melhores para o país”, postou na rede social. Segundo ele, por causa das tarifas, os EUA poderão começar a pagar grande parte da dívida pública recorde de US$ 21 trilhões, acumulada “em muito durante a gestão Obama”. Uma das promessas de campanha do republicano foi a eliminação dessa dívida, que é financiada pelo mundo e constitui uma forma de obter recursos.
A agenda econômica desta semana no exterior reserva indicadores que podem trazer os primeiros impactos da sobretaxa norte-americana em bens chineses. Ainda sem data confirmada, a China divulga os números da balança comercial em julho, entre hoje e amanhã. Na virada de quarta para quinta-feira, saem os índice de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) chinês. Nos EUA, os mesmos indicadores saem na quinta e sexta-feira, respectivamente.
O calendário econômico doméstico desta semana também está repleto de destaques. A começar pela ata da reunião da semana passada do Banco Central, amanhã, que deve corroborar a mensagem deixada pelo comunicado, no qual os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) deixaram a porta aberta, não se comprometendo em sinalizar qualquer ação futura.
No dia seguinte, é a vez do índice oficial de preços ao consumidor brasileiro em julho. O IPCA deve mostrar desaceleração, passado o impacto da greve dos caminhoneiros, reafirmando o comportamento ainda benigno da inflação. Já a recuperação da atividade após a paralisação no setor de transporte de cargas tem ocorrido em ritmo ainda gradual.
Foi o que apontou a produção industrial de junho e as vendas no comércio varejista, a serem conhecidas na sexta-feira, devem confirmar essa percepção de retomada mais lenta, penalizadas também pelo consumo fraco e pela cautela dos empresários. Também merecem atenção os números da safra agrícola, na quinta-feira.
Hoje, tem a Pesquisa Focus (8h25) e a balança comercial semanal (15h), além do desempenho da indústria automotiva em julho (11h20), que acabaram ficando para esta segunda-feira.